Sumário
Huberto Rohden nasceu em Santa Catarina, no ano de 1893. Graduou-se em Ciência, Filosofia e Teologia pelas universidades de Innsbruck, na Áustria; Valkenburg, na Holanda; e Nápoles, na Itália. Foi pesquisador na Universidade de Princeton, nos anos de 1945 e 1946, e lecionou na American University, de Washington, para reger as cátedras de Filosofia Universal e de Religiões Comparadas.
Publicou 65 livros sobre temas relacionados à Metafísica, Filosofia, Autoconhecimento, Autocultura, Autorrealização e Religiões Comparadas. Atualmente, suas obras literárias estão publicadas pela editora Martin Claret.
Em 1952, fundou e dirigiu o Movimento Alvorada, com o intuito de disseminar a filosofia de vida por ele denominada “Filosofia Univérsica”. O intercâmbio harmônico e equilibrado entre o Eu espiritual do homem e a personalidade manifesta na existência traduz a essência dessa filosofia.
Dentre as suas obras literárias, realizou traduções do Novo Testamento, do Bhagavad Gita, do Tao Te Ching e, posteriormente, publicou ousadamente “O Quinto Evangelho”, uma tradução de cento e catorze aforismos, que foram encontrados em 1945, em Nag Hammadi, no Egito. Os aforismos traduzidos do aramaico para o português são comentados por Rohden e, em seu prefácio, ele ressalta que, em face do caráter misterioso dos textos, esses comportam explicações várias, consoante a intuição espiritual dos leitores.
Em outubro de 1981, aos 87 anos de idade, Huberto Rohden deixou este mundo. Suas últimas palavras em estado consciente foram:
“Eu vim para servir à humanidade”.
Na série Coleção A Obra-Prima de Cada Autor, da renomada editora Martin Claret, Huberto Rohden é o principal autor editado.
O consciente cósmico, idealizador da Filosofia Univérsica
Era sábado de 1974, ou talvez 1975. Em meio a uma conversa descontraída no café da manhã, meu pai me fez um convite para, no sábado à noite, ir com ele à palestra do filósofo e educador Huberto Rohden, no então Instituto Araguaia, aqui de Goiânia. Convite aceito, lá estava eu, com apenas 15 anos de idade, naquele auditório repleto de pessoas da mesma faixa etária do palestrante, com sua cabeça inteiramente alva e senhor de uma fisionomia que emanava serenidade, calma e plenitude.
Ficou vivo em minha memória porque, certamente, gerou grande impacto em minha alma quando ele iniciou sua palestra dizendo que o Cristo Cósmico, manifestado plenamente em Jesus, pode também se manifestar, em graus variados, em cada um de nós, na medida em que o “homem-ego” diminui de intensidade e “o homem-Eu” aumenta de intensidade. Para diminuir a intensidade do homem-ego, disse ele, o ser humano deve vivenciar permanentemente o autoconhecimento ao longo de sua existência.
“O nosso ego é escravizado pelos fatos, o nosso Eu nos liberta pelos valores”.
Em meio à estonteante concepção apresentada, que já se configurava como inédita para mim, ele, parafraseando Einstein, afirmou:
“Do mundo dos fatos não há nenhum caminho que conduza ao mundo dos valores, esses vêm de outra região”.
E possivelmente acrescentou algo no seguinte teor:
“O nosso ego físico-mental-emocional é, por natureza, centrífugo, extrovertido, demandando sempre as periferias do mundo objetivo. O nosso Eu espiritual é essencialmente centrípeto, introvertido, tendendo sempre ao centro da natureza humana. O UNO é do Eu, o VERSO é do ego.”
Após ter ouvido atenciosamente aquela palestra, tive ainda o privilégio de testemunhar o diálogo de Rohden com o meu pai, que, à época, como maçom e teósofo que era, comungava com ele algumas daquelas concepções, porém, com outras roupagens expositivas nos textos de seus livros já publicados: Luzes Espirituais Sobre Goiás, Cristianismo sem Rótulo e Metafísica da Maçonaria. Naquela noite, fiquei como que absorto, ruminando tudo que havia escutado e vivenciado no Instituto Araguaia, coincidentemente, a primeira escola em que estudei.
Nos dias que se sucederam, iniciei a leitura de uma das obras de Rohden que encontrei na estante de minha avó, Aída Moraes Tovar. Soube depois que ela já havia lido várias obras do autor. Terminada a leitura do livro De Alma para Alma, fui naturalmente inclinado a buscar outras obras do autor.
Resta, evidente, em meu ponto de vista atual, que a sua abordagem sobre espiritualidade, filosofia, educação e ensinamentos dos Evangelhos de Jesus Cristo transcende as concepções sectaristas e alcança uma dimensão universal. Rohden emite rara singularidade em seu modo expositivo, pois ele retira o “peso morto” das palavras e, por conseguinte, revitaliza-as com o poder da consciência expandida, decorrente do seu acesso à Dimensão Supramental, que coincide com o despertamento do seu Eu Espiritual.
Huberto Rohden sempre escreve uma nota de advertência aos leitores, antes do corpo textual da obra em si e, na advertência a seguir, pode-se antever um pouco da luz de sua Filosofia Univérsica.
Transcrito da Nota de Advertência:
A substituição da tradicional palavra latina CREAR pelo neologismo moderno CRIAR é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento.
CREAR é a manifestação da Essência em forma de existência – CRIAR é a transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o CREADOR do Universo – um fazendeiro é criador de gado.
Há entre os homens gênios CREADORES, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea, nada se aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa, mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isso, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas.
A obra “Einstein, o Enigma do Universo” foi um dos seus livros mais lidos, talvez porque, além da qualidade literária do texto, o autor tenha, durante dois anos, convivido com Einstein, na Universidade de Princeton. Nessa obra, Rohden conseguiu estabelecer um paralelismo entre a concepção einsteiniana do Universo e a Filosofia Univérsica concebida por ele, exatamente nessa época. Na visão do filósofo, Einstein era um homem “Místico-Cósmico”, apesar de não professar nenhuma religião institucional. No seu dizer, um homem amavelmente ético-humano.
Louvores e vitupérios, vivas ou vaias, simpatias ou antipatias; nada disso afeta e desequilibra a mente do homem que se harmonizou com a suprema realidade do cosmo, com o invisível UNO que permeia todos os VERSOS visíveis do Universo. Podemos dizer, então, que Einstein galgou o pináculo da Ciência porque sua alma rompeu as fronteiras do conhecido e entrou em comunhão com a Alma do Universo, conceito de Cosmo na Filosofia Univérsica de Rohden.
O equilíbrio entre os dois polos não faz do homem univérsico um homem frio e indiferente; ao contrário, o torna sereno e benévolo com todas as creaturas de Deus. O Homem Cósmico (ou Univérsico), por ter sido permeado pela luz divina do Eu Espiritual, na verdade, se torna mais intensamente humano.

Rohden afirma que Albert Einstein foi o homem mais silencioso e solitário que ele conheceu. Esse homem sempre insistia em frisar que ele entendia religiosidade como sendo o sagrado assombro em face do Infinito, mais adivinhado do que analiticamente compreendido. Tendo sido perguntado diversas vezes se a ciência leva a Deus, Einstein respondeu que a ciência pode ser uma seta no caminho que aponta para Deus, mas, “do mundo dos fatos não há nenhum caminho que conduz para o mundo dos valores, porque esses vêm de outra região”.
Os fatos finitos da ciência não podem conduzir ao valor infinito da consciência. Deveríamos optar pela consciência, porque ela conduz à realidade do valor. A ciência deve estar a serviço da consciência e os fatos a serviço dos valores.
Revisitando outro livro seu, com o título “Rumo à Consciência Cósmica”, pudemos elencar algumas ideias mestras que expressam a sua concepção sobre o Homem Univérsico (Cósmico):
- “O homem deve periodicamente fazer o seu ingresso dentro de si mesmo, na solidão da meditação, ou cosmomeditação, e depois fazer egresso para o mundo externo, a fim de testar a força e autenticidade do seu ingresso”.
- “Para fazer bem aos outros e à humanidade, não é necessário nem suficiente fazer muitas coisas, mas é necessário e é suficiente ser bom, ser realizado e plenificado do seu Eu Espiritual”.
- “Onde há uma plenitude, aí há um transbordamento. O homem plenificado pelo autoconhecimento e pela autorrealização transborda a sua plenitude, consciente ou inconscientemente, saiba ou não saiba, queira ou não queira. Essa lei cósmica funciona infalivelmente. Faz bem pelo fato de ser bom, de viver em harmonia com a Alma do Universo”.
“Um único homem autorrealizado é maravilha maior do que todas as outras grandezas do Universo”.
Huberto Rohden é elegível como um dos Libertadores da Humanidade porque, em sua existência, através do autoconhecimento e da aplicação da sua Filosofia Univérsica, despertou para a vivência do Eu, harmonizando o agir do ego em submissão à vontade daquele.
No Bhagavad Gita, Krishna (Eu Espiritual) diz a Arjuna (homem-ego) que: “O ego é o pior inimigo do Eu, mas o Eu é o melhor amigo do ego. O ego é um péssimo senhor, mas um ótimo servidor”.
As obras de Huberto Rohden atestam que ele se libertou da escravidão do ego e, portanto, deixou um precioso legado de ensinamentos, que, se estudados, aplicados e vivenciados por outros seres humanos, podem favorecer o acesso à dimensão supramental.