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Vencedor do “Oskar” da psiquiatria e espiritualidade concede entrevista exclusiva ao Liras da Liberdade

Psiquiatra Alexander Moreira-Almeida foi entrevistado pelo Liras da Liberdade para discutir os limites da consciência e o que acontece, no meio acadêmico, quando a ciência desafia a noção de morte. O pesquisador lançou, em Goiânia, o extraordinário “Ciência da Vida Após a Morte”

Psiquiatra e pesquisador Alexander Moreira-Almeida (à esquerda) é entrevistado pelo jornalista Arthur da Paz, fundador do jornal Liras da Liberdade na livraria da Feego, em Goiânia.

Sumário

No último domingo, 23, o renomado psiquiatra e pesquisador Alexander Moreira-Almeida participou de um encontro especial realizado no auditório da Casa Espírita Estudantes do Evangelho, onde lançou seu novo livro, Ciência da Vida Após a Morte. O evento, organizado integralmente pela equipe da Estudantes do Evangelho, foi marcado pela intensa dedicação dos envolvidos na promoção e condução da palestra.

Após a palestra, dr. Alexander prontificou-se a autografar exemplares do livro. A sessão de autógrafos ocorreu na livraria da Federação Espírita de Goiás (Feego), fruto de uma parceria proposta pela Estudantes do Evangelho, em reconhecimento à colaboração entre as instituições.

Somente após a sessão de autógrafos, marcada pelo bom humor, pela resiliência e disponibilidade do palestrante, que o Liras da Liberdade improvisou uma sala de podcast na livraria para conversar com o dr. Alexander. O Liras conseguiu extrair pérolas da pesquisa moderna sobre as questões da consciência humana, da relação, não resolvida, cérebro-mente e o conversamos sobre o que há de mais fronteiriço nesse campo do conhecimento acadêmico.

Pioneiro no desenvolvimento da interface científica que relaciona saúde mental e espiritualidade, o pesquisador Alexander Moreira-Almeida, professor de psiquiatria na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi o primeiro personagem entrevistado pelo jornal Liras da Liberdade em formato podcast.

Quem é Alexander?

Alexander Moreira-Almeida, em Goiânia, na Casa Espírita Estudantes do Evangelho

Dr. Alexander Moreira-Almeida é fundador e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) e ex-coordenador das seções de Espiritualidade e Psiquiatria das associações brasileira e mundial de psiquiatria. Pós-doutor pela Universidade de Duke, EUA, com ampla atuação em pesquisas que investigam a relação entre mente, corpo e experiências espirituais, ele tem contribuído significativamente para o avanço da chamada “ciência pós-materialista”.


Ele é o primeiro latino-americano a ser agraciado com o prêmio Oskar Pfister. Um dos mais importantes lauréis na área de psiquiatria e espiritualidade, concedido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Alexander receberá o prêmio, dia 17 de maio, em Los Angeles.


Até a data de hoje, ele é autor e/ou coautor de mais de 200 artigos científicos publicados e revisados. Essa produção reflete três décadas de trabalho, em que ele e seus pares refinam e ampliam, com profícua pesquisa, este campo da ciência.


Pode-se acrescentar que, nos últimos anos, ele se tornou um relevante divulgador científico em sua área. A imprensa brasileira também lançou holofotes nos trabalhos mais recentes do dr. Alexander e seus pares. Jornais como a CNN, O Globo, Folha de S. Paulo, O Estadão, Correio Brasiliense etc., apuraram a profundidade do trabalho e bateram recordes de leitura e audiência, sendo as matérias mais lidas em suas respectivas publicações desde o início deste ano.

Na plateia, evidentemente, surgiram os apoiadores gentis e os críticos ferrenhos, contudo, a seriedade da investigação iniciada por dr. Alexander pode se consolar com facilidade: ele é um dos autores mais citados no mundo em pesquisas do mesmo campo ou campos correlatos. “O espaço para a contestação é bem-vindo. É o caminho natural para se ampliar qualquer Ciência”, avaliou em off.

Durante nossa conversa, exploramos como os estudos sobre estados alterados de consciência – das experiências de quase-morte aos transes mediúnicos – podem revelar que a noção atual de “morte” seria um grande equívoco, e que a mente, conforme centenas de estudos, persiste após o fim da atividade corporal.


Podcast

O texto da entrevista foi editado para facilitar a leitura, mas você também pode conferir o áudio da entrevista👇 em formato podcast, caso prefira:

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Liras da Liberdade Entrevista com Alexander Moreira
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Entrevista

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Jornalista Arthur da Paz entrevista o dr. Alexander Moreira-Almeida, na livraria da Feego, situada na Alameda Ricardo Paranhos, em Goiânia. (Crédito: Wesley Rodrigues)


  1. Liras da Liberdade (Arthur da Paz) E se a ciência provar que a morte é a maior mentira da história? Dr. Alexander Moreira-Almeida, seja muito bem-vindo.

Dr. Alexander Moreira-Almeida Obrigado pela oportunidade e parabéns pelo trabalho que vocês têm desenvolvido.


  1. Liras – Como a ciência define o que é consciência e de que maneira os estudos sobre estados alterados – como as experiências de quase-morte, os transes e as meditações profundas – contribuem para essa visão?

Alexander A consciência é um termo com diversos significados na medicina e na filosofia, mas nós trabalhamos com o aspecto que define o “eu” – aquilo que sente, pensa, deseja. É este senso de mente, alma ou espírito, o que muitos chamam de “consciência”.

Um dos grandes desafios é justamente o problema mente-cérebro: será que essa consciência é um produto da atividade elétrica e química do cérebro, ou existe algo além que utiliza o cérebro apenas como meio de manifestação?

Essas experiências – espirituais, quase-morte, transes mediúnicos, fora do corpo – são fundamentais, pois sugerem, inicialmente, a possibilidade de uma consciência que vai além do cérebro.


  1. Liras – Estudos com neuroimagem identificaram padrões durante esses estados. Esses achados indicam que a consciência continua após a morte ou seriam apenas processos neurofisiológicos?

Alexander Desenvolvemos estudos de neurofisiologia e neuroimagem funcional para investigar o padrão de ativação do cérebro durante experiências espirituais. Em um estudo realizado na Universidade de Aachen, na Alemanha, pedimos que os participantes entrassem em transe dentro da ressonância magnética e, em seguida, que imaginassem esse mesmo estado. O padrão de ativação cerebral diferiu significativamente: quando apenas imaginavam, a ativação era diferente daquela observada durante o transe mediúnico real.

Em outro estudo, realizado nos Estados Unidos com médiuns psicógrafos, verificamos que durante a psicografia o texto produzido era mais complexo, mas paradoxalmente a ativação cerebral era menor do que em estados normais de escrita. Esse achado é compatível com a narrativa dos médiuns de que o conteúdo não é elaborado por eles, mas recebido de uma fonte externa.


  1. Liras – O senhor tem sido um importante interlocutor no debate sobre a ciência pós-materialista, que propõe que o cérebro pode funcionar como receptor da mente, que transcende a matéria. Quais são os principais argumentos e evidências que sustentam essa abordagem?

Alexander Essa abordagem pós-materialista tem suas raízes na investigação da realidade sem limitar a ciência a um materialismo absoluto. Nós fizemos parte de um manifesto por uma ciência pós-materialista, pois a ciência, em si, é a investigação da realidade, e há tanto cientistas materialistas quanto não-materialistas.

O problema foi a imposição de um cientificismo materialista que diz que só existem partículas e forças físicas. No entanto, estudos sobre a ação da mente sobre o corpo – por meio de fenômenos, como o efeito placebo e o controle de funções corporais – indicam uma ação top-down. Evidências fortes vêm de experiências como as de quase-morte e mediúnicas, onde há relatos de consciência atuando mesmo quando o cérebro não estaria funcional ou já cessado. Essas linhas de investigação ampliam o campo e possibilitam considerar que a mente pode ser algo além da mera atividade cerebral.


  1. Liras – Como o senhor percebe a receptividade do mundo acadêmico-científico em relação a esses temas?

Alexander A receptividade evoluiu bastante. Há 30 anos, quando comecei a pesquisar espiritualidade, havia muita desconfiança e hostilidade. Hoje, graças a milhares de estudos – e o Brasil tem se destacado nessa área – a espiritualidade já integra sessões em importantes associações médicas e científicas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a Associação Mundial de Psiquiatria e a Associação Americana de Psicologia. Nosso livro Ciência da Vida Após a Morte já foi lançado em mais de 20 universidades brasileiras e tem recebido excelente repercussão, inclusive internacionalmente.


  1. Liras – Imaginando um cenário onde a ciência comprove que a consciência transcende o corpo físico, quais seriam as implicações para a prática clínica psiquiátrica, especialmente em temas sensíveis como suicídio e eutanásia? E quais os desafios éticos dessa constatação?

Alexander Essa constatação teria enormes implicações. Publicamos um artigo sobre o impacto que a visão da mente como algo além do cérebro pode ter na abordagem das doenças mentais. Se entendermos que a causa de uma doença não é apenas uma questão de cérebro e ambiente, mas algo mais íntimo do indivíduo, isso pode modificar os tratamentos – podendo reduzir a ênfase exclusiva na farmacologia, por exemplo.

No caso do suicídio, estudos mostram que a crença na vida após a morte é um fator protetor importante. Se comprovado que a consciência é algo além do corpo, isso mudaria profundamente a forma como lidamos com questões como a eutanásia e outros tratamentos, gerando desafios éticos profundos, pois implicaria repensar os fundamentos da ética e da responsabilidade individual.


  1. Liras – Considerando os avanços recentes e os desafios persistentes, qual seria o principal elo perdido – o ponto crítico que precisa ser resolvido – para integrar de forma mais consistente a investigação científica e as experiências espirituais?

Alexander O primeiro desafio é tornar conhecida a enorme quantidade de pesquisas que já existem. Muitas pessoas, cientistas e religiosos, formam opiniões pré-concebidas sem conhecer o que foi realmente estudado. Nosso livro visa justamente disseminar esse conhecimento positivo e investigado.

Além disso, precisamos desenvolver modelos teóricos robustos para explicar essa interação entre mente e cérebro. Acabamos de publicar um artigo com uma proposta de modelo teórico para uma mente além do cérebro, o que pode abrir novas linhas de pesquisa e, consequentemente, novas abordagens terapêuticas.


  1. Liras – Além do livro Ciência da Vida Após a Morte, qual outra bibliografia ou recurso o senhor recomenda para aprofundar o conhecimento nessa área?

Alexander Recomendo, primeiramente, o próprio livro Ciência da Vida Após a Morte, que é conciso, com cerca de 100 páginas, mas repleto de referências – cada frase tem duas ou três referências.

Também indico nosso canal no YouTube, a TV Nupes, do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da UFJF, que conta com mais de 400 vídeos de especialistas de 15 países. Lá, na descrição de cada vídeo, há links para artigos e outras referências que formam um verdadeiro curso sobre o tema.


  1. Liras – Dr. Alexander, agradeço imensamente por compartilhar seu conhecimento. Estou certo de que os leitores sairão da entrevista com novas perspectivas sobre o tema. Grato pela sua participação e por sua contribuição para o avanço desse debate tão transformador.

Alexander Obrigado, Arthur. É fundamental que mais pessoas tenham acesso a essas pesquisas. Precisamos derrubar o monopólio de uma visão estritamente materialista e disseminar ideias que permitam a autocrítica e a reflexão. Estamos trabalhando para mudar o Zeitgeist e, com isso, transformar a sociedade. Muito obrigado.


Livro: Ciência da Vida Após a Morte

Capa do livro

O livro Ciência da Vida Após a Morte nasceu como fruto de extensa pesquisa. A obra que investiga cientificamente a possibilidade da sobrevivência da consciência humana após a morte, explorando evidências empíricas e diferentes abordagens filosóficas e religiosas sobre o tema.


Este livro analisa as evidências científicas sobre uma das questões mais desafiadoras e difundidas ao longo dos tempos, culturas e religiões: a sobrevivência da consciência humana após a morte. Inclui:

💡
• Revisão abrangente da crença na sobrevivência pessoal na atualidade, na história das religiões e da filosofia;

• Refuta argumentos históricos e epistemológicos equivocados contra a noção de sobrevivência após a morte (por exemplo, ser algo irracional, puramente religioso, impossível de ser abordado pela ciência, que foi provado falso pela neurociência);

• Discute o que constitui evidência empírica para a sobrevivência após a morte;

• Revisão geral das evidências científicas sobre a sobrevivência da consciência humana após a morte, com foco em estudos sobre mediunidade, experiências de quase morte e fora do corpo e reencarnação;

• Principais hipóteses explicativas alternativas à sobrevivência após a morte;

• Principais barreiras culturais para um exame justo das evidências disponíveis para a sobrevivência da consciência após a morte.

Fonte: Vetor Editora

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