Desde cedo, é preciso aprender a se situar: na família, na escola, na empresa, o que moldará amplamente nossa “posição social”. Essa necessidade parece responder a uma insegurança fundamental: a de ser deslocado, ou pior, substituído em uma existência na qual somos apenas passageiros. Cada vez mais, isso também assume a forma de uma imposição social. A sociedade de castas ou classes do passado deu lugar a uma verdadeira guerra por posições, onde cabe a cada indivíduo tentar melhorar sua situação. Mas como alcançar isso? É necessário abrir mão de nossas singularidades para se integrar?
Cada um busca seu lugar
Sentir-se em seu lugar... ou não. Essa inquietação aflige nossas sociedades. Ela não diz respeito apenas à posição social, mas a algo mais íntimo, ligado ao sentimento de identidade. (Cécile Peltier)
“Quando entrei no primeiro ano em Perreux-sur-Marne, as aulas já haviam começado. A professora decretou que eu não saberia ler e quis me mandar de volta para o jardim de infância. Minha mãe insistiu e me fez estudar em casa. Terminei como o primeiro da classe”, relata Walid Hajar Rachedi, 43 anos, romancista e cofundador do veículo Frictions. Esse episódio marcou um relacionamento ambivalente com a escola: “É um lugar que me permitiu encontrar meu espaço na sociedade, uma identidade. Mas também um local onde senti fortemente o desprezo de classe e o racismo.” Aluno exemplar entre os durões de sua comunidade e estudante bolsista em uma escola de negócios, ele carrega do seu percurso o sentimento de nunca estar completamente no lugar certo. Isso trouxe um lado negativo — um sentimento de divisão interna —, mas também algo positivo: “Foi essa questão do deslocamento, da dissonância, que despertou minha vontade de escrever.”
Em graus variados, nossas histórias têm algo em comum com a de Walid Rachedi [1]. Desde cedo, precisamos encontrar nosso lugar dentro de um corpo, de uma família, de uma escola, de um país... Buscamos nos ajustar a espaços, culturas e grupos sociais. Essa busca responde a uma insegurança fundamental, como sugere a filósofa Claire Marin no sensível livro Estar no seu lugar (Être à sa place, Éditions de l’Observatoire, 2022): o medo de ser deslocado ou, pior, substituído, em uma existência onde somos passageiros. Cada vez mais, essa questão assume a forma de uma imposição social: “permanecer em seu lugar”, “encontrar um lugar”, “ter um bom lugar”, “colocar alguém em seu lugar”... São expressões presentes em todos os lugares. Como explicar essa obsessão contemporânea pelo lugar?