Sentido!!!
Em 1576, em seu Discurso da Servidão Voluntária, Étienne de La Boétie buscava entender por que tantas pessoas se submetem a um poder que não apreciam. Nada impede de inverter a questão e perguntar por que, às vezes, gostamos de alguém que é nosso superior na hierarquia, sem que sejamos necessariamente masoquistas... Por que amamos uma figura de autoridade? Eis algumas respostas, nem exaustivas nem exclusivas.

A primeira razão é simples: não refletimos. Se La Boétie apontava a força do hábito, os psicólogos atuais culpam os vieses cognitivos — esses atalhos automáticos do pensamento, que usamos quase sem parar e sem perceber, e que nos fazem julgar tudo e qualquer coisa de maneira precipitada. O “viés do mérito” seria o principal culpado. O que ele nos sussurra? Que ninguém se torna chefe por mero acaso! Alguma justiça deve haver! Esse viés entra em ação especialmente quando o chefe é um sujeito simpático, que não faria mal a ninguém, mas que seus subordinados jamais conseguiriam detestar — seja ele Abracurcix, o valente Gerber cuidando de sua tropa na gendarmaria de Saint-Tropez, ou até mesmo, retrospectivamente, o tão simpático Jacques Chirac com sua cabeça de vitela a tiracolo (tête de veau). É tautológico: gostamos do chefe porque ele é o chefe. Ele deve ser mais competente do que parece. Se é bonachão e não faríamos melhor do que ele, que fique com as rédeas. Quando não confiamos em nós mesmos, ouvimos.