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Entrevista com Perrine Somon-Nahum: “Vestimos a democracia com roupas grandes demais para ela”

De onde vem a demanda por autoridade na política? De uma desvalorização silenciosa de tudo aquilo que constitui o alicerce democrático: o tempo longo, o debate, o compromisso. Todos esses elementos precisam ser urgentemente reabilitados, explica a historiadora Perrine Simon-Nahum

Diretora de pesquisa no CNRS, especialista em filosofia da história e na história do judaísmo, Perrine Simon-Nahum publicou, entre outras obras, As Desrazões Modernas (2021), Sabedoria do Político. O Devir das Democracias (2023) e A Nova Causalidade Diabólica (2024), todos pela Éditions de L’Observatoire.

Abstenções em massa, resultados impressionantes dos partidos de extrema-direita, manipulações nas redes sociais... Já não se conta mais o número de golpes desferidos contra as democracias, esses regimes antigos cada vez mais enfraquecidos e desamparados diante de seus rivais autoritários, tidos como fortes e eficazes. Como elas podem resistir? Essa é a pergunta que inquieta a historiadora Perrine Simon-Nahum, que, em Sagesse du politique. Le devenir des démocraties (Sabedoria do político. O futuro das democracias, publicado pela editora L’Observatoire, 2023), assumiu a missão de mostrar que aquilo que tomamos como fraquezas das democracias são, na verdade, suas forças... e de fazer um apelo a certa indulgência diante desses regimes dos quais exigimos demais.

Este texto pertence à série “De onde vem o desejo por autoridade” (As Ciências Humanas)
As Ciências Humanas: de onde vem o desejo por autoridade?
A diretora severa, o pai incontestável, o chefe todo-poderoso – será que os “durões” são relíquias de um passado autoritário já superado. Ou não? Enquanto celebramos a horizontalidade, uma parte profunda de nós parece clamar por ordem e estrutura, um anseio que gera líderes autoritários globalmente.

1) A senhora explica que uma das razões para o apelo ao autoritarismo é a desvalorização da democracia. O que quer dizer com isso?

Para responder, é preciso voltar ao Relatório Beveridge e à definição que este oferece, em 1942, do Estado de bem-estar social. Naquele momento, impõe-se a ideia de que as democracias devem oferecer aos cidadãos não apenas a promessa de uma liberdade política, mas também a ideia de um futuro assegurado pelo bem-estar econômico e social.

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