Assim como temos sonhos de necessidades — por exemplo, se sonhamos que tomamos água ao estarmos dormindo com sede, ou sonhamos com um incêndio se uma luz nos atinge em repouso — temos sonhos mais complexos, que não vêm dessas vontades orgânicas mais simples, mas de desejos que não conhecemos em consciência ou vigília. Trata-se de desejos outros, formados na infância, na parte da vida de 0 a 6 anos, geralmente, da qual não lembramos, ou dentro da qual temos lembranças muito episódicas, mais ou menos distorcidas em relação aos fatos.

A tese freudiana, destarte, é a de que esses desejos inconscientes, em sua maioria advindos da experiência infantil primeira, atuariam também na formação onírica. Em todo caso, não aparecendo de forma tão direta quanto as vontades ou necessidades, mas sendo distorcidos, para que deles não tenhamos consciência — mesmo que venham à tona durante o sono, quando nossas defesas estão rebaixadas, e o inconsciente pode, porquanto, digamos assim, falar mais alto.

Sonhamos, então, com um homem com cabeça de cavalo, uma sereia cantando ópera, uma pessoa conhecida vestida no estilo de outra pessoa, e assim por diante... Ou seja, o sonho condensa ou desloca as imagens — especialmente visuais — sobredeterminando-as, no que Freud chamou de “consideração pela figurabilidade”. Podemos escutar isso, por exemplo, ao atendermos um paciente em análise e percebermos que, em termos de imagens, assim como de conteúdos, as formações oníricas são sobredeterminadas.

A arte de Carlos Elias faz o mesmo, mas não simplesmente pela visão de que a arte poderia fazer o mesmo que o sonho, como se projeta em uma obra surrealista, por exemplo.
Penso que, na arte de Carlos Elias, esse aporte se intensifica, tornando-a singular e densa em termos imagéticos, cromáticos, mitológicos e arquetípicos; sendo, dessa forma, aquilo que aparece ao observador, em geral, como sua marca e esplendor.
E por ver e reconhecer, com admiração, tal caráter estilístico-estético de seu processo (e resultado criativo), e o aporte psicanalítico riquíssimo aí presente, para proporcionar uma bela discussão em crítica psicanalítica de arte, estou a produzir um livro que fundamenta a tese ora apresentada.
Enquanto isso, convidamos vivamente o leitor a conhecer a arte de Carlos Elias, para que possa se encantar com a sobredeterminação — eu diria arquetípica — de sua arte... e com o que mais for...









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