“O fruto do silêncio é a oração; o fruto da oração é a fé; o fruto da fé é o amor; o fruto do amor é o serviço; o fruto do serviço é a paz”, Madre Teresa de Calcutá.
I) Madre Teresa de Calcutá – A Missionária da Caridade
No século XX, quando o materialismo se agitava em meio à fragmentação da mente da maioria dos homens, surge uma pequena figura vestida de sári branco com bordas azuis, cujas mãos enrugadas revelam sua disposição para o serviço e orações em favor das pessoas, sobretudo as mais sofridas. Madre Teresa de Calcutá, nascida Agnes Gonxha Bojaxhiu, em 26 de agosto de 1910, na então Macedônia Otomana, foi uma alma diamante que adentrou a dimensão supramental e, a partir da vivência metaegoica, estabeleceu em si a sublime alquimia de converter sua compaixão pelo sofrimento humano em “Ciência do Coração” – a caridade.
II) Um Chamado Dentro do Chamado
Agnes, ainda jovem, sentiu o chamado interior, que a guiou para uma vida marcada pela fusão de oração com ação. Aos 18 anos, ingressou no convento de Loreto, na Irlanda, para depois ser enviada à Índia. Aos 19 anos, chegava a Calcutá, onde lecionou história e geografia para as filhas das elites, protegidas pelos muros do convento. Mais tarde, ela descreveria que, ao se deparar com a miséria avassaladora do lado de fora dos portões, sentiu o que identificou como “um chamado dentro do chamado” e teve a convicção plena de que sua missão não era educar afortunados, mas servir “os mais pobres entre os pobres”.

Em 1948, com a permissão do Papa, passou a vestir um sári branco com bordas azuis, modelo de roupa que adotaria pelo resto da vida. Em 1950, fundou as “Missionárias da Caridade”, ordem dedicada a realmente servir os mais necessitados. Aqueles que o mundo preferia ignorar foram abraçados por ela.
As pessoas que conviveram com Madre Teresa diziam que ela era uma mulher pequena, de olhar penetrante e voz suave, mas que tinha uma determinação inabalável. Seu trabalho missionário não se limitou a ser apenas assistencialista, mas um sacramento vivo da presença de Cristo na Terra, em conformidade com sua máxima: “a pior pobreza é a de quem não é amado”.
Sua peregrinação missionária não ficou restrita às vielas de Calcutá: ela se fez presente em hospitais, leprosários, abrigos e lares de dezenas de países. Entretanto, sua grandeza não pode ser aquilatada apenas pela quantidade de suas obras, mas principalmente pela qualidade da sua presença e do modo como tratava os mais necessitados. Era muito atenciosa e não se deixava cair em armadilhas do ego, que, em geral, faz projeções e julgamentos para justificar o sofrimento alheio. Numa palavra, ela tocava a alma antes de tocar o corpo. Agnes, por assim dizer, encarnou a lição do Cristo: servir movido por genuína compaixão é um dos maiores atos de grandeza espiritual.

III) Batalhas Invisíveis Travadas por Madre Teresa
Em seu íntimo, Agnes travava batalhas invisíveis. Cartas encontradas após sua morte revelaram, de modo análogo a outras almas que realmente avançaram na senda, que ela passou por longos períodos de “noite escura da alma”. Mas não retrocedeu: avançou para dentro do seu interior mais profundo, para encontrar a sua essência espiritual e, a partir dela, pautar a sua existência como missionária da caridade.
IV) Prêmio Nobel da Paz
Em 1979, Madre Teresa de Calcutá recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, na Noruega, como reconhecimento e confirmação de que a paz não é simplesmente a ausência da guerra, mas a presença ativa do amor que a fez ultrapassar o modo de vida padronizado na lógica das personalidades que orbitam prioritariamente o pedestal do ego.
O Comitê Nobel destacou que Madre Teresa era um símbolo vivo de compaixão, serviço e amor ao próximo. Para ela, cada vida humana possuía dignidade intrínseca, independentemente de religião, nacionalidade ou condição social.
Pelo fato de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz, a atenção internacional voltou-se para a pobreza extrema na Índia e em outras regiões esquecidas. Sua vitória também gerou discussões entre intelectuais e organizações de ajuda humanitária, no sentido de encontrarem o equilíbrio entre ajuda imediata e políticas públicas.

Ela deixou o plano existencial terrestre em 5 de setembro de 1997, e sua vida foi um exemplo do quanto o ser humano que vai vencendo-se em suas batalhas interiores, não apreciáveis nas vitrines do mundo regido pela lógica egóica, pode realizar obras que revelam que a personalidade humana, quando consorciada com o “Eu Divino” (Self), latente em todos os humanos, torna-o manifesto e tangível em diversos matizes, nas diversas searas do bem que regenera a humanidade, muito além das limitações imaginadas pelas mentes ainda presas nas redes dos pensamentos condicionados.
Madre Teresa de Calcutá, ao passar pela noite escura da alma e atravessar o deserto, intensificou a luz crística irradiada por sua alma diamante em favor de toda a humanidade.