Estamos vivenciando uma época em que tudo é válido para não entrarmos em contato com os próprios sentimentos, com as perdas, com as dores internas, e, consequentemente, com as memórias ruins... Trata-se de um novo Zeitgeist vivenciado por nós; uma nova atmosfera; um momento validado pelo mundo on-line, pelo comércio voraz, predominando, assim, a ausência de vínculos; fala-se de um mundo de aparências, artificial.
Se não pensarmos direito a respeito disso, a tendência é acabarmos tomando atitudes equivocadas quanto ao nosso modus vivendi, uma vez que a percepção de nós mesmos e o senso de nós se alteram; tal quadro pode gerar uma auto notação falha... e as consequências tendem a ser desastrosas, uma vez que acabamos nos envolvendo com pessoas ou com coisas que causam mais prejuízos a nós do que benefícios.
Estas atitudes equivocadas que talvez advenham são bem explicadas pela Terapia Cognitivo Comportamental, a qual estuda o tema a fundo, e o explica eficazmente. Elas são construídas e mantidas através de pensamentos ruins, tóxicos, ou disfuncionais, como: "Ah, eu não consigo fazer nada bem feito", ou, "Não consigo largar o meu vício", ou: "Não consigo me relacionar bem com alguém". O fato é que as consequências de se pensar assim geram a incapacidade de gerenciamento dos próprios sentimentos; como a insegurança, a ansiedade, a angústia, a raiva, etc. – neste mundo artificial, é muito mais lucrativo se comportar assim, você concorda? Pois, ansiosos, na busca de soluções milagrosas, consumimos, aleatoriamente, o tempo todo, e não exercitamos o direito inalienável de pensar...
A TCC explica que as pessoas que desenvolvem, e que têm o predomínio de pensamentos limitantes, ou malfuncionantes, são mais vulneráveis, e, muitas vezes, aceitam as crenças nucleares, ou julgamentos sobre si, como ideias absolutas. Este modo de pensar, na maioria das vezes, foi construído na historia infantil, e ficam arraigados, moldando o olhar que a pessoa tem sobre si mesma, sobre os outros e o mundo.
Então, é preciso compreender o que está se passando consigo; e isto envolve relembrar as memórias ruins da própria vida, as quais estariam gerando formas de pensar e de sentir insalubres. Antes de tudo, é necessário reconhecê-las, avaliar os próprios pensamentos e sentimentos para então validá-los, ou não - se estiver sofrendo muito com isto também, busque a ajuda de profissionais da saúde mental.
Contudo, veja bem, pensar sobre si mesmo não é o "fim do mundo". Existem situações muito mais difíceis do que isso, como passar fome, literalmente, por exemplo... E, por falar em fome... fazendo uma alusão à canção, O ronco da cuíca, da autoria dos compositores Aldir Blanc e João Bosco, em uma de suas frases magnificentes, eles dizem assim: "A fome tem que ter raiva pra interromper...".
Pensando na frase da canção citada, do ponto de vista psicológico, perguntas basilares seriam muito importantes para fazer a si mesmo: "Quem sou eu, o que quero para mim, e o que é preciso ser interrompido na minha vida para eu que eu tenha o mínimo de paz e ser finalmente feliz?" Nesse sentido, a "raiva" poderia ser o motor para matar a sua "fome"... Pensando dessa maneira, então, pergunto: e você, tem "fome" de quê?
Enfim... Viver a própria vida nunca é fácil para ninguém. Mas, vai uma dica: tenha cuidado com os "alimentos" que estão mantendo a sua mente "vivaz" - ela não pode ser comparada com uma "caçamba de lixos".