O dia havia amanhecido muito quente; contudo, as nuvens já estavam se aninhando, feito galinhas, para, finalmente, desovarem os seus pingos de chuva, após cento e cinquenta e um dias na pura sequidão.
Como sempre, as janelas do meu quarto viviam escancaradas, e, um belo dia, o Sr. Tempo passou à frente de uma delas e estacionou. Eu me assustei... fitei-o! Ele me perguntou: "O que queres? Pode pedir o que for; mas pense bem." Respirei profundamente e já fui logo respondendo: “Sr. Tempo, obrigada por vir até mim! Eu quero prosperidade e paz”. Ele responde: "Tudo certo. Então, construa o que desejas." Intrigada, eu perguntei: "Mas, o que o Sr. pode fazer por mim? Caetano Veloso disse que Tu És tão constante, e, ao mesmo tempo, inventivo..." - "Ele está correto. Confie em ti mesma - fazes o que queres, viva a vida, e seja grata a ela. Também, seja honesta e responsável. Contudo, encontre sempre prazer e leveza na sua existência: seja criativa com ela, e se prepare para o que virá; também, alimente a sua fé, e acredite sempre na humanidade. Por fim, prospere."
Fiquei mais intrigada ainda: parecia que eu estava perdida com todo aquele excesso de estímulos... Então, me arrisquei: "Mas eu sou humana, Sr. Tempo... e erro também." - "Entendo bem... Foi por isso que disse para aumentar a sua fé, ser criativa e sempre crer na humanidade... Somente assim é possível reparar o que for necessário; e, ainda, poderás dar o perdão a quem te pedir, ou não. Mas, veja bem, querida, saiba bem de seus limites, e, sempre que puder, aprenda: abra o seu coração para as boas novidades que podem ter a ver contigo, ou não. Enfim... siga o seu coração, sustente os seus desejos; entretanto, na maioria das vezes, respeite a sua razão."
Eu fiquei encantada com a resposta do Sr. Tempo e disse: "Eu não imaginava que Tu fosses sensível também..." - "Sou; mas também sou inexorável, e não 'limpo a sujeira' de ninguém... então, faça o que digo, pois, somente assim, eu poderei te acompanhar tranquilamente. Ou seja, entre em acordo Comigo e contigo, e nunca me tratará como Teu inimigo." - "Mas, Sr. Tempo, por que falou comigo, se é de Tua natureza a constância? E se eu não quisesse que o Sr. aparecesse para mim?" - "Oras, minha querida! Não fui eu quem deixou a porta aberta... e, também, não apareci para ti... Eu sou o seu inconsciente: eu apenas sou o que tu queres."
Admirada, e mais assustada ainda, queria perguntar mais e mais... Entretanto, o Sr. Tempo foi austero, e me disse que precisava que eu fechasse a minha porta, ou janela, pois já sabia o que eu mesma queria...
Senti um cansaço imenso. Dormi. Depois, acordei de um sono muito longo e profundo! Eu, definitivamente, neste novo momento, não me lembrava do experenciado...
Um vento forte anunciava uma "terrível" tempestade... mas eu fechei a porta a tempo...
