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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Sobre a tela Morte de um toureiro, de Carlos Elias Silva

O psicanalista Edson Manzan Corsi escreve sobre peça artística muito sofisticada e instigante, dentro do labor complexo e forte da arte do goiano Carlos Elias Silva

Morte de um toureiro, de Carlos Elias Silva

A tela Morte de um toureiro, do artista goiano Carlos Elias Silva, convida-nos a uma apreciação complexa, visceral e esteticamente riquíssima. Para começar, é genial a condensação, ou sobreposição, entre a identidade do toureiro, seu corpo, seu sangue e seus instrumentos característicos "dentro" de uma mancha em vermelho muito forte, seja cromática, seja simbolicamente. Vermelho que contrasta, a meu ver, especialmente com os tons de azul e amarelo, concedendo à morte catastrófica o seu teor traumático; ao mesmo tempo que anônimo. Trata-se de um dentre os episódios catastróficos que permeiam ou podem permear a vida de todos ali no público, por exemplo, e representa-se "um" toureiro, diluído nessa função substituível de seu ofício, e, também, na densidade de seu próprio sangue.

O público, genialmente colocado sem expressões faciais definidas, parece dividir-se entre o êxtase, espécie de gozo trágico, se pensarmos, em tais vias, nos efeitos sensoriais causados pelas tragédias gregas, ou shakespeareanas, conforme o leitor pode consultar sobre a depuração (catarse) do medo e da compaixão, trabalhada na poética de aristóteles; e certa melancolia, ante a "absurdidade" da vida, sua aleatoriedade, ausência de sentido simplesmente dado e crueza - que podem atracar-se a todos nós, imprevistamente, como o toureiro se viu atracado nos chifres do touro, e, como a tela ressalta; totalmente destruído.

O azul, sabe-se, configura convite simbólico-estético aos laivos melancólicos, em seu teor de "blue's". O amarelo parece situar-nos entre o susto, o medo e a resignação, espraiado, em minha visão, qual lona intensa e estendida sobre a tela. Ali depositada para ressaltar, "aclarar" a cena, colocá-la diante de nós, e fazer com que exercitemos nossa aceitação diante do fato "dado".

Em todo caso, estas são apenas considerações iniciais sobre a pletora simbólica e artística que o trabalho ora brevemente discutido nos oferece. A arte de Carlos Elias possui este teor: de ser um bálsamo e um tesouro de densidade e bom gosto, no âmbito da arte goiana (e brasileira).

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