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Resenha: jornalista Amanda Costa lança livro que eterniza os fazedores de cultura goiana

Livro de jornalismo literário, intitulado “Perfis de quem vive a cultura”, mergulha em dez artistas e agentes culturais de Goiás, revelando trajetórias que entrelaçam memória, identidade e resistência cultural. Amanda dá rosto, nome e humanidade para quem produz o tecido da memória cultural goiana

Jornalista Amanda Costa (Crédito: Divulgação)

Tive a oportunidade de conhecer a jornalista Amanda Costa em... digamos, um retiro espiritual... Estávamos na Fazenda Chão de Estrelas, na cidade de Faina, no famoso sítio Campo da Paz. Nos dias 22, 23 e 24 de agosto, tive a alegria de conhecê-la, experimentar seu espírito combativo e altivo nas rodas de conversas, onde ela tomava a palavra e... para mais que cutucar problemas, ela derivava soluções para as questões de comunicação das quais carece o Movimento Espírita do Estado de Goiás.

Jornalista Arthur da Paz segura o livro de Amanda Costa

Em suas observações, tão cheias de força e convicção, naqueles três dias que estive com ela, ficou claro: diversidade, inclusão, amplificação das vozes inaudíveis e visibilidade para as ações que ninguém vê, são pautas que inquietam a jornalista atenta às necessidades e melhorias do nosso mundo.


Naturalmente, a jornalista brilhou com suas contribuições. Comprei seu livro, ali mesmo. Edição independente. Consagrando personagens e ícones da cultura goiana, muitos que conheci pessoalmente e pude lê-los pelo olhar da jornalista.

Amanda Costa, em Perfis de Quem Vive a Cultura, estreia no gênero de livro-reportagem literário com uma força rara de sensibilidade e compromisso social. A autora, jornalista de sólida formação e trajetória no jornalismo literário, entrega ao leitor um mosaico de personagens que, cada um à sua maneira, fazem da cultura um modo de existir e de transformar realidades.

O livro reúne dez perfis — entre artistas, gestores, pesquisadores e ativistas — construídos com a leveza da narrativa curta e a densidade do olhar jornalístico apurado. Cada retrato ultrapassa a mera descrição biográfica para se tornar encontro humano, no qual o texto, repleto de falas vivas e memórias partilhadas, se aproxima mais da crônica afetiva e do testemunho cultural do que de um registro meramente informativo.

Entre os personagens estão Carlos Brandão, produtor e agitador cultural que moveu projetos e palcos por Goiás; Maneco Maracá, palhaço e filósofo do picadeiro que fez do circo um instrumento de inclusão; Valéria da Congada, guardiã das tradições afro-brasileiras, símbolo de resistência e fé; Leo Bigode, o “doutor da produção cultural”, à frente da Monstro Discos e do Goiânia Noise Festival; Deolinda Taveira, restauradora e defensora incansável do patrimônio histórico; André Franco, que encontrou no artesanato um oxigênio vital; além de nomes como o teatrista Eduardo de Souza, Flávia CruvinelDécio Coutinho e Eloá Nunes, que transitam entre palcos, salas de aula, políticas culturais e música, reafirmando a diversidade da cena goiana.

O livro se estrutura como um tecido colorido, no qual cada perfil é um retalho costurado com memórias individuais e coletivas. As falas dos entrevistados, reproduzidas em itálico, simulando um manuscrito no layout de cada “conto”, reforçam a oralidade e o pertencimento dos personagens, criando uma ponte entre o leitor e o universo íntimo dos retratados. A narrativa, por vezes poética, não abandona a clareza jornalística, equilibrando emoção e informação.

Mais do que destacar feitos artísticos, Amanda Costa evidencia o humano por trás da arte: a luta diária contra a invisibilidade, os desafios da sobrevivência em um país que pouco valoriza a cultura, mas também a esperança que move cada gesto criativo. O resultado é uma obra que se aproxima de clássicos do perfil jornalístico, dialogando com a tradição de Realidade e com mestres como Gay Talese, mas enraizada no cerrado goiano.

No prefácio, ressalta-se que a autora é uma “contadora de histórias que sensibilizam”. A obra cumpre essa promessa: ao contar as trajetórias desses fazedores de cultura, ilumina a importância da memória coletiva e da preservação simbólica de nossas raízes.

A escritora escreve a dedicatória a este quem vos fala!

Perfis de Quem Vive a Cultura é, portanto, um livro necessário. Mais do que registro, é reconhecimento. Mais do que celebração, é chamado à resistência. Em tempos de precarização da cultura e do próprio jornalismo, Amanda Costa se impõe, e reafirma, com sua escrita, que contar histórias é um ato também político, capaz de salvar mundos — como lembra a epígrafe de Eliane Brum que ela escolheu para abrir seu livro.

Quando Amanda cita o brihantismo de Brum na frase “o mundo é salvo todos os dias por pequenos gestos”, é como se ela colocasse, quietinha e humildemente, o seu livro Perfis, na prateleira de nossas bibliotecas. Contudo..., mal sabe ela que, se pequenos gestos salvam o mundo, a bela inocência de sua iniciativa em Perfis, haverá, necessariamente, de inspirar inúmeras outras “salvaturas”.

Ah... este mundo! Que carece desse olhar tão humano e tão seguro dos caminhos que valem a pena ser perseguidos. Que bom encontrar a artista, a escritora, a sonhadora carregando essa bandeira de esperanças a flamular sonhos em uma pequena obra, de tão positiva intenção.

Obrigado, Amanda! Imagino a alegria dos personagens perfilados, tão pura e honestamente no livro Perfis. No fim, você acertou, Amanda. É sobre gente, sobre as pessoas. Amanda plantou – em dez peitos –, a felicidade e, por certo, merecerá colher um bocado de sorrisos de cada leitor.


Visite o perfil dela no Instagram: https://www.instagram.com/amandacostajornalista/

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