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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Relações abusivas e a metáfora do sapo na panela

A psicóloga, música e escritora Ana Paula de Siqueira Leão nos leva a um percurso psicanalítico, ao considerar as relações abusivas mediante a metáfora do sapo na panela.

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Outro dia, compartilhei nas minhas redes sociais um pequeno vídeo no qual associo a metáfora do sapo na panela a relacionamentos abusivos. Vou estender o tema um pouco mais aqui. Mas, por que será que esse assunto ainda é tão discutido? Penso que falar disso parece ser redundante... prometo não ser pedante...

A história da metáfora do sapo na panela conta que, um sapo, quando é colocado numa panela com água fria, se aquece aos poucos, ele não consegue perceber o perigo e acaba sofrendo um cozimento. Entretanto, se o animal é jogado em água fervente, ele pula para fora imediatamente para sobreviver.

Se um relacionamento de casal, de amizade ou familiar está provocando mais ansiedade e angústia, na vida, do que prazer e alegrias, é preciso dar um stop - e mudar em direção ao bem à própria experiência.

A confiança mútua é fundamental para o sustento da vida afetiva, na arte de conviver. Relacionar-se não é fácil, pois exige tolerância, respeito e muita consideração. Mas é essencial que o casal fale de suas fantasias também. Brincando com as palavras aqui: o apaixonamento é a "base" que se passa nas unhas, e o amor é o "esmalte" que colore, e que sustenta tudo. Dentro da balsa e dos bálsamos do clima de confiança, é possível encontrar produtividade, objetividade e esperança nessas relações: é preciso fazer, criar algo de bom com isso, levando em conta a autonomia de cada indivíduo, no casal, caso contrário, a situação se torna um vício afetivo de um amor que pode parecer inabalável.

Há pelo menos uma vítima e um culpado envolvidos numa relação abusiva. Pensando no papel que o(a) sofredor(a) estaria “representando”, a Psicanálise explica bem o tema, e preconiza a importância das vivências advindas do mundo infantil de uma pessoa, as quais se repetem na vida adulta. Repetições automáticas do inconsciente criam padrões de comportamentos nos quais esses podem oferecer algum tipo de gozo, sendo assim, é preciso compreender o que está se passando com quem não consegue sair do seu papel de "vítima"; isso envolve um processo profundo e complexo de análise, contudo, daria a possibilidade ao sujeito de assumir o seu próprio desejo, ao invés de sustentar o papel de objeto do gozo do outro.

Retornando à metáfora do sapo na panela, então, convido à reflexão. Sabemos que o tempo não espera ninguém, e o desejo precisa ser realizado... É preciso que a pessoa comece a ter consciência de si mesma, para conseguir separar-se da condição de objeto de uso e de maus tratos do(s) outro(s). Quer dizer: quando a água da relação começa a se esquentar, no sentido de torná-la tóxica, e os problemas, quando não são bem resolvidos - seja no sentido de manter a relação saudável, ou não - começam a aumentar e, daí para frente, começa-se a partir para o desrespeito, a desconsideração e manipulações mil...

Não vale a pena sustentar uma relação sozinho(a). Preserve-se e não perca a esperança - pule da panela antes que a água da sua relação ferva.

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