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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Quem mexeu no meu queijo... e na saúde mental corporativa?

Neuropsicanalista Marcela Barros estreia coluna no Liras da Liberdade. Ela alerta para a exaustão profissional e o impacto financeiro dos transtornos mentais. Para Marcela, é urgente um pacto entre empresas e colaboradores para ambientes de trabalho saudáveis

Sumário

E quem diria que requintados currículos não seriam suficientes para combater a produção em massa de profissionais no limite da exaustão.

O maior combate deixou de ser técnico. E o mais irônico é que nem estamos falando do CHA (competência, habilidade e atitude), tão requisitado e explorado nas últimas décadas.

Chegamos a um estágio onde o desequilíbrio de um pode colocar em cheque o castelo do outro.

Organizações que, só agora, começam a se atentar para o tamanho da ameaça oculta e interna que terão que combater entre suas próprias paredes.

Estamos falando de combos emocionais variantes, de um aglomerado de pessoas que, há décadas, pedem socorro, reivindicam direitos e clamam por direção.

Profissionais que, hoje e provavelmente em muitos amanhãs, terão que lidar com a consequência de suas faltas técnicas e excessos comportamentais. E assim, chegamos a uma etapa onde, agora, se discute quem cuida de quem.

O fórum econômico mundial estima que os custos com transtornos mentais podem atingir US$ 6 trilhões até 2030. Considerando que a Ansiedade e depressão já custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão em perda de produtividade.

Sem produtividade, sem lucros. Assim, já dá para entender que a conta não fecha há anos. Isso que, só no Brasil, em 2024, mais de quatrocentos mil afastamentos por transtornos mentais foram registrados, conforme constatado pelo Ministério da Previdência Social.

Só para contextualizar mais um pouco: são pelo menos oito horas mensais, por trabalhador, que deixa de comparecer ao trabalho por adoecimento emocional. Um absenteísmo desenfreado que deixa rastros intrigantes.

Se não há trabalhador para engrenar a máquina, quanto dinheiro tem sido deixado à mesa das empresas que ainda preferem remediar em vez de prevenir?

Colaborador ausente, produtividade ausente e resultados... dá pra imaginar.

É passada a hora de mexermos no "queijo", em dinâmicas ultrapassadas que insistem em colocar o colaborador na posição de máquina pensante desprovido do sentir.

Das infinitas interpretações que esta premissa possa gerar, ainda assim ouso acreditar que chegaremos num futuro, não tão próximo, onde questões como saúde mental, no ambiente de trabalho, não sejam algo a ser cobrado, como os lembretes de "não jogue papel no chão" ainda tão necessário nos banheiros das organizações.

Que o óbvio não careça de tanto palco para ser respeitado. Que o outro não precise reivindicar o básico do humano.

Que investir em saúde mental, no trabalho, não seja interpretado como custo, mas como estratégia para produtividade, lucro sustentável, como senso de humanidade.

A questão é: de quem é o queijo?

A quem cabe a responsabilidade de cuidar de quem?

Num cenário onde o equilíbrio emocional vem sendo negociado à vista de lucros e metas, cabe tanto às empresas quanto aos colaboradores fazerem sua parte. Enquanto as organizações precisam abandonar a visão míope de tratar a saúde mental como custo, investindo de forma preventiva e genuína, os profissionais devem assumir o protagonismo de suas emoções fazendo o dever de casa - foco no autoconhecimento e agilidade emocional.

Só assim, em um pacto de responsabilidade mútua, avançaremos sobre bem-estar corporativo e saúde mental no trabalho.


Marcela Barros é neuropsicanalista e estrategista em comportamento e negócios

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