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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Quando a vaidade ultrapassa os limites da sensatez

A psicóloga Ana Paula de Siqueira Leão discute os limites e as vicissitudes da vaidade, na distópica sociedade contemporânea

O dilema entre a busca incessante por validação externa e o valor do autocuidado genuíno, tema central do artigo

De acordo com a teoria psicanalítica, quando nascemos, temos a propensão a copiar ou imitar o comportamento dos nossos cuidadores; isso faz parte do processo de aprendizado que é primordial para o desenvolvimento humano, e, na maioria dos casos, ocorre de forma inconsciente, sem que a pessoa perceba.

A Psicanálise trabalha com o conceito de mimetismo, ou o processo de imitação, como foi citado acima. Este conceito foi desenvolvido também por René Girard, que era filósofo. Em sua acepção ele diz que o ser humano é essencialmente imitativo, uma vez que desejamos o que observamos os outros desejarem. Nesse sentido, a vaidade entra como uma parte da personalidade a qual a pessoa busca uma idealização de si mesmo, no sentido do autocuidado e da busca por bem-estar, tendendo a se aperfeiçoar, tanto física, social e emocionalmente, no sentido de se sentir pertencido(a) a um local ou a algum grupo de pessoas.

Entretanto, quando a vaidade ultrapassa o limite do racional, no sentido de estar prejudicando, afetando negativamente a autoestima da pessoa, então, é preciso que esta se observe minuciosamente, e busque tratamento para saber o que está acontecendo com ela, uma vez que a tendência é haver um sofrimento emocional grande, em que há um prejuízo no âmbito fisiológico, nas relações pessoais, de trabalho e familiares.

Conviver com pessoas excessivamente vaidosas não é fácil, pois, a tendência é a exacerbação de seu narcisismo, quando buscam a validação e admiração externa somente, e não valorizam o próximo. Outras características são: a avareza, quando alguém se apega apenas a bens materiais para ostentar e causar uma boa impressão nos demais; a soberba, quando se é arrogante e se despreza a opinião dos outros; e a inveja, pois a pessoa fica incomodada com o sucesso e as alegrias alheias.

O transtorno dismórfico corporal se caracteriza por uma vaidade excessiva, e uma distorção da visão de si mesmo e do mundo. Tenta-se corrigir alguma característica corporal, e pode-se até não se estar condizente com a sua própria realidade, mas considera-se o aspecto observado um defeito grave para a aparência física; então, despende-se muito tempo de vida, na tentativa de se corrigir, seja mediante excesso de exercícios físicos, dietas rígidas, consumo de quantidade abusiva de cosméticos, ou pela realização de cirurgias plásticas, de forma abstrusa. A vaidade nociva é um sintoma que faz parte, também, da bulimia, da anorexia e da vigorexia.

Sabemos que, atualmente, estamos vivendo numa sociedade (agora, mais do que nunca) em que muitas vezes são preconizados valores humanos invertidos, e enfatiza-se mais o status quo e as aparências do que as próprias essências. Consequentemente, essa realidade, juntamente com as aclamadas redes sociais, acaba fomentando o estado obsessivo, psicótico e compulsivo das pessoas, no anseio de corrigirem alguma coisa em si, somente para se compararem com influencers, cujos contextos, notoriamente, são quase impossíveis de se atingir... Mas, este é o objetivo, concorda? Pois, assim, consumimos mais e mais; pensamos menos, óbvio; é uma verdadeira feira das vaidades...

Então, como se sobressair, evitando ao máximo se vender, se endividar, e se sentir excluído? Antes de tudo, é preciso valorizar a sua autoestima e o melhor que você tem para dar.

Se você buscar não ser correspondido por essa massa quase que anencefálica de uma sociedade distópica, e estiver cuidando de seus relacionamentos, seja pessoais, no trabalho, familiares ou não, e, também, cuidando de sua saúde física, de uma forma em que busque uma rotina de tratamentos saudáveis, e que não se escravize por causa de uma "odisseia" pela juventude eterna, como foi muito bem exposto, por exemplo, no filme "A Substância"; então, fique em paz e comemore; seja feliz, pois este é um grande sinal de que sua saúde mental vai muito bem.

Enfim, dê um recado importantíssimo à sua excessiva vaidade: vá, idade da "aborrecência"!

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