
O que você degustará nesse dossiê
Foi em 2018 (sim, depois de Jesus Cristo) que a honrada revista francesa Les Sciences Humaines nomeou seu servidor para convidar psicólogos, filósofos, historiadores, escritores, jornalistas, linguistas, cientistas políticos e outros semióticos para falar sobre idiotas. Sobre trufas, bananas. E sobre vaidosos. E sobre tolos, bobos, burros, bufões, brutos e grosseiros. Para chamar um gato de gato: IMBECIS (e imbecis também, fiquem tranquilos). Sobre todos nós, portanto, já que todos acabamos por fazer, dizer ou pensar besteiras mais ou menos divertidas, comoventes, ridículas, devastadoras e contagiosas, sendo a obstinação o que marca o declive da estupidez acidental à estrutural.
Seguiram-se as contribuições ou entrevistas de mais de uma centena de especialistas em estupidez, ao longo de quatro obras coletivas e produções anexas para a Sciences Humaines.
Desde 2018, a crise dos Coletes Amarelos, a Covid e seus confinamentos, a dissolução francesa, o wokismo, a ressurreição do trumpismo, a invasão da Ucrânia, o 7 de outubro em Israel e suas consequências em Gaza e outros lugares, a irrupção do ChatGPT (e sim, sim, estou esquecendo de outros) foram pretexto para horrores inéditos e irritantes tolices vindas de todos os lados, de modo que a estudologia da estupidez deve continuar sua missão vã, trabalhosa e quixotesca. Porque com a estupidez, nunca se fica blasé, nunca se decepciona. Nunca chegamos ao fim dos nossos sofrimentos e surpresas. O caminho é interminável. Acidentado, lamacento, ora triste, ora brincalhão, sem área de descanso no horizonte.
Esta edição oferece uma seleção de textos e entrevistas antológicas sobre a estupidez, entre os quais muitas novidades. Como uma cesta recheada com grandes pedaços de cabeças-de-vento, para saborear quebrando os dentes. Conforme prometido, você vai degustar… Boa leitura mesmo assim!
Jean-François Marmion, seu idiota de cabeceira.
Introdução: Ciência Política da Burrice: A estupidez para principiantes

Das profundezas dos tempos
Antes de mais nada, vamos dar uma olhada no retrovisor (cuidado para não arrancá-lo no caminho). Pois muito antes da invenção do TikTok ou dos talk-shows, pouco a pouco, a burrice fez seu ninho. Desde que o ser humano se pôs de pé, aprendeu a rabiscar renas e a erguer megalitos de várias toneladas sem saber muito bem o porquê, ele também produziu sua cota de decisões duvidosas, raciocínios confusos e crenças alucinantes. Pior: antes mesmo do surgimento da nossa espécie (autointitulada Sapiens, porque ela tem senso de humor), a natureza já havia inventado processos de seleção que parecem ter, por vezes, privilegiado os mais problemáticos do grupo. É aqui que começa a nossa grande jornada pelo país da burrice: onde tudo (mal) começou.
Filosofia e crenças: Galeria dis deuses idiotas e odiosos

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