Sumário
O Brasil leu menos. Mas quer ler mais. Essa é a principal contradição que salta aos olhos na 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, publicada em 2024. Com 5.504 entrevistas realizadas em 208 municípios, o levantamento expõe uma nação em retração no hábito de leitura: em 2019, 52% dos brasileiros com 5 anos ou mais haviam lido ao menos um livro nos últimos três meses. Em 2024, esse número caiu para 47% — são 93,4 milhões de leitores, 6,7 milhões a menos do que cinco anos atrás.
Goiás resiste, mas Goiânia falha
Embora o Centro-Oeste como um todo tenha mantido 47% da população leitora — dentro da média nacional — e o estado de Goiás apresente o mesmo índice, o retrato da capital goiana é dramático: Goiânia ocupa a última posição entre todas as capitais brasileiras. Apenas 40% dos moradores da capital declararam ter lido um livro (impresso ou digital) nos três meses anteriores à entrevista.
É um dado preocupante, sobretudo diante da posição estratégica de Goiânia no cenário cultural do Centro-Oeste. O contraste com outras capitais é marcante: João Pessoa lidera com 64%, seguida por Curitiba (63%), Manaus (62%) e Belém (61%). Mesmo capitais como São Paulo (60%) e Brasília (52%) mantêm percentuais bem superiores.
Quem lê, onde lê e por que lê
A pesquisa confirma que:
- Mulheres leem mais do que homens: 50,4% contra 42,9%.
- Jovens entre 11 e 17 anos são os mais assíduos na leitura.
- O nível de escolaridade influencia diretamente: quanto maior a formação, mais livros são lidos por ano. Quem tem ensino superior lê, em média, 6,45 livros/ano; quem tem apenas o fundamental I, apenas 3,07.
- Estudantes leem mais que o triplo dos não estudantes.
A casa segue como o principal espaço de leitura (85%). Apenas 4% dos leitores frequentam bibliotecas públicas, e menos de 2% leem em bibliotecas comunitárias. Isso evidencia que o livro ainda não ocupa os espaços públicos como deveria, sobretudo nas cidades com menor presença de políticas literárias estruturadas — como é o caso de Goiânia.
Os gêneros preferidos e o avanço dos meios digitais
Embora a Bíblia ainda seja o livro mais lido (38%), os leitores estão migrando para novos formatos. Metade dos que consomem literatura o fazem por redes sociais, aplicativos de mensagens e sites. Entre os gêneros preferidos estão:
- Romances (20%)
- Contos (22%)
- Religiosos (17%)
- Poesias (12%)
- Livros técnicos ou científicos (8%)
A literatura em papel, e por vontade própria, está perdendo espaço para o consumo fragmentado e digital, mas ainda é valorizada.
Por que o Brasil não lê mais?
Entre os não leitores, as principais razões foram:
- Falta de tempo (33%)
- Falta de gosto pela leitura (32%)
- Impaciência ou preferência por outras atividades (13% e 12%)
Mesmo entre os leitores, 75% gostariam de ter lido mais nos últimos meses, mas a rotina não permitiu. O tempo escasso, a falta de acesso e o cansaço mental concorrem diretamente com o livro. Ainda assim, a maioria dos brasileiros continua a valorizar a leitura como ferramenta de crescimento pessoal, conhecimento e prazer.
A urgência de virar a página em Goiânia
Com o pior desempenho entre as capitais, Goiânia precisa reagir. A cidade carece de bibliotecas públicas atuantes, eventos literários de grande escala e programas permanentes de incentivo à leitura. A responsabilidade recai sobre o poder público, mas também sobre escolas, famílias e instituições culturais.
Hora de agir! Revitalizar bibliotecas, estimular clubes de leitura, criar editais para autores locais e fomentar a mediação de leitura nas escolas, levar autores às salas de aula, e tornar o livro presente no cotidiano da cidade. Estes são caminhos urgentes para reverter esse cenário.
📚 Números de Goiás e Goiânia
- Percentual de leitores em Goiás: 46%
- Percentual de leitores em Goiânia: 40% (o menor entre as capitais)
- Média nacional de leitura por pessoa: 3,96 livros/ano
- Média no Centro-Oeste: 3,81 livros/ano
- Leitura entre estudantes: 8,45 livros/ano
- Leitura entre não estudantes: 2,58 livros/ano
- Percentual de leitura por vontade própria: 44%
- Porcentagem de leitores em bibliotecas públicas: 4%