Padre César Garcia... Pensava que o veria novamente. A última vez foi na celebração deste Domingo de Ramos. Ainda não revelara a ninguém a gravidade de seu estado de saúde. Manteve-se no posto o quanto pôde. Sua voz já estava bastante afetada, quase sumida, mas soando firme, embora com muito esforço. E ele abriu a celebração com seu habitual bom humor, na porta da Paróquia Mãe de Misericórdia, antes de seguir para o altar:
— “Meus irmãos, Deus me mandou um aviso: o de que, nesta Semana Santa, eu devo mais ouvir do que falar. E vocês podem notar que, em mim, nada mudou — meus cabelos continuam os mesmos”, afirmava ele, que de há muito só tinha uns poucos fios acima da cabeça.
Estava ali um ser humano distinto e surpreendente. Misto de homem de Deus e homem mundano, para ficar mais próximo de seu rebanho e de suas amizades — um lado fortalecendo o outro. Em dezembro passado, completou 40 anos de sacerdócio (12 de dezembro de 1984). Filho de Maria Rita de Sousa e José Garcia de Souza, nascido em Itauçu – GO (1953), tinha competências nas áreas de filosofia, educação, história, cultura, antropologia, turismo e relações internacionais.
Estudioso do português, dominava o francês, o espanhol e o latim. Foi professor universitário (PUC-GO), secretário municipal de Cultura, presidente do Programa de Proteção de Testemunhas do Estado de Goiás, assessor especial de Relações Internacionais, especialista em antropologia de viagens, cultura e história.
Licenciado em Filosofia (UFG), estudou Teologia no Seminário Santa Cruz, Artes Plásticas na UFG e francês na Aliança Francesa de Paris. Tem publicados os livros Confaloni no Presente (um estudo sobre a cruz de Cristo, acompanhado de réplica da única Via-Sacra pintada por ele na Itália) e Iris, em que abordou o líder político por meio dos ensinamentos dos Salmos.
Pároco pioneiro na renovação de costumes e na adesão às novas tecnologias (foi o primeiro a transmitir missa pela internet, quando à frente da Igreja Nossa Senhora das Graças, a primeira de Goiânia), destacou-se em tudo o que fez, contribuindo para alargar nossa percepção social ao mesmo tempo em que nossa consciência histórica.
Padre César Garcia serviu com louvor à Igreja Católica sob a orientação de três papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Sua pluralidade de ação o manterá no altar do cenário goiano. Seu exemplo nos fortalece em nossa árdua missão de sermos filhos de Deus.
Ao se emudecer antes de partir, nos ensinou, por derradeiro, que antes de falar de amor é preciso se calar um pouco — especialmente os debatedores em público. É a velha lição: precisamos todos olhar para dentro de nós mesmos e ouvir o silêncio, que é a sábia voz de Deus.