Sabe quando você sente uma ansiedade fora do comum e, logicamente, começam a surgir pensamentos de que o mundo vai se acabar? Então, isso está ligado ao fenômeno da ansiedade antecipatória e à catastrofização, conceitos centrais, ligados à Terapia Cognitivo Comportamental. Sendo assim, vou associar este tema à metáfora do homem no barranco.
Diz a metáfora que um homem caminhava à noite por uma floresta densa. De repente, ele escorregou num barranco. Agarrou-se a um galho. Olhou abaixo e avistou apenas a escuridão. Ficou desesperado: “Não vou suportar, vou morrer!" À medida em que o tempo passava, o galho cedia um pouco mais, potencializando o seu medo... Mas, o dia nasceu, e o homem percebeu que estava a 40 centímetros de distância do chão, ou seja, ele compreendeu que todo o seu medo e sofrimento tinham sido em vão.
A Terapia Cognitivo Comportamental entende que nossos pensamentos (cognições), comportamentos e emoções estão interconectados. Quando a pessoa se encontra em um estado de sofrimento, cria-se um ciclo vicioso, uma vez que essas dimensões se retroalimentam: o pensamento catastrófico produz a emoção de pânico, que por sua vez, exacerba a crença nesse pensamento.
A catastrofização é um tipo de distorção cognitiva em que a pessoa passa a desenvolver uma tendência a exagerar a probabilidade e a magnitude de uma situação antecipada, fazendo que com que não creia que será incapaz de lidar com o problema. É como se uma pontada no peito virasse um infarto, uma pequena discussão no namoro virasse um término, um esquecimento qualquer virasse demência e um problema no trabalho pudesse virar uma demissão. Fala-se de pensamentos de ruína que podem causar muito sofrimento. Por sua vez, a ansiedade antecipatória já é uma preocupação desproporcional com eventos futuros, ou seja, o receio do homem não foi pela queda em si, mas pelo que poderia acontecer - uma tragédia que, então, só existia na sua mente.
A técnica da reestruturação cognitiva tem a função de ajudar o cliente a identificar pensamentos disfuncionais e catastróficos, e a avaliar as probabilidades reais dos eventos, bem como questionar os desfechos negativos. Por isso, nesse sentido, a Terapia Cognitivo Comportamental seria o "amanhecer". Quanto ao desconforto pelo qual o homem suportou a noite inteira, a TCC trabalha com a ideia de que é preciso aprender a tolerar a incerteza e a ansiedade, sem lutar angustiosamente contra elas. Isso porque "permanecer dependurado" - ou seja, enfrentar a situação temida - pode, muitas vezes, ajudar a descobrir que a ansiedade mitiga e o desastre não se efetiva.
Muitas vezes, a pessoa acha que pode estar caindo num buraco sem fim; o seu sofrimento pode ser um sinal, mas não é em vão. Buscar ajuda psicoterapêutica é fundamental, pois ela servirá como uma luz que irá ajudar a enxergar a dimensão real do problema, desafiando a pessoa a encontrar um equilíbrio na sua forma de pensar, sentir e se comportar.
Lembre-se, por mais que seja escura a noite, o amanhecer virá. Valorize o que está se passando com você; mas pondere: talvez a real dimensão do problema seja de apenas 40 cm (ou menos...).
