Sumário
O que é ser sábio? Buda? Yoda? Sócrates? Batista Custódio? A questão pode até parecer simples, desde que se evite respondê-la. Uma equipe internacional conduziu uma pesquisa em cerca de uma dúzia de países, da China ao Marrocos, passando pela Eslováquia e pelo Canadá, abrangendo (quase) todos os continentes. Participaram 2.650 homens e mulheres de diversos contextos socioeconômicos, que foram convidados a refletir sobre a sabedoria e avaliar essa característica em personagens fictícios criados pela experiência, como, por exemplo, um cientista que busca dar sentido ao mundo ou um professor.
Esta é a primeira vez que uma investigação desse tipo é realizada em uma escala tão ampla. O estudo revelou que duas qualidades principais definem os sábios, representando-os em diferentes partes do mundo.
A primeira é a reflexividade. O sábio faz perguntas, aprende com seus erros e pratica a introspecção. Ele conhece e compreende. A segunda é a “consciência socioemocional”. Em outras palavras, o sábio não se coloca em um pedestal como se estivesse no seu Olimpo, mas se preocupa com sua relação com os outros. Ele é empático e não se considera superior.
As diferenças interculturais são sutis, mas evidentes quando se trata dessa segunda dimensão. Em comunidades tradicionais, como as da África do Sul ou da Índia, não há sabedoria sem uma forte relação com outros seres humanos e, muitas vezes, também com a divindade ou com a natureza.
A sabedoria deve associar essas duas dimensões. Voltar-se aos outros sem refletir? Não. Pensar apenas em si mesmo? Tampouco. Mas uma coisa é certa: a reflexividade é o aspecto menos contestado no mundo.
O aspecto socioemocional, por outro lado, gera mais ambiguidades: cientistas são considerados menos empáticos do que professores, mas ainda assim podem ser vistos como sábios. Por quê? Talvez porque, dentro de nossas hierarquias inconscientes arquitetadas pelo molde materialista, o cérebro frequentemente supera o coração.
Um dado na análise da pesquisa, no entanto, causa desconforto: embora homens e mulheres sejam considerados igualmente capazes de demonstrar sabedoria social e emocional, os homens são vistos como mais aptos a atingir os picos da reflexividade, até mesmo pelas mulheres. Sim, mesmo pensando em sabedoria, ainda se pode dizer tolices.
Artigo traduzido da revista Les Sciences Humaines edição nº 374, dezembro de 2024, por Arthur da Paz.