Sumário
Avessos
Se em toda sombra reside uma luz
Se toda luz esconde uma sombra
E vivemos num constante embate
entre o bem e o mal
o que podemos e o que queremos
entre o pensar e o sentir
entre o esperar e o agir
qual deles vence afinal?
Se a maldade sem freio não traz justiça,
tampouco a bondade sem atitude muda o mundo.
Se em todos nós existe essa dicotomia, esse paradoxo,
o que na verdade faria ou remediaria essa incompletude,
a busca... de quê seria?
O homem lobo do homem,
carrasco de si mesmo,
projeta no mundo sua fome,
ou ela como consequência do mundo se explicaria?
Se entre a dor e a alegria,
o que destrói e o que edifica,
entre a morte e a vida,
somos todos duais
Quem vence, qual se pratica?
Se é difícil alinhar pensamento, sentimento e comportamento,
o que deveria valer, um equilíbrio?
A inteligência sem humanidade trabalha a serviço do mal,
ou de si mesma.
Da mesma forma, o humanismo ingênuo não percebe a realidade,
é fiel a um idealismo pouco prático, que não se realiza.
As paixões podem ser a sua ruína ou o seu combustível.
O medo da perda é talvez a face avessa do amor
Como amar sem ter medo de perder?
E talvez o preço do altruísmo seja o sofrimento
Como importar-se sem sentir o seu sofrer?
Se nesse embate do homem contra si mesmo,
na busca por ser inteiro,
revela-se a incompletude,
o homem dividido,
partido ao meio,
a condição humana inacabada,
como num espelho.
E entre tantos avessos
encontrar o tempero da vida é um desafio concreto.
Autoconhecimento, poder de escolha, domínio próprio,
espiritualidade podem ser remédio
para descobrir o que importa e
mesmo assim ser você mesmo.
Porque o avesso do avesso é o direito,
e só olhando no espelho é que se vê
o lado de dentro.
Lívia Fiorotto Campos