Isadora Arraes é uma escritora goiana competente e promissora. Escreve de forma que talvez possa ser chamada de simples; mas sua poética é interessante, intensa e original, marcando-se e estabelecendo-se como certa poética da incompletude... e o que (quem sabe...) fazer com ela...
O livro, panoramicamente de poemas curtos, perpassa ideias de forma lírica; penso que esta é uma boa forma de se dizer, através de textos, em geral, enxutos e "diretos". Em todo caso, as ideias são fortes e vastas, pensam no amor que não se pode realizar, ou cuja realização não deveria acontecer, em prol de saudavelmente manter-se seu teor de fantasia bela e instigante, nas angústias do dia a dia e em uma concepção, ao mesmo tempo geral e própria, assim visualizo, do conceito de "domingo"; no qual a escritora se debruça mais densamente sobre suas acepções líricas - talvez se trate do dia da semana mais propício a que ela o faça - e, ademais, o dia em que todos nós podemos, ou tendemos, a nos situar em certo limbo subjetivo, antes da segunda, numa pausa a se acabar, para voltarmos então à agitação cotidiana; mas que, simultaneamente, não se configura como a pausa da sexta ou sábado, onde podemos agitar corpo e espírito, e mais esquecermos de nós mesmos e nossa relação com o mundo.
Assim, a escritora bem articula versos sobre o seu e o nosso domingo, entrelaçando-os, de forma criativa e interessante, a perpassar, especialmente, no aporte que aqui apresento, o tema da incompletude; no qual, ao pensar-se sobre um amor "ideal", por exemplo, duas linhas paralelas belamente jamais se encontram; ou no afeto imaginado sob uma trilha sonora de Gil, que bem "se casa" com a imaginação mesma.
Mas a textualidade de Isadora também pega na angústia passível de acessar-nos nessa pausa dominical, nessa angústia denunciadora de nossa incompletude inerente, se podemos sentirmo-nos e pensarmos a nós mesmos, em solidão e entregues às fantasias, boas ou mais árduas, e suas vicissitudes.
Fala-se de um livro que pensa as consequências dos momentos ao passo em que parece buscar estabelecer retratos poéticos, flashes emocionais-reflexivos, ideias incompletas, mas instigantes, de modo que o não fechamento dos textos, seus teores de inconclusividade, une conteúdo e forma, num enlace aparentemente simples, mas que perfaz uma elipse entre o acontecimento de matiz angustioso e as maiores possibilidades de insight - que somente algum domingo, privilegiadamente, em seu ambivalente "limbo" semanal, poderia trazer...
Isadora é escritora cuidadosa e esmerada, e pode-se sentir nela a influência da poesia contemporânea, mas também interesse assíduo pela poesia em geral; seus versos são peculiares em sua "simplicidade" e fluem bem nos poemas, despretensiosamente... Domingo configura excelente recomendação de leitura, para a semana toda.