Morreu nesta terça-feira, 1º de julho de 2025, em Goiânia, o cartunista e ilustrador Jorge Braga, aos 68 anos. Goiano de coração, Braga era natural de Patos de Minas (MG), mas construiu toda sua trajetória artística na capital goiana. Reconhecido por seu traço inconfundível e humor afiado, foi um dos principais nomes da charge brasileira. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Goiás (Sindjor-GO), Braga vinha enfrentando complicações respiratórias decorrentes de enfisema pulmonar. Sua morte encerra uma carreira que atravessou cinco décadas de crítica social e criação artística.
Um humor que desenhou Goiás
Desde cedo, Jorge Braga cultivava o olhar irônico sobre o mundo. Começou aos 13 anos publicando suas primeiras charges em jornais locais de sua cidade natal. No início dos anos 1970, radicou-se em Goiânia e não parou mais. Trabalhou nos principais veículos da imprensa goiana — Cinco de Março, Folha de Goiás, Opção, Diário da Manhã, Jornal do Tocantins e principalmente O Popular, onde assinou diariamente uma charge por mais de duas décadas.
Braga foi um observador sensível e cáustico da política e dos costumes. Seu humor dialogava com o povo comum — o “badião”, a dona de casa, o servidor público — e a partir desses personagens, criava críticas mordazes, porém acessíveis. Eram dele os personagens Super Badião, um herói improvável que vendia pequi na Praça do Bandeirante, o menino arteiro Romãozinho, e o mítico Perebão, justiceiro de chinelo que combatia corruptos e opressores com um olhar regional e debochado.
As charges de Braga não eram apenas risos — eram ferramentas de denúncia e reflexão. Em seu estilo, combinava simplicidade gráfica com ideias sofisticadas, sempre alinhadas à defesa dos direitos humanos e da democracia.
Uma obra que virou patrimônio
A importância de Jorge Braga foi reconhecida em vida com a criação da Gibiteca Jorge Braga, em 1994, localizada na Praça Cívica, no Centro Cultural Marieta Telles Machado. O espaço nasceu a partir da doação de 1.700 gibis feita por ele próprio e hoje abriga milhares de exemplares, incluindo raridades. Decorada com murais de sua autoria e projetos de leitura para escolas públicas, a gibiteca é a materialização do compromisso do artista com o acesso à cultura e à leitura.
Além das charges, Braga editou revistas em quadrinhos — Badião e Romãozinho foram pioneiras nas HQs produzidas em Goiás. Também publicou o livro de charges Palmas e Vaias, sobre a criação do estado do Tocantins. Seu trabalho circulou em jornais como O Globo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Pasquim, Veja e até no americano The World News.
Braga também teve incursões no teatro, na televisão e como editor de arte, sempre com sua marca de irreverência.
Repercussão e homenagens
A morte de Jorge Braga gerou grande comoção em Goiás. O Sindjor-GO emitiu nota de pesar afirmando que “o jornalismo gráfico brasileiro perde um de seus grandes nomes”. O portal Jornal Opção o chamou de “ícone da charge popular”. O site Notícia Toda Hora destacou sua habilidade de “traduzir a política goiana em imagens certeiras”.
Nas redes sociais, colegas jornalistas, ilustradores e fãs compartilharam desenhos e mensagens em homenagem. O cartunista Enio Oto escreveu: “Braga foi mestre no humor sem arrogância, no traço sem soberba. Era desenhista de gente, não de vaidade”. A Gibiteca Jorge Braga, por sua vez, anunciou que organizará uma exposição com originais inéditos do artista.
Ainda não foram divulgadas informações sobre velório e sepultamento.
1957 – Nasce em Patos de Minas (MG)
1970 – Aos 13 anos, publica suas primeiras charges em jornais locais
Anos 1970 – Muda-se para Goiânia; estreia no jornal Cinco de Março
Décadas de 1970-1980 – Cria personagens icônicos e lança revistas Badião e Romãozinho
1994 – É inaugurada a Gibiteca Jorge Braga, com acervo inicial doado por ele
2025 – Morre em Goiânia aos 68 anos, após 53 anos de atividade profissional
Ilustrações de Jorge Braga
Cartoon “Super Badião”, 1985
Publicado originalmente em O Popular. Personagem vendia pequi na Praça do Bandeirante enquanto combatia a carestia e os políticos corruptos.

O chargista conhecia bem Goiás e conseguia trazer, em ilustrações com ainda maior refino, os detalhes e a riqueza do Estado. Um mineiro bem agoianado.

Ele ilustrava com especial criatividade a sua visão crítica, suas análises dos cenários globais, brasileiros e locais, permitindo reflexões vivas e videntes. A crítica bem-humorada estava sempre ali.

