Sumário
O Vaticano anunciou, na madrugada de 21 de abril de 2025, a morte do papa Francisco, aos 88 anos, em sua residência na Casa Santa Marta, em Roma. A notícia foi divulgada pelo cardeal Kevin Farrell, que leu comunicado transmitido pelo Vatican Media. Jorge Mario Bergoglio havia sido eleito papa em 13 de março de 2013, tornando‑se o primeiro pontífice latino‑americano e o primeiro jesuíta a ocupar o trono de São Pedro.
Humanização da Igreja
Vida humilde e coerência
Desde sua eleição, Francisco optou por residir na Casa Santa Marta (Domus Sanctae Marthae) em vez dos luxuosos aposentos papais, reforçando seu compromisso com a simplicidade e a proximidade com o clero e com os fiéis.
Enfoque nos pobres e vulneráveis
Conhecido como “papa dos pobres”, ele organizou audiências em favelas de Roma e defendia repetidamente que “a Igreja deve ser pobre e para os pobres”, promovendo ações diretas de solidariedade e justiça social.
Luta contra a corrupção e abusos
Reformas financeiras e transparência
Em 2013, nomeou a Comissão de Referência sobre o Instituto para as Obras de Religião (IOR), composta por leigos e especialistas financeiros, com o objetivo de redesenhar as atividades e padrões de conformidade do “Banco do Vaticano”. No ano seguinte, criou a Secretaria para a Economia e reforçou a Autoridade de Informação Financeira (AIF), órgão independente de supervisão e auditoria, que passou a divulgar relatórios anuais de atividades financeiras, ampliando a cooperação com autoridades internacionais para prevenir lavagem de dinheiro.
Combate aos abusos sexuais
Em 2019, publicou o motu proprio Vos estis lux mundi, estabelecendo normas obrigatórias para bispos e superiores religiosos denunciarem abusos sexuais e cobrirem omissões, posteriormente ampliadas em 2023 para abranger também líderes leigos em associações reconhecidas pelo Vaticano.
Ruptura com mentalidades retrógradas
Abertura a minorias e diálogo
Em declaração à BBC Mundo em 2013, Francisco afirmou: “Se uma pessoa é gay, quem sou eu para julgá‑la?”, marcando uma mudança de postura em relação às pessoas LGBT e incentivando o reconhecimento civil de uniões estáveis, mesmo sem alterar o ensino doutrinário sobre o matrimônio. Promoveu ainda encontros históricos com líderes de outras confissões, como o Grande Imame de Al‑Azhar, fortalecendo o diálogo inter‑religioso.
Francisco impulsionou mudanças disciplinares e pastorais que ampliaram o debate teológico, porém deixou intactos os dogmas definidos pelos Concílios Ecumênicos. Seu legado reside na renovação do método de aplicação do magistério, cultivando um caminho de acolhimento sem comprometer a estabilidade do depósito da fé. Portanto, embora tenha fragilizado corticalmente alguns hábitos e práticas, não fragilizou o alicerce dogmático da Igreja, mas abriu espaço para novas reflexões dentro dos limites do magistério
Defesa do meio ambiente
Em sua encíclica Laudato Si’ (24 de maio de 2015), Francisco ressaltou que “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma só e complexa crise socioambiental”, convocando líderes globais a proteger a “casa comum” diante da urgência moral e científica do tema.
Legado
O pontificado de Francisco será lembrado pela ênfase na misericórdia, na coerência entre palavras e atos, e na defesa intransigente dos mais vulneráveis. Sua coragem em enfrentar estruturas de poder, romper com práticas opacas e acolher os marginalizados transformou o perfil de uma Igreja muitas vezes imobilizada por tradições inflexíveis, deixando um exemplo que transcende fronteiras eclesiásticas.