Há tempos, tenho me sentido cansado e entediado ao ver piadas e memes sobre psicanálise (e até sobre demais formas de psicoterapias) nas redes sociais (ou, pelo seu grau de promoção do embotamento, comparação narcísica com meros recortes da vida alheia, e excesso de desinformação - redes antissociais). Hoje em dia, acho que precisamos valorizar mais nossas profissões; eu, aliás, vejo a psicanálise como profissão, profissão belíssima e necessária à mínima razoabilidade de manutenção dos seres; e dos seres, de forma saudável a si e aos outros - em sociedade.
Penso que precisamos passar seriedade mesmo, sem se importar com likes ou hiper engajamentos. As áreas de saúde mental são desvalorizadas demais, no Brasil, para que não obtenhamos isso em conta. As pessoas acham que profissionais que desenvolvem trabalhos clínicos de conteúdo psíquico ficam apenas conversando com o paciente, servem como meros conselheiros, seriam malucos que não têm mais o que fazer além de falar acerca de questões supostamente abstratas, ou pessoas descompromissadas, que gostariam de levar algum tipo de vida "alternativa" e sem qualquer relevante responsabilidade.
O fato da psicanálise e da psicologia clínica, até hoje, serem tratadas com desmerecimento e conversas de desvalor técnico, no Brasil, é algo alarmante, estarrecedor, desanimador, triste e imbecilizante. Penso que há mesmo necessidade de que nos valorizemos mais, coloquemo-nos em interdisciplinaridade rica e contribuidora com a psiquiatria, a neurologia e as neurociências, e não ajamos como se fôssemos competidores desavisados ou agressivos desinformados, talvez até vistos como invejosos, face a tais disciplinas e seus alcances institucionais, sociais e monetários.
É essencial pensar no cuidado do paciente, em interface com outras linhas, paradigmas e territórios clínicos; com as devidas observações críticas necessárias, mas sem soar como rivais gratuitos, radicais ignorantes ou brigões desinformados que estariam se engalfinhando para desmerecer ou diminuir o trabalho alheio; trata-se de falarmos, ao máximo, com clareza.
O ponto envolve sempre pautar a seriedade do que diz respeito à clínica psi, em suas mais variadas formas, a importância dos serviços institucionais e a grandiosa relevância, por exemplo, da avaliação psicológica para o campo judicial. Ninguém deve estar de brincadeira nos espaços privados ou públicos que se atenham à questão contemporânea tão grave acerca do crescimento exponencial do sofrimento psíquico, no Brasil (e no mundo).
Os grandes autores não devem ser tratados como peças de gracinhas vazias e empobrecedoras de conteúdo. Assim como suas citações devem ser averiguadas e sempre bem contextualizadas.
Saúde mental só é matéria de brincadeira superficial para âmbitos irresponsáveis e sem compromisso de fato ético.