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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

A luz revisita a sombra

Jornalista Arthur da Paz reflete sobre a jornada espiritual da humanidade, abordando as sombras da consciência e a busca pela redenção através da caridade. Ele nos convida a olhar para dentro, reconhecendo o sofrimento como um caminho para a transformação, e a realizar, na caridade, nossa evolução.

Meus irmãos, João do Sonho, Maria do Céu, minha irmã Verônica Custódio e minha prima Sabrina Ritiely. Minha mãe Marly Vieira, meu pai Batista Custódio, meu irmão Bruno Magno e a amiga Tuanne Freitas

Sumário

A noite esticava-se por anos. O tempo expandia-se a um eterno momento de medo e pânico. Todas as sombras cresciam como mãos perseguidoras. A Lua fatiada tremia-se e foi esconder-se entre as negras plumas na corcunda do céu. A consciência não estava de bem. Corroía-se! Tornara-se monstro bizarro e viera lhe cobrar os atos. Trovões urraram raios nas distâncias neblinosas e os corvos se arrepiaram das galhas secas carregando carniças aos bicos na revoada do macabro.

Clamores e petitórios entregemiam-se nas súplicas, enquanto o espectro cadavérico de mãos coladas à cabeça sofria o assédio dos pensamentos enzunizados qual fossem um enxame de pestes a fatigar-lhe os esforços de sua mente encarcerada.

Asfixiado, sua capacidade mental depenava-se na debatência das asas contra as grades da gaiola que lhe cancelava a lucidez.

Aquele homem que minava seu restolho de vida teria dado o último gole na taça de suas ilusões. Agora, atravessava ao arrasto das pernas, a penumbrosa região entre a Terra e o Céu conhecida como o Valeiro das Consciências Mortas.

O local é uma fumaça de almas obscurecidas e que se reúnem atraídas pelas potências de sofrimento que lhes configuram os adoentados recônditos das emoções destroçadas no iniquicídio da invigilância acomodada ao longo de suas vidas, quando ocuparam os seus corpos.

Criminosos e viciados desenham, ali, triste praga sobre o Valeiro onde o Sol não pode incidir. Os montes, qual paredes pontiagudas, impedem o acesso da luz que, se chegar àquelas criaturas vagantes, correriam afugentadas tapando as órbitas dos olhos afundados nos crânios, incomodadas pela pupila dilatante que se arde ante a claridade. É a debandada de vultos com as mãos tapando a face. É a fuga das vergonhas coladas ao espelho da própria vista.

Ao avançarmos em nossas condutas para o domínio dos excessos, abusos, crimes, violência e vício, esta, pois, uma fresta do horror que se descamba nas paisagens de nossa alma. Vales de suplício ocultados sob desertos aclimatados de medo com poças de lama de sofrimento e pés descalços pisados nos calos das pedras de nossas tortuosidades psíquicas. As deformações do nosso caráter criam viva realidade horrenda nas materializações de nossa consciência. E dela, não se escapa. A consciência humana é um projetor aplicado sobre a retina dos olhos de nossa cognição. Só se vê no mundo aquilo que há em si.

Como nos é doído vislumbrar a teoria do espírito humano, com tanta clareza, mas ainda assim assistir a prisão das confusões psíquicas que criamos para nós.

A mensagem da existência é clara para todos. Muito sangue fora derramado no martírio dos santos e dos justos, para que resplandecesse, no horizonte de todas as eras, a grande síntese cósmica: “amai-vos uns aos outros”.

Porque, pois, ainda demoramo-nos nas nossas fraquezas? Não haveremos de consolidar, dentro de nós, por meio de tantas lutas, as convicções necessárias à nossa libertação? Qual a distância entre nós e a perfeição? Quanto tempo nos falta para chegarmos a Deus? Eis que a resposta surge-me, como um tapa de relâmpago estralado na consciência:

— Falta o tempo da caridade que deixas de fazer.

Cabisbaixei-me, envergonhado. Sorrir é possível. Mesmo porque a minha consciência parece um luzeiro aceso, que mais me queima do que me ilumina. Sinal de esperança! Tenho a chance de corrigir-me e crescer, perdoar e seguir. Reconhecer e reajustar. Crer e avançar.

Nossa ceguez, porém, é opcional. Em tudo insiste Deus para abrir as pálpebras do nosso espírito. Não é fácil, contudo, articular os músculos enrijecidos de uma alma inerte há muito tempo. O despertar tem etapas. Não há repentinismos na vida. Tudo responde ao encadeamento necessário à evolução de cada ser.

A verdade é que apesar do horror que atmosferiza algumas consciências na Terra, Deus vai bem.

O céu continua azul. A cachoeira flui lâminas de saúde nas relvas do cerrado. A flor, exibida, recebe o beijo polinizante da borboleta, enquanto mais adiante a árvore produz seu fruto na biousina que faz do raio de sol um cristal de açúcar. E todos os seres ainda seguem abastecidos no seio abundante da vida que dá o exemplo universal: de tudo dar sem nada pedir.

A paz e o equilíbrio estabelecem-se por toda parte. A natureza formula, no esplendor que de si dimana, o convite permanente à alegria do mundo. É a sinfonia perfeita. Onde tudo vibra em altíssima frequência à regência do amor. A ressonância, entretanto, é sutil. Exige de nós a esforçosa contrapartida para alcançarmos algum estado de graça e fixarmo-nos em desejada elevação.

A solução da confusão humana é simples. Um só é o caminho: a caridade. Fora dela, a treva. E nela, a luz.

Cai um novo raio, neste domingo, 10 de dezembro. Bem ao pé do ouvido enquanto teço estas últimas letras. Uma corrente de ar arrastou nuvens para molhar os céus na minha janela. A água despenca-se lavando as audições e consciências mortas. Limpeza. É o convite da natureza à perpétua renovação. Quem não nascer de novo, é verdade, não poderá ver o reino dos Céus.

Agora eu voltarei ali, na minha consciência, para renascer em um abraço ao meu irmão João do Sonho e no apertar de bochechas da minha irmã Maria do Céu. Vou também abraçar a minha irmã Verônica Custódio e ir sorrir para minha prima Sabrina Ritiely, um anjo de justiça e o outro de ternura em nossas vidas. Vou também ajoelhar-me ante o altar do meu destino, para honrar a luz espiritual infinita e pura do jornalista Batista Custódio, que nunca estará sozinho no relicário da minh’Alma. E ao lado dele, vou ir mostrar esse escrito para a minha mãe, a Marly, a fim de que ela contemple a fornalha do meu peito aquecendo o dela.

Vejam! Vejam! As letras se arrancaram como borboletas desta tela para ir sorrir luzes em meu coração. Meu irmão Bruno Magno estava tocando sua flauta quando uma rosa me abraçou. É a Tuanne. Ela vem trazendo-me pétalas de Deus. Sinto o perfume e vou.

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