(Nova Maringá, Mato Grosso) — Uma cidade de 5 mil almas e, agora, 10 mil olhos arregalados. Foi lá, na casa paroquial onde o espírito devia vencer a carne, que o padre Luciano Braga Simplício viu o corpo vencer o catecismo com a naturalidade de quem troca o incenso pelo perfume de lavanda.
Diz o vídeo, que está rodando toda a internet, que o noivo, tomado pelo ciúme apostólico de quem viu a fé virar farra, arrombou as portas da castidade — uma, duas, até chegar ao banheiro — e encontrou o padre de calção, a noiva de baby-doll e a pia como única testemunha da penitência.
A pobre moça, trêmula, encolhida embaixo da pia, parecia pedir perdão ao encanamento pelos pecados de toda a humanidade.
O padre, por sua vez, jurou em áudio que tudo foi mal-entendido: ela apenas “quis tomar banho”, e ele, por coincidência, “também estava tomando banho”. Ora, é justo — a água é um símbolo de purificação. O problema é que, na prática, o fiel parecia estar mais pra mergulho que pra batismo.
A Diocese, aflita, prometeu “todas as medidas canônicas”. Traduzindo do eclesiástico para o português corrente: vai investigar o que já está mais visto do que missa de sétimo dia. Enquanto isso, o povo de Nova Maringá reza, comenta, compartilha e, claro, julga — porque não há pecado que escape da internet.
Mas o episódio é só mais um entre tantos que o dogma do celibato insiste em fabricar. A carne — essa fábrica de tentações com estoque infinito — não se deixa enganar por regulamentos milenares. Desde o Éden, ela sabe: o corpo tem suas liturgias próprias, e às vezes o Espírito Santo prefere tirar um cochilo.
A Igreja, coitada, continua fingindo que padre não tem pulsação. Como se o amor, o desejo e o suor fossem invenções do demônio. E o resultado é o mesmo desde a Idade Média: padres amando em segredo, fiéis fingindo não ver e dioceses “tomando providências”.
Enquanto houver preceito que tenta transformar homem em anjo, haverá anjo com as asas molhadas. Talvez fosse hora de admitir que o celibato, mais que santidade, é uma bomba-relógio de escândalos. Porque, como já dizia Batista Custódio em uma de suas tiradas de sabedoria sertaneja: “Quem prende o instinto, um dia solta o fogo — e, quando solta, não tem santo que apague”.
E lá em Nova Maringá, o fogo ardeu. Não no altar, mas no banheiro da sacristia.