A Música fala por mim,
ou sou eu quem fala por ela?
É madrugada.
Tudo certo, até para o incerto. Tudo pronto para o belo, mesmo após o sorteio das emoções irresolutas.
A criação, o devaneio, o desdobramento de uma tragédia em partituras... a síntese!
Quem suportaria o insensato arroubo de sua voz? O seu olhar é, às vezes, frágil e frio - quiçá, profundo, demasiado como minh’alma... No entanto, você também criou a sua própria canção.
Música é vício.
A música, um re-tornando no mundo dos suplícios, no estranho mundo dos apaixonados, ou na louca mania da idolatria.
Música é vida e morte: é silêncio, assombro e sorte - é como a canção de ninar Acalanto, que Dorival Caymmi escreveu para sua filha, Nana...
Então digo: “Faz assim: você toca um Metal e eu canto bem ‘baixim’...”
Ah, a minha Deusa Bastet - metade humana, metade gato - a rainha protetora dos felinos e da Música! Sábia, sabia do valor de uma composição bem tocada, e que também poderia ser decifrada com uma voz estonteante, e com letras riquíssimas, claro (não por acaso, ela era uma grande apreciadora de um bom vinho).
A minha Música é como a minha vida: eu canto a respeito dos meus sonhos, e, também, dos meus terrores. Canto o meu tesão pela vida e falo da minha vontade de
querer-te.
A minha música tem cheiro e cor, bom tamanho e a sua cintura é bem fina; o batom é furta-cor, e tem sempre, na sua bolsa, uma caneta Bic, vermelha e gasta.
Pedi para que me descem colo e me mostraram um belo solo – plantaram, em mim, o sentimento
de solitude, em meus fartos
galhos, já quase exangues...
Eu e a música; a música e eu.
Nessa vida, talvez sim...
Faço uma canção e tudo está pronto.
Ela foi parida de saia comprida e bem rodada.
Enfim... eu como música, e ela me come, e canto feito barata tonta...
até a exibição do próximo Verão.