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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Entrevista com a editora de perfumes Leonora Rocha Lima Nogueira

O psicanalista Edson Manzan Corsi dialoga com Leonora Rocha Lima Nogueira, sobre o mundo dos perfumes, a perspectiva da empresa EAUX parfums e certas interlocuções da contemporaneidade com os cheiros; em conversa concisa, mas rica e instigante.

A editora de perfumes Leonora Rocha Lima Nogueira

1. Como você vê o papel da Eaux Parfums na sociedade atual? O que sua empresa traz para a experiência humana em nossos tempos?

Quando pensei em tornar o meu primeiro perfume, Eau de Leonora, acessível para o público, o meu desejo era inicialmente de compartilhar o mesmo bem estar olfativo que sinto quando uso a fragrância. A leveza com a personalidade necessária. Em seguida, com a criação da marca EAUX parfums e as outras fragrâncias, percebi que poderia propor novas experiências olfativas, levando novas impressões, com um cuidado e um olhar diferentes para o olfato. Eu chamaria talvez de « neoperfumaria », onde novas emoções olfativas são criadas a partir de cheiros únicos, que contam histórias e eternizam momentos. Não trabalho com « cheirinhos », gosto de criar emoções olfativas.

2. Qual a relação do aprofundamento no mundo dos perfumes com sua história de vida?

O perfume sempre foi muito presente em minha história, mas além dele, os cheiros. Sempre fui uma criança de nariz curioso, que metia o nariz em tudo, literalmente. Cheirava livros, jornais, sapatos novos, roupas, comidas, flores, peles, cabelos, travesseiros, papéis, canetas, borrachas, lápis, cremes, shampoo, pedras, conchas, folhas, chuva, terra, bebidas, frutas, tudo! Mais do que ver, sentir através do olfato, me fazia e faz até hoje, entender melhor o mundo. O olfato nos guia de forma grandiosamente importante.

3. Qual o perfume mais desafiador que você já criou? E por quê?

Além de Eau de Davi, que foi trabalhoso, já que eu não queria um perfume para bebê, mas para criança, com cheiro de criança, nada óbvio, com notas de lavanda, sândalo e mel. Foram 11 ensaios até chegar no resultado final.

Também foi bastante desafiador desenvolver um perfume com cheiro de mar, de brisa do mar, não somente com a clássica molécula Calone, mas que fosse mais natural, trazendo a impressão de estar perto do mar. Muito difícil conseguir chegar em algo fiel à sensação, e que seja bonito, agradável, poético, que seja de fato « perfume » , mas chegamos. É um projeto no qual estou trabalhando há anos e acho que finalmente chegamos ao resultado desejado. Não tenho pressa em lançar novos perfumes pois acho imprescindível que eles sejam originais e isso pode demandar certo tempo.

4. Qual o significado de Paris e do mundo francês dos perfumes diante de sua história com o tema?

Eu tenho, desde que morei, toda uma relação com Paris e com a cultura daquele país. Lá, me encaixo, me envolvo, me acho. Me identifico com muitos aspectos... Com o jeito de viver, de pensar, de vestir, de comer, de beber, de ver o mundo e de perfumar. Lá nasceram os melhores narizes e historicamente existe um legado importante sobre o elemento perfume. É, sem dúvida, o berço da perfumaria e é onde busco minhas referências,faço meus estudos e pesquisas.

A relação do francês com o perfume é muito cuidadosa, já que não costumam usar qualquer criação, valorizam e se interessam pelos perfumistas criadores, não ligam para tendências e não costumam usar lançamentos do mercado de massa / fast fragrance. É claro que aqui me refiro ao público mais exigente e de bom gosto. Portanto, quando apresento minhas criações aos amigos franceses perfumistas ou que trabalham no mercado, fico feliz em ver expressões positivas e surpreendentes. Para uma cultura tão conhecedora e exigente, são opiniões que me importam.

5. Como você enxerga hoje a relação das pessoas com os perfumes? Estaríamos evoluindo, regredindo, caminhando para onde, nesse aspecto?

Regredindo enormemente, em minha opinião. As pessoas já não tem mais olfato. O excesso de « cheiro » em tudo, fez com que o olfato fosse consideravelmente afetado. Poucas são as pessoas que sentem cheiro realmente, que têm bom nariz. Produtos de limpeza, amaciantes, produtos de beleza, cosméticos para cabelo, maquiagens, cremes, tudo está excessivamente perfumado. Existe no Brasil uma cultura de que se está perfumado está limpo, o que é um grande equívoco.

Decorrente desta exacerbação olfativa, as pessoas sentem necessidade de usar perfumes extremamente intensos, que precisam durar horas e dias, é uma invasão. Todo mundo usa os mesmos cheiros para se sentirem adequados e inseridos socialmente. As mulheres escolhem as notas gourmandes e frutais, com perfumes doces e enjoativos. Os homens escolhem os orientais, amadeirados, ambarados, super potentes e agressivos. Não existe mais sutileza olfativa, descobrir cheiros, imaginar, flanar pelas notas… É uma grande pena, pois até mesmo as crianças estão pedindo perfumes fortes e potentes, completamente inadequados para a idade, ou mesmo para qualquer um. Eu acredito na delicadeza olfativa, com criatividade, sutilezas, qualidade e sobretudo, personalidade. O perfume pode ser super leve e delicado, mas ainda assim cheio de identidade.

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