Ao invés de ver algo impetuoso, irracional, atemporal e aespacial (no senso de infinito) incidindo no cosmos, Freud o vê no aparelho mental humano, cuja teorização ele mesmo instituiu – primeiro como substantivo nesse aparelho, posteriormente como qualidade psíquica. O inconsciente, assim como a Vontade schopenhauriana, só é perceptível, concebível, devido a suas várias formas de manifestação. No caso da vontade, essa manifestação abarca todo o mundo fenomênico. O inconsciente se manifesta no homem e pelo homem, mediante formações específicas (parapraxias, sonhos, sintomas...) e que, em todo caso, configuram fenômenos que nos permitem inferir sua existência e conteúdo.
A Vontade também é inferida por meio de suas manifestações objetivas, que se tornam pautadas pelo principium individuationis.Se as apresentadas características, em Freud, dizem respeito à parte mais recôndita do aparelho mental, características similares remetem àquilo que subjaz ao cosmos fenomênico para Schopenhauer, pois, a Vontade, sendo metafísica, é intemporal, busca a satisfação mesmo que isso leve a todas as contradições, já que ela morde a própria carne na busca de satisfazer-se, não tendo em conta, portanto, o mote de preservar as singularidades – não é guiada pelo princípio de razão ou contradição. Como o inconsciente, manifesta-se por fenômenos que permitem inferi-la, mas não conhecê-la, dizê-la totalmente. Aquele também é infinito, sempre a deixar um rastro de não-dito.
Primeiramente, Freud vê o inconsciente como fundado pelo recalque. Depois, o isso, coincidindo totalmente com a qualidade de inconsciente, simplesmente provém, aporta com o indivíduo, podendo ser visto como infundado. A Vontade, em termos de substrato metafísico sob o cosmos, é infundada. O isso o é em termos de aparelho mental. Se a Vontade não se satisfaz, sempre exigindo mais, o inconsciente, como ambiência do desejo, conforme dito, é infinito, assim como a pressão exercida pelo desejo, que nunca encontra seu objeto definitivo – que proporcionaria a completude.
Sempre se trata de lidar com a insatisfação, com a falta, fendendo a Substância cosmológica ou a estrutura da mente.