Sumário
O psicanalista britânico Wilfred Bion, que nasceu na Índia, em 1897, e faleceu na Inglaterra, em 1979, é um dos autores mais sofisticados da história da psicanálise, porém, ainda é pouco discutido no Brasil; o que constitui grande perda em relação às possibilidades de nosso maior desenvolvimento, tanto clínico quanto conceitual.
Bion foi levado quando criança para a Inglaterra, para viver sozinho, ao morar em um colégio interno. Destacou-se muito nos esportes. Aos 18 anos, foi lutar na Primeira Guerra Mundial, tornando-se comandante de batalhão de tanques. Assim que conseguiu retornar da guerra, não perdeu tempo e foi estudar Artes, em Oxford. Dedicou-se ao magistério. Posteriormente, tornou-se médico, destacando-se em cirurgia; porém, por razões pessoais, decidiu-se a fazer análise. Assim, foi primeiro atendido por John Rickman, depois, por ninguém menos que a própria Melanie Klein.
Em primeiro momento, ele se tornou uma voz muito forte do movimento kleiniano, na Sociedade Britânica de Psicanálise. Logo, no entanto, começou a desenvolver um pensamento próprio, extremamente rico e provocante. Um dos grandes pontos diz respeito ao estatuto da psicanálise enquanto uma ciência complexa; talvez ele tenha sido o pensador que mais desenvolveu sobre este ponto, colocando que o avanço científico da psicanálise não diz respeito a simples relações de causa e efeito, mas a um pensar complexo, no qual inúmeros fatores se sobrepõem e devem ser escrutinados sem pressa, até mesmo sem a perspectiva de que venhamos a conseguir observar a todos; similarmente a o que acontece em diferentes situações na Física Quântica.
Assim, Bion, inspirado no pesquisador quântico alemão Werner Heisenberg, estabeleceu para a psicanálise um eixo de princípio de incerteza. Dizia que o que o interessava em uma sessão era aquilo que ainda não conhecia. Em bela imagem, afirmava que devemos sempre levar em conta a vastidão de nossas incertezas e desconhecimentos, através de escuta clínica tranquila e humilde, sem ansiedade ou sentimento de obrigação de interpretar, jogando na sessão, dessa forma, um "facho de intensa escuridão".
Criou o conceito de 0 (zero), no qual obtinha em consideração o caráter indizível e inefável de experiências e constatações inerentes à vivência humana em sua essência. Teorizou sobre o inconsciente como o que advém pela expansão da consciência, e se tornou o psicanalista que melhor discutiu as formações do pensar em suas relações com a história e modo de ser do indivíduo. Trata-se de autor indispensável. Apenas empobrecemos o pensamento e a prática psicanalítica: ao não nos permitirmos visitá-lo devidamente.