Sumário
O texto a seguir, é a história que narra como me tornei espírita. Descrevo todos os passos que me convenceram e transformaram toda minha vida. Era preciso dizer, pois A experiência que vivi marcou-me definitivamente; minha nova postura diante da vida refletiu em toda minha família, alterando completamente a realidade do nosso núcleo familiar. O texto é longo, pois o coração precisava pôr as palavras em seus devidos lugares para tentar passar ao menos o cheiro da experiência tão emocionante a qual vivi.
A ESCURIDÃO
A adolescência é apontada como a fase das grandes mudanças, e nela inicia-se na maioria dos jovens, os principais conflitos que definem situações decisivas para a consolidação do caráter no indivíduo. Comigo não foi diferente. Com as asas da adolescência totalmente abertas, meu espírito revelava-se com tendências obscuras. Os erros passaram a guiar-me; as trevas que habitavam meu íntimo levavam-me para lugares onde os valores morais podiam contaminar-se facilmente. No auge da vida noturna, o vaidoso DJ (dee jay), líder da noite, o centro de todas as atenções mergulhado na multidão dançante, começava a se sentir o mais solitário de todos.
Os elogios eram o veneno na dosagem certa que preenchiam os buracos do meu espírito satisfeito com as vaidades mundanas. Eles alimentavam o ego insaciável com prazeres vazios e sem valor.
Já era 2009, e minha consciência começava a pesar pelas iniquidades de uma vida desregrada e marcada por uma conduta pessoal medíocre. O coração sufocava-se. Nas raras noites as quais o silêncio ousava instalar-se, a alma impedia-o. Ela gritava em mim os erros e não podia silenciá-la, pois reclamava toda a verdade.
Era preciso abandonar a rotina de alma sofredora para encontrar ar puro em algum parâmetro qualquer, que eu não sabia onde procurar. Mesmo assim, a esperança ainda habitava meu coração, até nos momentos em que a consciência enforcava-me, com as suas mãos calejadas, implorando por socorro.
A vontade de mudar já não cabia em mim. Deus, fonte infinita de misericórdia, preparava estrategicamente a salvação do filho ferido. E no ápice da ação Divina, foi-me apresentada a frieza da Morte. Suas mãos geladas me convidaram a escuridão, no entanto, ao olhar para trás, a vida se agigantou em meu coração, não era ainda a minha hora. Foi necessário encarar a morte para reconhecer a vida.
A LUZ
Alguns meses depois, em um dia qualquer no final do mês de junho de 2010, acordei feliz! A vida reservava-me algo precioso. A luz do sol me enchia de alegria. Uma intuição saudável de que algo muito bom iria me ocorrer permeava minha alma, enchendo o meu sorriso de esperança. Não entendia o motivo daquelas inspirações tão gostosas, mas aproveitei-as.
Ao final da tarde, mamãe havia comunicado que um grupo de médiuns do Posto de Assistência Menino Jesus, que algumas vezes viera em minha casa harmonizar o ambiente, viriam novamente em nosso lar, para ajudar meu pai que sofria de graves enfermidades. Ela queria que eu participasse das orações que eles realizassem. Meu coração respondeu positivamente, imaginei que ali pudesse estar a resposta ao anseio que nasceu junto com aquele dia.
Não acreditava nessas coisas, mas sempre fui a favor de qualquer ação orientada ao amor e ao bem. Eles chegaram, ajuntamos a família na sala para ser realizado o culto. Era a Verônica minha irmã mais velha, o João do Sonho e a Maria do Céu meus irmãos caçula, meu pai Batista Custódio, minha mãe Marly Vieira, o Agnaldo, motorista e amigo da família, e eu. Todos sentamos no enorme sofá macio de sala. Os médiuns foram recebidos gentilmente por minha mãe, que também não entendia muito dessas ‘coisas de espírito’.
Iniciaram-se as orações. Dona Aparecida Carneiro, uma mulher morena de feição séria, convocava a presença de seres e nomes estranhos a minha cultura, para auxiliá-los naquela tarefa. De repente, alguns médiuns sob ação das faculdades psicofônicas, deixaram aproximar de seus aparelhos mediúnicos, entidades que queriam se comunicar, mas logo eram esclarecidas e seguiam seu destino para algum lugar do invisível. Meu coração pedia que eu tivesse Fé durante aqueles momentos, e respeitei sua vontade com a mesma sinceridade de uma criança perante paisagem nova.
A dor causada por uma trombose na perna do meu pai havia cessado. Aquele momento de auxílio a seres invisíveis havia desaparecido. Chegara a hora dos passes para concluir a assistência em nossa casa. Cada membro da família recebeu seu pacote de luz e podia ir descansar. Quando o médium Alonso orientado pelo espírito conhecido como Dr. Stritz, se aproximou de mim e começou a transmitir o passe, logo interrompeu o processo e segurando minhas mãos disse: “Há bastante energia concentrada em suas mãos. Sinta-se convidado a estudar conosco nas terças-feiras às dezenove horas, lá no postinho”. Meu coração encheu-se de alegria, aquele sentimento que ocupara meu pensamento ao longo do dia, havia sido explicado. “Será isso que era para acontecer?” — perguntava-me.
A REVELAÇÃO
A tão esperada terça-feira demorou para se aproximar, a ansiedade tinha pressa dentro de mim. Mas, como escreveu Jean-Jacques Rousseau: “A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce”. Por isso, pela manhã fui normalmente ao trabalho e voltei para casa na hora do almoço. À mesa, o cheiro da comida brasileira seduzia-nos: arroz, feijão, bife de vaca, salada de alface e tomate e suco de erva cidreira. Tudo feito com muito carinho pela nossa querida irmã Tonha, cozinheira e grande amiga da família, já há muitos anos. Sentei-me a mesa, mas senti vontade de comer apenas arroz, feijão e salada. A carne, apesar de estar do jeito que eu gosto, não me atraía. Em pouco tempo já havia finalizado. Ainda hoje, luto para corrigir o péssimo hábito de comer às pressas, para logo ir me entreter no computador.
O relógio tentava acompanhar o girar da Terra. O sol se alaranjava colorindo o céu com belíssimo crepúsculo, as sombras das palmeiras no quintal seguiam a sinfonia da tarde e iam se esticando. Eram dezessete horas e corri para o banho. Ao terminar, mamãe já aguardava para me levar ao Posto de Assistência Menino Jesus pela primeira vez. Fomos cada um no seu carro, ela à frente e eu atrás. Mamãe dirigia a Blazer e eu o Voyage, nada mais justo! Afinal ela é uma mulher honrada e que já havia derramado muito suor nesta vida, e eu, apenas herdei o carro do meu pai, mas confesso: não há mérito em nenhum tipo de herança. Como ele mesmo diz: usufruir do suor alheio é dívida adquirida.
E lá chegamos. Na fachada, tinha um portão de grade azul que protegia a entrada de uma casa humilde e velha, mas bem aconchegante. Eu estava com uma roupa mais clara como solicita a estranha ciência dos centros espíritas. Ao entrar, já avistei Dona Aparecida na recepção. Olhando ao redor, pude observar vários quadros de grandes nomes do espiritismo e um do nosso Divino Mestre que dizia em sua inscrição: “Eu sou o caminho, a verdade a vida”. Logo adiante, um mural com informações das atividades realizadas por aquela casa. A paisagem despertava interesse aos meus olhos, que rapidamente correram por toda sala.
Cumprimentei Dona Aparecida e ela fraternalmente correspondeu o gesto. Disse a ela que ali estava para participar dos estudos, pois que havia sido convidado. Ela se contentou, avisando que já estava quase na hora e que bastava aguardar no corredor ao lado. Era um corredor cheio de cadeiras, onde as pessoas sentam para concentrarem-se nas atividades. Assim o fiz: sentei e aguardei. O corredor tinha cheiro de luz. Calma, paz e tranquilidade circulavam em meu coração, fazendo minha ansiedade aquietar-se. A alegria sentou-se do meu lado para pôr o papo em dia. Era tudo harmonia. Há muito não experimentara sensação tão agradável no espírito. Quando de repente, uma voz gentil convidou-me a acordar daquele momento. Era Silvana, a dirigente dos estudos, uma mulher loira com óculos de grau arredondado e com uma voz bem suave, apontava a sala de aula informando que já estava na hora.
Me apresentei como novo aluno, o ambiente era agradável, os alunos estavam bem distribuídos. O ventilador de teto estava ligado. Meninas e meninos da minha idade também ali estavam, éramos mais ou menos quatorze pessoas. Os estudos se davam de maneira bem humilde, não havia nenhuma estruturação complexa como a do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. A aula era dividida em três momentos. Os primeiros trinta minutos fizemos a leitura e discussão de O Evangelho Segundo o Espiritismo, os trinta seguintes, realizamos também leitura e discussão de O Livro dos Médiuns e os últimos trinta minutos são reservados a educação mediúnica, ou como diziam antigamente, desenvolvimento mediúnico.
Naturalmente, minha postura era a de um alienígena em terras estranhas. Meus olhos e ouvidos observavam tudo como uma esponja seca mergulhada em rio de água doce. A minha alma sedenta de conhecimento filosófico e existencial, encontrara naquela pequena sala, fonte sublime de valores morais que os erros do passado haviam enferrujado dentro mim.
Chegado ao fim da segunda parte, a dirigente disse: “agora é o desenvolvimento, só pode ficar quem não comeu carne vermelha”. Então, quando ia saindo da sala, lembrei-me que não havia comido carne. Este maravilhoso acaso ou não, fez com que eu ficasse para a próxima tarefa. Não havia sido informado de que para participar do desenvolvimento, era preciso consultar os mentores da casa anteriormente. Mas, de posse apenas da primeira informação, eu fiquei.
O coordenador da terceira parte, Vilmar, marido de Silvana, reduziu as luzes da sala mantendo leve iluminação de tonalidade avermelhada no ambiente. Em seguida, ele conduziu relaxante exercício de respiração e foi nos inspirando a ter bons pensamentos para facilitar a aproximação dos espíritos. Foi então que meu coração acelerou, fiquei com medo. Não imaginava que era isso, este tal de desenvolvimento — espíritos se aproximarem de mim? Deus me livre! — mas à medida que ia respirando, a calma se instalava dentro de mim.
Fechei meus olhos e confiei-me às mãos de Deus. Após alguns minutos de silêncio íntimo, sensação nova se apoderava de mim. Uma tontura pesada começava a se instalar na cabeça, fui me sentindo estranho, atordoado, quando de repente, perdi o controle dos dois antebraços até as mãos. Estava em um estado de paralelismo, como se minha alma estivesse observando o que estava acontecendo com o meu corpo. Uma vontade exterior a minha, controlava agora as minhas mãos, retorcendo-as. Foi quando Vilmar aproximou-se e disse-me para retomar o controle do corpo e começou a transmitir-me passes na cabeça. Depois de algum tempo de transe, sobre os cuidados do irmão Vilmar, consegui retomar a ordem da casa corporal, mas havia feito muita força física para isso. O que me custou uma semana com os antebraços e mãos doloridos, como se tivesse condensado uma hora de exercícios em apenas um minuto.
Chegando ao fim do desenvolvimento, outros alunos relataram visões, sensações e outros acontecimentos, que até o momento eram fantásticos para minha pobre compreensão. Abria-se um novo universo para meu horizonte limitado. O que havia acontecido comigo? Indagava-me incessantemente. Emocionei-me diante de tamanho fenômeno. Sim! Era aquilo que iria acontecer comigo! O mistério dos dias anteriores se desvendara claramente ao meu coração, tal como nevoeiro que se dissipa sob o brilho intenso da luz solar.
Voltei para casa, estava espantado. Ao chegar, corri para minha mãe que fazia exercícios de Kumon, e chorei relatando à ela o que havia acontecido. Muitas interrogações começaram a vulcanizar-se dentro de mim. Fui dormir com o cérebro em plena erupção. As ideias jorravam-se fervilhantes em minha alma, as dúvidas passaram a ser o motor que me impulsionava a continuar. Mal podia esperar a próxima semana. Aquilo foi demais.
A COMPROVAÇÃO
A semana seguiu seu rumo, mal conseguia focar-me nas tarefas da rotina. Meu pensamento estava habitando outros ares. Chegando a tão esperada terça-feira seguinte, não pude, desta vez, participar do desenvolvimento, pois lembraram de me avisar que era preciso conversar antes com o amigo espiritual responsável pelas atividades daquela casa. Aceitei de bom grado e logo voltei para casa.
No dia seguinte, quarta-feira, 7 de junho de 2010, ao voltar do trabalho para almoçar em casa, mamãe me comunicara que a senhorita Mary Alves iria visitar-nos, pois que a ocasião era muito especial. Mary Alves, é a médium que psicografa várias mensagens do espírito Fábio Nasser Custódio dos Santos, meu irmão mais velho e que suicidou-se no dia 17 de janeiro de 1999. Ela iria psicografar em seção especial, uma mensagem do Fábio, a pedido do próprio espírito, cuja autorização fora concebida pelo ministério da comunicação do plano espiritual. Era um dia inesperado para todos nós, especialmente para nosso pai, Batista Custódio, que tanto sofrera com a partida voluntária do filho. Convidamos para esta ocasião, toda a família que tinha laços com o Fábio.
A medida que a noite ia se aproximando, um à um iam chegando. As mulheres da família que se fizeram presentes eram a Imara Ribeiro, Verônica Ribeiro, Sabrina Ritiely, Karina Borges, Marly Vieira e Maria do Céu. Os homens: Batista Custódio, João do Sonho, Júlio Nasser, Pedro Nasser, Agnaldo Franscelino e eu. Pai, irmãos e o filho, já aguardavam em clima de alegria.
Mamãe, preparou a mesa onde normalmente almoçamos, forrando-a com um tecido branco. Uma luz azul radiante sustentada no abajur, foi colocada na cabeceira da mesa onde a médium iria psicografar. Adicionamos algumas cadeiras para abarcar à todos durante o momento em que os dois mundos, o visível e o invisível, iriam estreitar seus laços. Um pequeno aparelho de som estava na área cuja as músicas clássicas para harmonizar o ambiente foram selecionadas carinhosamente por Batista Custódio.
Todos aguardávamos o grande momento. A saudade doía do lado de que cá e do lado de lá. Sentamos todos — a médium Mary Alves já estava acomodada. O silêncio ia se tornando o rei da calmaria que o momento solicitava. Abrimos O Evangelho Segundo o Espiritismo e fizemos uma leitura aleatória para dar início aquela seção especial. Depois da leitura, a médium Mary Alves, fez uma oração seguida da invocação dos espíritos amigos na qual ela disse:
“Amado Deus Pai, pedimos sob todas as suas bênçãos o auxílio necessário neste momento, para que o Senhor permita a comunicação do irmão Fábio Nasser conosco, se não for possível devido a sua Sabedoria Divina, envia-nos um mensageiro do amor para clarear nossos corações e fazer alegria neste momento tão sagrado onde a família está reunida…”
Quando a médium silenciou sua voz, sua mão esquerda ergueu-se para tampar os dois olhos, transparecendo a ideia de ter iniciado transe profundo. A mão direita começou a buscar cuidadosamente pelos lápis que estavam ao lado das folhas de papel. Eu me sentava do lado da médium, iria trocar as folhas a medida que elas fossem preenchidas. Não havia feito isto antes, mas fora um trabalho bastante gratificante ao meu coração.
Foram alguns minutos que se pareceram horas. Eu tentava ler alguns pedaços da carta, mas não compreendia bem a letra, que não pareciam estar sendo escritas, mas sim, sendo impressas em alta velocidade no papel, pois que o pensamento de um espírito livre voa vertiginosamente pelo espaço e tempo.
As crianças se agitavam pela impaciência, alguns se levantavam para ir ao banheiro ou beber água. Mas, depois de quinze minutos de psicografia, eu puder ler as últimas palavras da carta recém chegada, estava escrito: “Com o carinho e a gratidão de quem os ama, Fábio Nasser Custódio dos Santos”. Meu coração alegrou-se profundamente, era o primeiro da família à saber que o Fábio estava ali conosco!
Organizei as folhas de papel e as entreguei para a médium que já se encontrava em estado natural. Todos retomaram o silêncio inicial e ela iniciou a leitura da carta:
“Abençoado pai, meu filho, queridos irmãos, queridos amigos.
Como é difícil segurar a emoção nesse momento em que os lábios gostariam de expressar o pensamento livre de alguém que tanto os ama.
Se me fosse possível estar em outra situação, tudo faria para que o tempo recuasse… Mas o senhor, meu pai, ensinou que cada um tem que honrar suas atitudes, sejam elas com as consequências que surgem. E hoje estou eu, esse ser que procura ser forte o suficiente para fortalecê-los quando a dor se aproxima.”
E assim continuou… A carta solicitava a meu pai que cuidasse da saúde, pois que era preciso resguardar-se dos desgastes porque precisava de energias para continuar sua missão no jornalismo nacional. E continuou a carta, dando a cada membro da família ali presente, conselhos salutares cujas palavras eram carregadas de profunda densidade amorosa.
E na sequência, ele mencionou meu nome…
Pela primeira vez, desde a data de sua primeira mensagem psicografada, 5 de maio de 2001 até aquele dia, aquele momento, 07 de junho de 2010, 9 anos depois de sua partida, ele mencionara pela primeira vez o meu nome, dizendo-me apenas duas frases, e que mudaram definitivamente, o resto de minha vida. Ele disse-me:
“… Arthur, siga em frente com Jesus, a sua hora chegou. Suas mãos são especiais e você sentirá essa verdade.”
Quando estas palavras que foram lidas pela médium, propagaram-se no ar tal qual o perfume de uma rosa, sensibilizando os meus ouvidos. Deus havia concluído ali, naquele instante, o golpe de mestre, o xeque-mate definitivo em minha vida, provando-me sua existência, e que não havia me esquecido, pois que na verdade, era eu quem tivera um dia me esquecido d’Ele.
Estava comprovado naquele instante que Deus me amava. Uma nova porta abriu-se diante dos olhos de minha alma. Pude ver do outro lado da porta, uma luz imensa, branca e irresistível que convidava-me a conhecê-la. A alegria saiu fazendo festa dentro de mim, ela soltava foguetes no céu de Minh ‘alma, mas só meu coração ouvia. Não sabia como retribuir tanto amor por parte de Deus.
Então… Adentrei-me à porta. Estava escrito no ar, com tinta de luz: “Espiritismo”. E a medida que ia seguindo por este corredor luminoso, fui me afastando dos velhos colegas e dos velhos hábitos. Logo nas primeiras semanas conheci O Livro dos Espíritos, a cada dia ia internalizando e pondo em prática os novos ensinamentos que banhavam meu ser. Lubrificava as asas da moral com o doce óleo das verdades espíritas. Ia movimentando o espírito enferrujado, despertando os valores adormecidos em mim.
Foi como o acordar de um urso depois de anos em hibernação. Acordei das ilusões para a vida, entrei com o pé direito pela porta da realidade e aprendi a seguir de fato, meu caminho com Jesus.
O AMOR
Algum tempo depois de minha transformação, digo mais: de minha metamorfose, escrevi uma carta para mamãe, papai e meu irmão mais velho, reconhecendo à eles todo o mérito por minha nova situação. Eu lhes disse:
“Pai, você não pode partir da Terra sem antes saber o quão grato sou a ti. E mãe, o sorriso impresso em mim e o chinelo da boa conduta que carrego sob os pés, traduz meu amor a você.
A Vida se explica a cada instante nos fenômenos mais simples e saber vivê-la é tarefa edificante ao homem que consagra sua existência em benefício do próximo.
Ao voltar os olhos da alma para meu horizonte íntimo, encontro ambos vocês, Batista e Marly, no mais estimado grau de valor moral, como luz radiante flutuando sobre o pedestal da minha paz.
Sendo vocês, a fonte infinita d’águas morais que banharam meu ser durante a lapidação do meu caráter, semeando nas terras férteis de minha mente, ainda criança, a essência do Bem.
Não vim a este cômodo do pensamento, tecer elogios gratuitos carregados de interesses pessoais. Meu único interesse, é a felicidade de vocês. E pra isso, tenho tentado mudar — seguir, de fato — minha jornada com Jesus para ao menos, lançar uma faísca de bom exemplo aos nossos pequeninos João do Sonho e Maria do Céu.
Com respeito as Forças Maiores do Universo em todas as suas dimensões, afirmo com segurança: apenas Deus pode impedir que eu prossiga, pois agora, sou ave que voa em céus altos e o estilingue do passado não consegue atirar pedras que quebrem a resistência dos ventos, que minhas asas completamente abertas, abraçam.
Mesmo tendo noção que sou ave pequena, aprendi com vocês onde é seguro planar nos campos da vida, e fazendo-me, um poço de gratidão, peço que colham em mim apenas o equilíbrio e a tranquilidade, pois são estes, os dois parâmetros que instalaram-se em mim desde que li a única carta psicografada em que o Fábio Nasser menciona meu nome.
Vejam vocês, o quão belo é o Amor:
- O Fábio, que eu poderia ter algum rancor dele, devido a possíveis problemáticas que ele pôde ter gerado em mim por consequência de suas enfermidades, ainda encarnado — com apenas um único gesto de Amor — anulou todos esses possíveis deslizes.
Na carta psicografada pela médium Mary Alves, Fábio me reapresenta a Jesus e aponta-me de volta ao Pai Celestial, como a bússola amiga que aponta as estrelas do norte ao viajante perdido. Por isso, devo ao meu irmão mais velho, Fábio Nasser, o gesto sincero de gratidão e respeito.
Por fim, observem que tudo aquilo que me ensinaram sobre o amor, sobre fazer o bem, estar ao lado de Deus, ligar-se as coisas sublimes, ler os grandes clássicos, escutar boas músicas, se apoiar e espelhar nos Homens que mudaram a rota da Humanidade, romper com a história da família e criar a sua própria história, carregando a honra de ter o suor no rosto por trabalhar a favor do bem.
Tudo isto, serviu a mim, como armamento pesado na grande batalha contra as trevas do meu íntimo.
Estes e tantos outros ensinamentos, me foram injetados como medicamento verbal e pelo medicamento do bom exemplo, os quais vocês tanto me aplicaram desde criança. E que, por tanto, estou vacinado e saudável perante as invasivas dores do mundo.
Cumpriram com êxito suas missões, ao menos no que diz ao meu respeito.
Sou um ser limpo e radiantemente Feliz.
E devo isso, unicamente a vocês.
Muito obrigado por me darem suporte na condição de filho.
Honrarei sempre os valores que me doaram, com orgulho.
Devo uma ajoelhada em minha gratidão às bênçãos da vida para mim. Desde menininho, cresci vendo não o padrasto no Batista nem ele o enteado em mim. Mas eu enxergando nele o pai e ele em mim o filho.
E mamãe, não existem outros peitos que tantos corações caibam, como o meu e o seu, cabem no mesmo coração.
Muito obrigado! Muito obrigado!”
Que Jesus nos abençoe!