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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Câmara Municipal de Goiânia cria a Comenda Batista Custódio

Resolução da Câmara institui honraria anual a jornalistas identificados publicamente como éticos e comprometidos com a verdade. Idealizada por Leandro Sena e consolidada pelos vereadores Anselmo Pereira e Romário Policarpo, será entregue sempre na semana de 24 de novembro, data símbolo da liberdade

Jornalista Batista Custódio, em foto icônica, restaurada, quando tinha 40 anos de idade, em 1975

Sumário

Editorial

Há atos que nascem pequenos em aparência, mas que carregam, em seu âmago, o peso simbólico da História. Assim é o nascimento da Comenda Batista Custódio, instituída pela Câmara Municipal de Goiânia, por meio da Resolução nº 9, de 9 de outubro de 2025, assinada pelo presidente Romário Policarpo e publicada no Diário Oficial do Município do dia 14 de outubro de 2025.

Trata-se de uma homenagem de caráter anual destinada a reconhecer jornalistas que se destacam na defesa da verdade, da ética e da liberdade de imprensa, valores que nortearam a vida de Batista Custódio, fundador do Cinco de Março e do Diário da Manhã, mestre de gerações e voz inquebrantável da consciência goiana.

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A comenda, com medalha dourada de 35 milímetros de diâmetro, traz o nome e as datas de nascimento e morte do jornalista, ladeadas pelas palavras “Jornalista” e “Destaque”. Será entregue em sessões solenes nas semanas do dia 24 de novembro, data em que se completa, ano após ano, o aniversário da partida de Batista — símbolo e renovação de sua presença na memória coletiva da cidade que ele a fez crescer.

Não foi confirmado, entretanto, se haverá tempo para a entrega da comenda em 2025. Portanto, a previsão para a primeira solenidade está prevista para novembro de 2026.

A gratidão de quem reconhece a semente plantada

Não se pode mencionar esta conquista sem registrar o nome de Leandro Sena (foto), ex-vereador e admirador confesso do pensamento de Batista Custódio.


Foi ele quem, em sucessivas visitas e conversas, procurava o mestre do jornalismo goiano em sua redação ou em casa, na cata de conselhos, no debate das ideias e na escuta atenta às críticas. Foi ele quem, ainda no seu mandato, concebeu o embrião deste projeto — não por vaidade, mas por sincero respeito ao homem que ensinou o Estado de Goiás e a toda sua classe política a pensar melhor.


Leandro Sena, contudo, não continuou na vereança. E o projeto, já delineado, foi encampado e levado à frente por Anselmo Pereira, veterano da política goiana e profundo conhecedor das tradições culturais da cidade. Pela sua sensibilidade, a proposta ganhou o corpo e chegou à mesa do atual presidente da Câmara, Romário Policarpo, que a transformou em ato oficial, coroando o gesto com a devida solenidade pública.


Assim, a Câmara honra o seu compromisso com a memória intelectual da capital, e Goiânia dá um raro passo... aliás, raríssimo por aqui: reconhecer um de seus próprios gigantes sem esperar que o tempo o apague. Aqui, no Liras da Liberdade, já denunciamos este esvaziamento histórico e memorial de Goiânia.

Romário Policarpo, o jovem presidente da Câmara de Goiânia e Anselmo Pereira, o habilidoso articulador de conquistas municipais (Foto: Divulgação)

Entre a crítica e a reverência

Entretanto, agora apontamos a boca do canhão de flores, deste editorial, ao caríssimo propositor do projeto Leandro Sena e às admiráveis lideranças que se assumiram responsáveis por este aceno gracioso e justo… é preciso que este editorial, fiel ao espírito custodiano, recorde também o alerta do próprio homenageado.

No seu texto O Artigo do Ano, publicado em 30 de julho de 1973, no jornal Cinco de Março, Batista Custódio ironizou os abusos das honrarias públicas, denunciando os interesses e vaidades que, por vezes, corrompem o valor das distinções. “Um adversário inteligente prejudica menos que um companheiro estúpido”, escreveu ele, apontando o perigo das comendas vazias, oferecidas por conveniência ou bajulação.

Batista sabia que, quando os prêmios se tornam moeda de troca, eles deixam de exaltar o mérito e passam a alimentar o teatro da vaidade. Por isso, se vivo fosse, ele próprio exigiria — e nós exigimos junto dele — que a Comenda Batista Custódio jamais se torne só um troféu político para a barganha na compra das vaidades. Mas, sim, um selo ético, um selo moral, conferido apenas àqueles que sustentam a integridade, a independência e a coragem de informar sem se curvar aos interesses do poder.

Aliás, mais do que a simples denúncia, Batista era um dos raros jornalistas que ofertava caminhos. Ele diagnosticava, ele propunha soluções na amplidão oceânica de seu conhecimento. Antecipava o futuro a cada conversa.

Não é à toa que muitos dos políticos de todo Estado e uma penca dos que estão bem-sucedidos no escopo nacional, saíam de seus gabinetes e iam buscá-lo na Redação do Cinco de Março, na Redação do Diário da Manhã, no seu escritório, em sua casa e sempre, também, naqueles telefonemas demorados que eles faziam a ele. Todos eles buscavam a luz das soluções certeiras e Batista sempre as dava nas sugestões morais da Mais Alta Espiritualidade, com humildade, mas sempre com a força de sua polêmica, aquele elemento de sua encenação oratórica que lhe exautava a autoridade moral e consagrava a potência didática que só ele era capaz de ofertar.

Professor inesquecível… grande professor, meu professor! O tutor de todas as cores políticas.

Que honra levarão os jornalistas que serão agraciados com este ícone em seus peitos. Eu teria vergonha em receber esta comenda e não agir como o discípulo em busca do seu mestre.

Um gesto que transcende a pedra e o bronze

A criação desta comenda é, portanto, um pequeno grande ato. Um gesto de reconciliação de Goiânia com sua própria história. Em tempos em que a informação se degrada entre algoritmos e ruídos, a lembrança de Batista Custódio reacende a chama do jornalismo que deve servir à verdade e à consciência pública.

Que esta comenda não seja ornamento, mas um pacto. Que brilhe no metal, sim, mas que reluza na consciência dos que servem à verdade.

Porque… se sua vocação for realmente a do jornalista — desses raros que sangram pela palavra e se erguem pela dignidade —, e um dia você conquistar a Comenda Batista Custódio, então você poderá considerar que concluiu a sua travessia. Você chegou lá!. Pois terá alcançado o mais alto píncaro no espaço da Liberdade. Ter o seu nome associado ao de Batista Custódio é ultrapassar o limiar da honra: é a glória maior do jornalista brasileiro.

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