Sumário
Editorial
Há atos que nascem pequenos em aparência, mas que carregam, em seu âmago, o peso simbólico da História. Assim é o nascimento da Comenda Batista Custódio, instituída pela Câmara Municipal de Goiânia, por meio da Resolução nº 9, de 9 de outubro de 2025, assinada pelo presidente Romário Policarpo e publicada no Diário Oficial do Município do dia 14 de outubro de 2025.
Trata-se de uma homenagem de caráter anual destinada a reconhecer jornalistas que se destacam na defesa da verdade, da ética e da liberdade de imprensa, valores que nortearam a vida de Batista Custódio, fundador do Cinco de Março e do Diário da Manhã, mestre de gerações e voz inquebrantável da consciência goiana.
A comenda, com medalha dourada de 35 milímetros de diâmetro, traz o nome e as datas de nascimento e morte do jornalista, ladeadas pelas palavras “Jornalista” e “Destaque”. Será entregue em sessões solenes nas semanas do dia 24 de novembro, data em que se completa, ano após ano, o aniversário da partida de Batista — símbolo e renovação de sua presença na memória coletiva da cidade que ele a fez crescer.
Não foi confirmado, entretanto, se haverá tempo para a entrega da comenda em 2025. Portanto, a previsão para a primeira solenidade está prevista para novembro de 2026.
A gratidão de quem reconhece a semente plantada

Não se pode mencionar esta conquista sem registrar o nome de Leandro Sena (foto), ex-vereador e admirador confesso do pensamento de Batista Custódio.
Foi ele quem, em sucessivas visitas e conversas, procurava o mestre do jornalismo goiano em sua redação ou em casa, na cata de conselhos, no debate das ideias e na escuta atenta às críticas. Foi ele quem, ainda no seu mandato, concebeu o embrião deste projeto — não por vaidade, mas por sincero respeito ao homem que ensinou o Estado de Goiás e a toda sua classe política a pensar melhor.
Leandro Sena, contudo, não continuou na vereança. E o projeto, já delineado, foi encampado e levado à frente por Anselmo Pereira, veterano da política goiana e profundo conhecedor das tradições culturais da cidade. Pela sua sensibilidade, a proposta ganhou o corpo e chegou à mesa do atual presidente da Câmara, Romário Policarpo, que a transformou em ato oficial, coroando o gesto com a devida solenidade pública.
Assim, a Câmara honra o seu compromisso com a memória intelectual da capital, e Goiânia dá um raro passo... aliás, raríssimo por aqui: reconhecer um de seus próprios gigantes sem esperar que o tempo o apague. Aqui, no Liras da Liberdade, já denunciamos este esvaziamento histórico e memorial de Goiânia.

Entre a crítica e a reverência
Entretanto, agora apontamos a boca do canhão de flores, deste editorial, ao caríssimo propositor do projeto Leandro Sena e às admiráveis lideranças que se assumiram responsáveis por este aceno gracioso e justo… é preciso que este editorial, fiel ao espírito custodiano, recorde também o alerta do próprio homenageado.
No seu texto O Artigo do Ano, publicado em 30 de julho de 1973, no jornal Cinco de Março, Batista Custódio ironizou os abusos das honrarias públicas, denunciando os interesses e vaidades que, por vezes, corrompem o valor das distinções. “Um adversário inteligente prejudica menos que um companheiro estúpido”, escreveu ele, apontando o perigo das comendas vazias, oferecidas por conveniência ou bajulação.
Batista sabia que, quando os prêmios se tornam moeda de troca, eles deixam de exaltar o mérito e passam a alimentar o teatro da vaidade. Por isso, se vivo fosse, ele próprio exigiria — e nós exigimos junto dele — que a Comenda Batista Custódio jamais se torne só um troféu político para a barganha na compra das vaidades. Mas, sim, um selo ético, um selo moral, conferido apenas àqueles que sustentam a integridade, a independência e a coragem de informar sem se curvar aos interesses do poder.
Aliás, mais do que a simples denúncia, Batista era um dos raros jornalistas que ofertava caminhos. Ele diagnosticava, ele propunha soluções na amplidão oceânica de seu conhecimento. Antecipava o futuro a cada conversa.
Não é à toa que muitos dos políticos de todo Estado e uma penca dos que estão bem-sucedidos no escopo nacional, saíam de seus gabinetes e iam buscá-lo na Redação do Cinco de Março, na Redação do Diário da Manhã, no seu escritório, em sua casa e sempre, também, naqueles telefonemas demorados que eles faziam a ele. Todos eles buscavam a luz das soluções certeiras e Batista sempre as dava nas sugestões morais da Mais Alta Espiritualidade, com humildade, mas sempre com a força de sua polêmica, aquele elemento de sua encenação oratórica que lhe exautava a autoridade moral e consagrava a potência didática que só ele era capaz de ofertar.
Professor inesquecível… grande professor, meu professor! O tutor de todas as cores políticas.
Que honra levarão os jornalistas que serão agraciados com este ícone em seus peitos. Eu teria vergonha em receber esta comenda e não agir como o discípulo em busca do seu mestre.
Um gesto que transcende a pedra e o bronze
A criação desta comenda é, portanto, um pequeno grande ato. Um gesto de reconciliação de Goiânia com sua própria história. Em tempos em que a informação se degrada entre algoritmos e ruídos, a lembrança de Batista Custódio reacende a chama do jornalismo que deve servir à verdade e à consciência pública.
Que esta comenda não seja ornamento, mas um pacto. Que brilhe no metal, sim, mas que reluza na consciência dos que servem à verdade.
Porque… se sua vocação for realmente a do jornalista — desses raros que sangram pela palavra e se erguem pela dignidade —, e um dia você conquistar a Comenda Batista Custódio, então você poderá considerar que concluiu a sua travessia. Você chegou lá!. Pois terá alcançado o mais alto píncaro no espaço da Liberdade. Ter o seu nome associado ao de Batista Custódio é ultrapassar o limiar da honra: é a glória maior do jornalista brasileiro.