(Republicação do artigo escrito pelo jornalista Walter Menezes, 1931 - 2021)
Batista Custódio dos Santos, na juventude, voltado às lides dos campos em Caiapônia, no sudeste goiano, dos irmãos foi primeiro a ser enviado pelos seus pais, para Goiânia, a fim de estudar.
No Ateneu Dom Bosco fez parte de um grupo de jovens que absorveu os bons preceitos disseminados pelos padres salesianos seguidores de Dom Bosco.
Consta ter sido Batista colaborador do Jornal Mural ali existente, monitorado pelo legendário padre Zezinho. Então, vê-se, o rapaz tinha inclinação para jornalismo.
Mas sua entrada ao texto impresso deu-se através do Divulgador Cinematográfico, uma pequena revista por mim editada que era, entre 1955 a 1958, distribuída aos frequentadores de Cine Casablanca, o mais charmoso de Goiânia, que funcionava na atual rua do Lazer.
O professor de inglês Thales de Mileto Guimarães disse-me que tinha um amigo estudante, de muito talento que poderia colaborar no Divulgador Cinematográfico e, de pronto, entregou-me o texto de um soneto intitulado: Imara. Claro, Imara, era Maria o seu amor daqueles bons tempos de Goiânia impregnada de muito romantismo.
Concordei-me em publicar o soneto “Imara”, de Batista Custódio e destaquei as palavras “colaboração popular”. Não imaginava que aquele rapaz magérrimo estivesse ali, com o publicar do seu soneto, iniciando as suas passadas no jornalismo goiano. Mas de fato foi e Maria, vale dizer, foi a moça com a qual contraiu núpcias e a primeira filha do casamento foi a Imara, um grande esteio da consolidação do Cinco de Março e o Diário da Manhã.
Contudo, o autor tange à verdade quanto ao soneto intitulado Imara. Este sim, de fato, é um título anagramático do nome Maria. E também, sim, é possível que uma moça chamada Maria tenha sido o primeiro amor romântico do jornalista Batista Custódio no intervalo dos seus 15 e 18 anos de idade.
Uma série de poemas de sua lavra foi dedicado a ela. Não se sabe dizer, porém, se era uma paixão de sua juventude ainda em Caiapônia ou contraída em Goiânia. Pela natureza de alguns poemas, pode-se deduzir que era um amor de sua cidade natal. Aliás, pela interpretação poética, na análise literária destes raros poemas que sobreviveram ao tempo, Batista teve com Maria um amor impossível de ser continuado, a la Shakespeare, por quais quer que fossem as razões, como ele versou: “intransponíveis”, no poema Quando eu morrer, Maria.
2. Outro erro do autor foi ao dizer “a primeira filha do casamento foi a Imara, um grande esteio da consolidação do Cinco de Março e o Diário da Manhã”, não é totalmente verdade esta afirmação. Pois a filha Imara Ribeiro foi trabalhar com o pai somente no Diário da Manhã e não no Cinco de Março. Consuelo Nasser, esta sim, a segunda esposa, foi grande apoio a Batista na consolidação do semanário, além dos companheiros que iniciara com ele a jornada.
Depois de ver a poesia impressa, o neófito da comunicação entrou em contato com os jornalistas da época, como Geraldo Vale, Irorê Gomes, Goiás do Conto, José Asmar, Adory Otoniel da Cunha e outros.
O primeiro emprego
Certa feita escreveu um artigo sobre sua família e o levou para ser publicado no jornal O Popular que recebia colaboração dos leitores.
Mostrando seu trabalho ao editor-chefe do jornal O Popular, disse ao mesmo que era de Caiapônia, veio estudar em Goiânia e que desejava ser jornalista.
O redator-chefe do “O Popular”, respondeu-lhe, depois de ler o seu texto: “Jovem, você quer ser jornalista? Volte para sua Caiapônia pois que para jornalista você não terá êxito”.
Cabisbaixo, regressando ao seu hotel (Edifício Euclides Figueiredo, defronte ao Café Central) por sorte ele, Batista Custódio, passou pelo Brassèrie Restaurante, à época ponto de encontro de jornalistas que ali ficavam discutindo problemas, tomando muito café, enchendo os pires de cinza de cigarro, para o aborrecimento das pobres garçonetes.
Batista mostrou o texto para vários deles. Alguns leram o texto, outros fingiram que teria lido. Um deles, o Geraldo Vale, leu o texto e disse que o autor tinha o “Complexo de Édipo”. A turma continuou nos assuntos, dando pouca importância ao jovem.
De repente, após ter lido o texto, o talentoso jornalista Adory Otoniel da Cunha pôs-se de pé e proclamou de alto e bom som para que todos ouvissem:
“Vocês estão todos enganados! Esse jovem, é um jornalista nato, e chegará, na imprensa, a objetivos maiores do que qualquer um de nós.”
Depois, virando-se para Batista Custódio, disse: “Meu jovem, você trabalha em algum local?” – Não, respondeu o rapaz. – “A partir de hoje você tem emprego. Vai trabalhar no jornal Tribuna de Goiás que o deputado Clotário Barreto edita, do qual sou diretor”. O referido semanário, já naquela época, fazia apologia da mudança da capital federal para o planalto goiano. O rapaz foi lá, e tornou-se o colunista social, função que desempenhou a contento.
Em meados de 1958 fez parceria com Telmo de Faria e no ano de 1959 fizeram circular o Cinco de Março, que marcou época na comunicação em Goiás, tornando-se o terror dos políticos corruptos e peitou até os dirigentes da Revolução de 31 de Março, o que culminou na prisão do próprio Batista Custódio.
Nesse período crítico de sua vida conheceu Consuelo Nasser, sua parceira profissional e futura esposa. Mãe de Fábio Nasser Custódio dos Santos.
Vale acrescentar que eu, quando passei a presidência da Associação Goiana de Imprensa – para Batista Custódio dos Santos, em 1967, em sua pose, no Umuaram Hotel, se sentaram na mesma mesa Pedro Ludovico Teixeira e Sebastião Dante Camargo Júnior, as duas maiores lideranças da época, mas de correntes antagônicas.
Em 1994, Batista Custódio criou o Diário da Manhã. Eu até que não me havia entusiasmado com a idéia do diário. Mas tudo deu certo, o Diário da Manhã tem sido muito importante. Na verdade, um autêntico seguidor das passadas de o Cinco de Março, nascido no dia 5 de março, coincidentemente na mesma data em que no século passado nascia em Pirenópolis, a Matutina Meiapontense, o primeiro jornal a circular em plagas goianas.
Em tempo, o mesmo redator-chefe de O Popular, que recusou publicar o artigo de Batista Custódio, o decano do jornalismo goiano Eliezer José Penna, engajou-se no seu projeto e, mais tarde, foi um dos esteios dos primordios do Diário da Manhã.
E não existe nenhum demérito nesse episódio, pois também o Adory Otoniel da Cunha, Geraldo Vale, o professor Thales de Mileto Guimarães e eu próprio trabalhamos com carteira assinada, no Cinco de Março e/ou no Diário da Manhã.
Justifica-se, pois, as homenagens advindas da Assembleia Legislativa aos 21 anos do Diário da Manhã e os 35 anos do O Cinco de Março, cordão umbilical do Diário da Manhã.
Parabéns aos familiares de Batista Custódio, sua esposa Marly e filhos ali presentes.
Parabéns ao benquisto deputado Major Araújo, autor da proposta que culminou nas homenagens do legislativo goiano, no Palácio Alfredo Nasser, ao Cinco de Março e o Diário da Manhã, na pessoa de Batista Custódio, jornalista.
(Walter Menezes, ex-presidente e conselheiro permanente da AGI – Associação Goiana de Imprensa e diretor do Jornal da Cultura Goiana)
Este artigo foi originalmente publicado no jornal Diário da Manhã (link abaixo) e está sendo republicado no Liras da Liberdade, pois o editor-geral Arthur da Paz está redigindo um livro contendo todos os textos do jornalista Batista Custódio nos tempos do Cinco de Março, e por isso, as notas corretivas foram acrescentadas.
Walter Menezes já estava no avançar da idade quando teceu essa gentil rememória, mas informações pontuais precisam ser corrigidas para sermos fieis aos fatos, honrando a própria vontade de Batista Custódio na sua escola permanente de jornalismo: apuração, confirmação e dupla-verificação dos fatos.
Esta era a norma, e continua a norma que guia a produção dos quatro livros biográficos do jornalista Batista Custódio sob a batuta de Arthur da Paz, atual guardião do acervo patrimonial da farta produção literária de Batista.

Em tempo, Walter Menezes faleceu no dia 22 de julho de 2021, em Goiânia, vítima de pneumonia bacteriana agravada por complicações da Covid-19. Walter Menezes nasceu em Conquista (Minas Gerais) e chegou em Goiânia, com 11 anos de idade, em 1942. Isto é, nasceu em 1931. Era quatro anos mais velho que Batista e tornou-se um admirador e amigo de Batista até o fim. Visitava semanalmente a Redação do Diário da Manhã, quando já aposentado das funções jornalísticas, para sentar à mesa com Batista e travar boas discussões.
Quanto aos vínculos entre Walter Menezes e Batista Custódio:
- Walter Menezes foi presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), cargo que em 1967 passou a Batista Custódio, quando este assumiu a presidência da entidade (o autor do artigo relata essa transição).
- Em entrevista, Menezes afirmou ter cofundado, com Mário Roriz e Batista Custódio, o “Jornal Auriverde”, uma iniciativa conjunta na comunicação estudantil ou regional.
- A obra e trajetória de Batista Custódio como proprietário do “Cinco de Março” e do “Diário da Manhã” também aparecem em registros do jornalismo goiano como parte do legado ao qual Menezes se filiava, no sentido institucional e simbólico.