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Batista Custódio, do Cinco de Março ao Diário da Manhã

Da poesia inicial ao verbo combativo, o retrato de Batista Custódio narrado por quem o viu nascer para o jornalismo. Liras da Liberdade republica artigo de Walter Menezes sobre o início da trajetória do fundador do Cinco de Março e do Diário da Manhã — marcos da imprensa goiana.

Walter Menezes (1931 – 2021), jornalista, publicitário e ex-presidente da Associação Goiana de Imprensa, foi um dos primeiros a reconhecer o talento de Batista Custódio e a testemunhar sua ascensão das letras juvenis ao comando do “Cinco de Março” e do “Diário da Manhã”.

(Republicação do artigo escrito pelo jornalista Walter Menezes, 1931 - 2021)


Ba­tis­ta Cus­tó­dio dos San­tos, na ju­ven­tu­de, vol­ta­do às li­des dos cam­pos em Cai­a­pô­nia, no su­des­te go­i­a­no, dos ir­mãos foi pri­mei­ro a ser en­vi­a­do pe­los seus pa­is, pa­ra Go­i­â­nia, a fim de es­tu­dar.

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O autor errou ao dizer que Batista foi “enviado”. Batista, por sua própria vontade “escapou” para a Capital de Goiás. Ele repudiava, desde tenra idade, os modos da roça nos latifúndios e as experiências vividas sob o chicote do seu pai. Contudo, é verdade que trabalhou ainda criança no campo, mas sua vocação era irrevogável e imperiosamente os livros e a erudição.

No Ate­neu Dom Bos­co fez par­te de um gru­po de jo­vens que ab­sor­veu os bons pre­cei­tos dis­se­mi­na­dos pe­los pa­dres sa­le­sia­nos se­gui­do­res de Dom Bos­co.

Cons­ta ter si­do Ba­tis­ta co­la­bo­ra­dor do Jor­nal Mu­ral ali exis­ten­te, mo­ni­to­ra­do pe­lo le­gen­dá­rio pa­dre Ze­zi­nho. En­tão, vê-se, o ra­paz ti­nha in­cli­na­ção pa­ra jor­na­lis­mo.

Mas sua en­tra­da ao tex­to im­pres­so deu-se atra­vés do Di­vul­ga­dor Ci­ne­ma­to­grá­fi­co, uma pe­que­na re­vis­ta por mim edi­ta­da que era, en­tre 1955 a 1958, dis­tri­bu­í­da aos fre­quen­ta­do­res de Ci­ne Ca­sa­blan­ca, o mais char­mo­so de Go­i­â­nia, que fun­cio­na­va na atu­al rua do La­zer.

O pro­fes­sor de in­glês Tha­les de Mi­le­to Gui­ma­rã­es dis­se-me que ti­nha um ami­go es­tu­dan­te, de mui­to ta­len­to que po­de­ria co­la­bo­rar no Di­vul­ga­dor Ci­ne­ma­to­grá­fi­co e, de pron­to, en­tre­gou-me o tex­to de um so­ne­to in­ti­tu­la­do: Ima­ra. Cla­ro, Ima­ra, era Ma­ria o seu amor da­que­les bons tem­pos de Go­i­â­nia im­preg­na­da de mui­to ro­man­tis­mo.

Con­cor­dei-me em pu­bli­car o so­ne­to “Ima­ra”, de Ba­tis­ta Cus­tó­dio e des­ta­quei as pa­la­vras “co­la­bo­ra­ção po­pu­lar”. Não ima­gi­na­va que aque­le ra­paz ma­gér­ri­mo es­ti­ves­se ali, com o pu­bli­car do seu so­ne­to, ini­ci­an­do as su­as pas­sa­das no jor­na­lis­mo go­i­a­no. Mas de fa­to foi e Ma­ria, va­le di­zer, foi a mo­ça com a qual con­traiu núp­cias e a pri­mei­ra fi­lha do ca­sa­men­to foi a Ima­ra, um gran­de es­teio da con­so­li­da­ção do Cin­co de Mar­ço e o Di­á­rio da Ma­nhã.

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1. O autor, embora bem intencionado, errou ao dizer que “Maria” foi a moça com quem Batista Custódio casou-se pela primeira vez. Batista Custódio casou-se pela primeira vez com sua prima Vanda Ribeiro e, casado com Vanda, teve sua primeira filha, a Imara Ribeiro.

Contudo, o autor tange à verdade quanto ao soneto intitulado Imara. Este sim, de fato, é um título anagramático do nome Maria. E também, sim, é possível que uma moça chamada Maria tenha sido o primeiro amor romântico do jornalista Batista Custódio no intervalo dos seus 15 e 18 anos de idade.

Uma série de poemas de sua lavra foi dedicado a ela. Não se sabe dizer, porém, se era uma paixão de sua juventude ainda em Caiapônia ou contraída em Goiânia. Pela natureza de alguns poemas, pode-se deduzir que era um amor de sua cidade natal. Aliás, pela interpretação poética, na análise literária destes raros poemas que sobreviveram ao tempo, Batista teve com Maria um amor impossível de ser continuado, a la Shakespeare, por quais quer que fossem as razões, como ele versou: “intransponíveis”, no poema Quando eu morrer, Maria.

2. Outro erro do autor foi ao dizer “a pri­mei­ra fi­lha do ca­sa­men­to foi a Ima­ra, um gran­de es­teio da con­so­li­da­ção do Cin­co de Mar­ço e o Di­á­rio da Ma­nhã”, não é totalmente verdade esta afirmação. Pois a filha Imara Ribeiro foi trabalhar com o pai somente no Diário da Manhã e não no Cinco de Março. Consuelo Nasser, esta sim, a segunda esposa, foi grande apoio a Batista na consolidação do semanário, além dos companheiros que iniciara com ele a jornada.

De­pois de ver a po­e­sia im­pres­sa, o ne­ó­fi­to da co­mu­ni­ca­ção en­trou em con­ta­to com os jor­na­lis­tas da épo­ca, co­mo Ge­ral­do Va­le, Iro­rê Go­mes, Go­i­ás do Con­to, Jo­sé As­mar, Adory Oto­ni­el da Cu­nha e ou­tros.

O primeiro emprego

Cer­ta fei­ta es­cre­veu um ar­ti­go so­bre sua fa­mí­lia e o le­vou pa­ra ser pu­bli­ca­do no jor­nal O Po­pu­lar que re­ce­bia co­la­bo­ra­ção dos lei­to­res.

Mos­tran­do seu tra­ba­lho ao edi­tor-che­fe do jor­nal O Po­pu­lar, dis­se ao mes­mo que era de Cai­a­pô­nia, veio es­tu­dar em Go­i­â­nia e que de­se­ja­va ser jor­na­lis­ta.

O re­da­tor-che­fe do “O Po­pu­lar”, res­pon­deu-lhe, de­pois de ler o seu tex­to: “Jo­vem, vo­cê quer ser jor­na­lis­ta? Vol­te pa­ra sua Cai­a­pô­nia pois que pa­ra jor­na­lis­ta vo­cê não te­rá êxi­to”.

Ca­bis­bai­xo, re­gres­san­do ao seu ho­tel (Edi­fí­cio Eu­cli­des Fi­guei­re­do, de­fron­te ao Ca­fé Cen­tral) por sor­te ele, Ba­tis­ta Cus­tó­dio, pas­sou pe­lo Bras­sè­rie Res­tau­ran­te, à épo­ca pon­to de en­con­tro de jor­na­lis­tas que ali fi­ca­vam dis­cu­tin­do pro­ble­mas, to­man­do mui­to ca­fé, en­chen­do os pi­res de cin­za de ci­gar­ro, pa­ra o abor­re­ci­men­to das po­bres gar­ço­ne­tes.

Ba­tis­ta mos­trou o tex­to pa­ra vá­rios de­les. Al­guns le­ram o tex­to, ou­tros fin­gi­ram que te­ria li­do. Um de­les, o Ge­ral­do Va­le, leu o tex­to e dis­se que o au­tor ti­nha o “Com­ple­xo de Édi­po”. A tur­ma con­ti­nuou nos as­sun­tos, dan­do pou­ca im­por­tân­cia ao jo­vem.

De re­pen­te, após ter li­do o tex­to, o ta­len­to­so jor­na­lis­ta Adory Oto­ni­el da Cu­nha pôs-se de pé e pro­cla­mou de al­to e bom som pa­ra que to­dos ou­vis­sem:

“Vo­cês es­tão to­dos en­ga­na­dos! Es­se jo­vem, é um jor­na­lis­ta na­to, e che­ga­rá, na im­pren­sa, a ob­je­ti­vos mai­o­res do que qual­quer um de nós.”

De­pois, vi­ran­do-se pa­ra Ba­tis­ta Cus­tó­dio, dis­se: “Meu jo­vem, vo­cê tra­ba­lha em al­gum lo­cal?” – Não, res­pon­deu o ra­paz. – “A par­tir de ho­je vo­cê tem em­pre­go. Vai tra­ba­lhar no jor­nal Tri­bu­na de Go­i­ás que o de­pu­ta­do Clo­tá­rio Bar­re­to edi­ta, do qual sou di­re­tor”. O re­fe­ri­do se­ma­ná­rio, já na­que­la épo­ca, fa­zia apo­lo­gia da mu­dan­ça da ca­pi­tal fe­de­ral pa­ra o pla­nal­to go­i­a­no. O ra­paz foi lá, e tor­nou-se o co­lu­nis­ta so­ci­al, fun­ção que de­sem­pe­nhou a con­ten­to.

Em me­a­dos de 1958 fez par­ce­ria com Tel­mo de Fa­ria e no ano de 1959 fi­ze­ram cir­cu­lar o Cin­co de Mar­ço, que mar­cou épo­ca na co­mu­ni­ca­ção em Go­i­ás, tor­nan­do-se o ter­ror dos po­lí­ti­cos cor­rup­tos e pei­tou até os di­ri­gen­tes da Re­vo­lu­ção de 31 de Mar­ço, o que cul­mi­nou na pri­são do pró­prio Ba­tis­ta Cus­tó­dio.

Nes­se pe­rí­o­do crí­ti­co de sua vi­da co­nhe­ceu Con­su­e­lo Nas­ser, sua par­cei­ra pro­fis­si­o­nal e fu­tu­ra es­po­sa. Mãe de Fá­bio Nas­ser Cus­tó­dio dos San­tos.

Va­le acres­cen­tar que eu, quan­do pas­sei a pre­si­dên­cia da As­so­cia­ção Go­i­a­na de Im­pren­sa – pa­ra Ba­tis­ta Cus­tó­dio dos San­tos, em 1967, em sua po­se, no Umu­a­ram Ho­tel, se sen­ta­ram na mes­ma me­sa Pe­dro Lu­do­vi­co Tei­xei­ra e Se­bas­ti­ão Dan­te Ca­mar­go Jú­ni­or, as du­as mai­o­res li­de­ran­ças da épo­ca, mas de cor­ren­tes an­ta­gô­ni­cas.

Em 1994, Ba­tis­ta Cus­tó­dio cri­ou o Di­á­rio da Ma­nhã. Eu até que não me ha­via en­tu­si­as­ma­do com a idéia do di­á­rio. Mas tu­do deu cer­to, o Di­á­rio da Ma­nhã tem si­do mui­to im­por­tan­te. Na ver­da­de, um au­tên­ti­co se­gui­dor das pas­sa­das de o Cin­co de Mar­ço, nas­ci­do no dia 5 de mar­ço, co­in­ci­den­te­men­te na mes­ma da­ta em que no sé­cu­lo pas­sa­do nas­cia em Pi­re­nó­po­lis, a Ma­tu­ti­na Mei­a­pon­ten­se, o pri­mei­ro jor­nal a cir­cu­lar em pla­gas go­i­a­nas.

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O autor errou ao dizer 1994. O jornal Diário da Manhã foi fundado no dia 12 março de 1980

Em tem­po, o mes­mo re­da­tor-che­fe de O Po­pu­lar, que re­cu­sou pu­bli­car o ar­ti­go de Ba­tis­ta Cus­tó­dio, o de­ca­no do jor­na­lis­mo go­i­a­no Eli­e­zer Jo­sé Pen­na, en­ga­jou-se no seu pro­je­to e, mais tar­de, foi um dos es­tei­os dos pri­mor­di­os do Di­á­rio da Ma­nhã.

E não exis­te ne­nhum de­mé­ri­to nes­se epi­só­dio, pois tam­bém o Adory Oto­ni­el da Cu­nha, Ge­ral­do Va­le, o pro­fes­sor Tha­les de Mi­le­to Gui­ma­rã­es e eu pró­prio tra­ba­lha­mos com car­tei­ra as­si­na­da, no Cin­co de Mar­ço e/ou no Di­á­rio da Ma­nhã.

Jus­ti­fi­ca-se, pois, as ho­me­na­gens ad­vin­das da As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va aos 21 anos do Di­á­rio da Ma­nhã e os 35 anos do O Cin­co de Mar­ço, cor­dão um­bi­li­cal do Di­á­rio da Ma­nhã.

Pa­ra­béns aos fa­mi­lia­res de Ba­tis­ta Cus­tó­dio, sua es­po­sa Marly e fi­lhos ali pre­sen­tes.

Pa­ra­béns ao ben­quis­to de­pu­ta­do Ma­jor Araú­jo, au­tor da pro­pos­ta que cul­mi­nou nas ho­me­na­gens do le­gis­la­ti­vo go­i­a­no, no Pa­lá­cio Al­fre­do Nas­ser, ao Cin­co de Mar­ço e o Di­á­rio da Ma­nhã, na pes­soa de Ba­tis­ta Cus­tó­dio, jor­na­lis­ta.

(Wal­ter Me­ne­zes, ex-pre­si­den­te e con­se­lhei­ro per­ma­nen­te da AGI – As­so­cia­ção Go­i­a­na de Im­pren­sa e di­re­tor do Jor­nal da Cul­tu­ra Go­i­a­na)


Este artigo foi originalmente publicado no jornal Diário da Manhã (link abaixo) e está sendo republicado no Liras da Liberdade, pois o editor-geral Arthur da Paz está redigindo um livro contendo todos os textos do jornalista Batista Custódio nos tempos do Cinco de Março, e por isso, as notas corretivas foram acrescentadas.

Walter Menezes já estava no avançar da idade quando teceu essa gentil rememória, mas informações pontuais precisam ser corrigidas para sermos fieis aos fatos, honrando a própria vontade de Batista Custódio na sua escola permanente de jornalismo: apuração, confirmação e dupla-verificação dos fatos.

Esta era a norma, e continua a norma que guia a produção dos quatro livros biográficos do jornalista Batista Custódio sob a batuta de Arthur da Paz, atual guardião do acervo patrimonial da farta produção literária de Batista.

Batista Custódio, do Cinco de Março ao Diário da Manhã
Ba­tis­ta Cus­tó­dio dos San­tos, na ju­ven­tu­de, vol­ta­do às li­des dos cam­pos em Cai­a­pô­nia, no su­des­te go­i­a­no, dos ir­mãos foi pri­mei­ro a ser en­vi­a­do pe­los seus pa­is, pa­ra Go­i­â­nia, a fim de es­tu­dar. No Ate­neu Dom Bos­co fez par­te de um gru­po de jo­vens que ab­sor­veu os bons pre­cei­tos dis­se­mi­na­dos pe­los pa­dres sa­le­sia­nos se­gui­do­res de Dom … Continued

Em tempo, Walter Menezes faleceu no dia 22 de julho de 2021, em Goiânia, vítima de pneumonia bacteriana agravada por complicações da Covid-19. Walter Menezes nasceu em Conquista (Minas Gerais) e chegou em Goiânia, com 11 anos de idade, em 1942. Isto é, nasceu em 1931. Era quatro anos mais velho que Batista e tornou-se um admirador e amigo de Batista até o fim. Visitava semanalmente a Redação do Diário da Manhã, quando já aposentado das funções jornalísticas, para sentar à mesa com Batista e travar boas discussões.

Quanto aos vínculos entre Walter Menezes e Batista Custódio:

  • Walter Menezes foi presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), cargo que em 1967 passou a Batista Custódio, quando este assumiu a presidência da entidade (o autor do artigo relata essa transição).
  • Em entrevista, Menezes afirmou ter cofundado, com Mário Roriz e Batista Custódio, o “Jornal Auriverde”, uma iniciativa conjunta na comunicação estudantil ou regional.
  • A obra e trajetória de Batista Custódio como proprietário do “Cinco de Março” e do “Diário da Manhã” também aparecem em registros do jornalismo goiano como parte do legado ao qual Menezes se filiava, no sentido institucional e simbólico.

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