Sumário
O grande risco do suicídio é justamente não dar certo, como parece ser o caso da atriz de apenas 31 anos, encontrada em um hotel. Estamos em setembro, o mês dedicado à conscientização sobre suicídio, mas ninguém realmente sabe como abordar esse assunto da maneira correta. Afinal, o famoso “falem bem ou falem mal, mas falem de mim” se aplica a praticamente tudo. Tudo o que recebe muita atenção acaba atraindo adeptos, pois as pessoas são vulneráveis ao efeito manada.
Quando criança, ouvi uma piada: o sujeito estava tão decidido a morrer que tomou veneno, amarrou uma corda no pescoço e ainda deu um tiro na cabeça antes de pular na cisterna. O resultado? O tiro acertou a corda, ele caiu na cisterna, foi socorrido antes de se afogar e, com a quantidade de água que engoliu, acabou vomitando e expelindo todo o veneno. Para mim, foi importante ter crescido com essa história na cabeça, porque a vida tem momentos em que todos nós, em algum grau, pensamos nisso, mesmo que logo bloqueemos o pensamento.
Antes de bloquear a ideia, eu viajava pelas hipóteses: “E se, ao invés de morrer, em busca de alívio ou fuga, eu acabasse paralisada, com uma lesão cerebral, ou com o estômago destruído?” Essas reflexões me ajudaram a temer o fracasso, e talvez por isso nunca segui adiante.
Os parentes e amigos da atriz pedem que parem de questionar nas redes. Estão certos. Quem sobrevive a uma tentativa de suicídio fica estigmatizado. O olhar dos outros carrega julgamentos cruéis, e a tentativa se torna uma mancha no currículo, em vez de despertar cuidados. Os próprios cuidadores podem ser duros, muitas vezes jogando na cara do sobrevivente que ele está dando trabalho para os outros.
Falar de assuntos delicados é sempre um desafio. Não podemos naturalizar o suicídio, porque se os jovens começarem a acreditar que “todo mundo faz”, muitos vão querer fazer também. E, pasmem, a faixa etária entre 15 e 29 anos é a que acumula o maior índice de suicídios, com um aumento de 49% nos últimos anos.
“Falta de Deus no coração”, muitos dirão. E há, sim, uma razão nisso. Quando alguém acredita em um deus, em um coaching ou em qualquer coisa que traga esperança, isso pode funcionar como um fator de proteção. O problema de quem prega o ateísmo incessantemente nas redes é não compreender que qualquer esperança, por menor que seja, pode salvar uma vida. Preocupam-se demais com o dinheiro que a pessoa desavisada pode perder. Mas dinheiro a gente ganha de novo; a vida, não.
É por isso que não critico o teísmo e raramente falo sobre os coaches. Nem o ateísmo, nem a política oferecem esperança. E sem esperança, ninguém vive.
No caso da história do suicida que pulou no poço e sobreviveu, recorro ao medo como um aliado. No meu caso, o medo e a fé me salvaram da desesperança, em uma adolescência marcada pela pobreza e pelas perdas: pai, irmã, dois irmãos, um sobrinho e dois priminhos bebês, todos em poucos anos. A fé e o medo foram essenciais para não sucumbir.
Para mim, funcionou. Depois, encontrei a psicanálise, ressignifiquei as experiências ruins e segui vivendo uma vida que considero tão plena que chego a chamar de mágica, ou até mesmo de milagre. Teria sido um desperdício se eu tivesse partido antes de experimentar essa vida tão linda. E a vida pode se transformar a qualquer tempo, em qualquer idade. Talvez não da forma como você planeja, mas de um jeito incrível, que só a vida sabe criar.
“Desesperar… Jamais.” Ou, se desesperar, apenas não faça. Sempre há mais de uma saída para qualquer situação.