Sumário
Na manhã desta quarta-feira, 27 de novembro de 2024, a Academia Goianiense de Letras (AGnL) realizou uma Sessão Magna para a posse de novos membros em sua sede, a Casa Altamiro de Moura Pacheco, localizada no Centro de Goiânia. Sob a liderança da presidente Dra. Marislei Espíndula Brasileiro, o evento reuniu acadêmicos, familiares e convidados em uma celebração marcada pela reverência à cultura e à literatura.
A programação teve início às 9h com um café da manhã de confraternização. Às 9h30, a cerimônia começou com um clima de expectativa e respeito ao legado deixado pelos antecessores.
Foram empossados como membros titulares:
• Arthur da Paz, ocupante da Cadeira nº 32, anteriormente pertencente a Hélio Rocha e que tem como patrono Benedito Odilon Rocha.
• Zilmar Mendes Ferreira Garcia, na Cadeira nº 17, cujo patrono é Nelly Alves de Almeida.
Como membros correspondentes, tomaram posse:
• Patricy Tormim da Veiga, na Cadeira nº 51, cuja patrona é Darci França Denófrio.
• Maria Aparecida Batista Borges dos Santos, na Cadeira nº 52, com a patrona Ana Braga.
• Antônio Philipe de Moura Pereira, na Cadeira nº 53, cujo patrono é Elder Rocha Lima.
Em seus discursos, os novos acadêmicos destacaram a importância da cultura e do reconhecimento literário para o desenvolvimento da sociedade goianiense e expressaram gratidão pela oportunidade de integrar a instituição. Arthur da Paz abriu a sequência de falas, emocionando os presentes ao rememorar a contribuição do patrono Benedito Odilon Rocha e do seu filho Hélio Rocha para a literatura goiana.
A presidente da AGnL, Dra. Marislei Espíndula Brasileiro, encerrou a cerimônia ressaltando o papel da academia como guardiã das letras e incentivadora da criação literária. “A Academia Goianiense de Letras continua a honrar sua missão de preservar o patrimônio cultural de Goiás, ao mesmo tempo em que acolhe novas vozes para escrever os capítulos futuros de nossa história literária”, afirmou.
O evento reforça o compromisso da AGnL com a promoção da cultura e das artes, além de marcar mais um capítulo em sua trajetória de quase duas décadas dedicada à valorização das letras goianienses.








Crédito: Ruber Couto
Íntegra do discurso de posse do jornalista Arthur da Paz
Senhoras e senhores, membros ilustres da Academia Goianiense de Letras, bom dia.
É com imensa honra e um profundo senso de responsabilidade que me apresento diante de todos nesta manhã. Este momento não é apenas um marco pessoal, é primeiramente um tributo àqueles que vieram antes de mim e pavimentaram o caminho da literatura goiana.
Começo, aqui, com uma referência inescapável: meu pai, o jornalista, poeta, revolucionário, idealista e humanista Batista Custódio. Ele foi meu guia e maior exemplo de como a palavra pode ser poderosa. Sob sua bússola intelectual e moral, eu passei a infância na companhia de mestres da filosofia, da literatura e das artes, no convívio com os livros de sua biblioteca. Aprendi a importância da escrita como ferramenta de transformação do pensamento humano e, positivamente, da sociedade.
Em um dos nossos longos diálogos, marcou-me uma sentença que ele verbalizou, bravio e enérgico, como era: – “Para mim, meu filho, a parte mais revolucionária da literatura é a poesia”. A poesia, como ele bem sabia, é onde se encontra o elo entre a dor e a esperança, o cosmos comum entre a razão e a alma.
Pude testemunhar, ao seu lado, a força da palavra. Nos 15 anos que atuei com ele no Diário da Manhã, entre as dezenas de projetos realizados, editamos juntos o caderno Força Livre, que foi mais do que uma seção de jornal. Representava um compromisso com a cidadania, um veículo que deu voz aos inaudíveis e visibilidade aos invisíveis. Sob sua liderança, não apenas informávamos, mas transformávamos realidades. Aprendi, com ele, que a literatura, assim como o jornalismo, deve sempre ter um propósito evidente: iluminar e promover o bem.
Outro marco fundamental na minha trajetória foi a edição do maior editorial já publicado na história da Imprensa. O artigo “Luz Quebrada”, e que agora vamos publicar em formato livro. Obra monumental que Batista Custódio escreveu, que tive a honra de editar integralmente. Trabalhar nesse projeto foi um aprendizado de coragem e verdade, em cada uma das suas 86 páginas de jornal, em formato standard.
Hoje, ao fundar o jornal Liras da Liberdade, eu sigo o caminho que ele me ensinou. Acredito que a Literatura é uma ponte entre o passado e o futuro e acredito que os escritores têm a missão de manter viva a chama da liberdade, da justiça e da beleza.
E por falar em beleza… Agora, levarei o meu abraço ao espírito do ilustre Benedito Odilon Rocha, patrono da Cadeira nº 32 desta seleta Academia. Sua contribuição à literatura goiana merece ser sempre lembrada. Ele converteu o Cerrado em poesia. Odilon Rocha foi exemplo de sabedoria, dedicação e amor pela escrita. Com as folhas douradas de sua Caraíba, ele pintou de amarelo as páginas de muitos sonhos. Representa, para nossa cultura, uma figura fundamental, e é uma grande honra para mim ocupar esta cadeira que leva o seu nome. O legado da legenda de Odilon Rocha, o poeta, o prosador, o compositor e também jornalista, será uma permanente fonte de inspiração para nós, e espero ser digno de dar continuidade a essa memória tão bela e necessária às gerações que virão.
Em 5 de março do presente ano, seu filho, Hélio Rocha, brilhantíssimo jornalista e escritor, que foi editor-chefe de jornais, repórter e autor de três obras importantíssimas para a historiografia goiana, partiu aos 83 anos para a imortalidade. Pelo seu texto, sua história, honrou a cadeira nº 32 e, certamente, saiu aqui desta vida, apressado, para ir dar um abraço em seu pai e patrono, o laureado Odilon Rocha.
Então, caríssimas e caríssimos confrades. Ao tomar o meu posto nesta cadeira, tenho dois nomes enormes que saberei honrar, e conto com a ajuda paciente de vocês.
Tenho consciência de que me torno parte de uma tradição que exige compromisso, humildade e, principalmente, amor pela Literatura, que deve ser sempre um farol de esperança e mudança.
Concluo, deixando uma gratidão para a minha mãe, Marly, que está aqui. Que se fez professora toda a vida, e foi quem ensinou-me a empunhar corretamente o lápis e a traçar o código sagrado das primeiras letras para espargir a magia das primeiras frases, nesta presente vida. Deixo, também, um beijo imortalizado aqui para minha esposa, Julyane, que como um dínamo gravitacional, translada meu amor em torno da órbita de sua estrela de mulher livre, culta e amante das artes.
Obrigado aos, agora, meus confrades de Academia, que tiveram a ousadia de convidar um jovem sonhador, idealista, com o peito inundado de energia e vontade de ver esta Casa cumprir o seu desiderato: preservar e potencializar os tesouros do pensamento goianiense.
Que o espírito dos nossos patronos celebre! Pois a centelha divina da alegria desceu, hoje, dos Campos Elísios, e veio abrir sorrisos e felicidades para nós.
Muito obrigado!
Íntegra do discurso de posse da escritora Zizi Mendes
Bom dia!
Excelentíssima Sra. Presidente da Academia Goianense de Letras, Dra. Marislei de Sousa Spíndola Brasileiro. Senhoras Acadêmicas, Senhores Acadêmicos, familiares, amigos e demais presentes.
Inicio este discurso com um profundo e sincero agradecimento aos amigos acadêmicos que votaram e aprovaram minha entrada nesta respeitada casa. Quando soube de minha aprovação, senti uma alegria imensa, pois este momento é, sem dúvida, um dos mais especiais.
Ocuparei a cadeira 17, tendo como antecessora a brilhante Nelly Alves de Almeida, um nome que carrega um legado grandioso. Nascida em Jaraguá, em 1º de outubro de 1916, e falecida em 5 de dezembro de 1999, Nelly foi escritora, professora e fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. Formada em Línguas Neolatinas pela UCG, ela se dedicou ao magistério e deixou sua marca com importantes contribuições literárias e filológicas, além de um exemplo de dedicação e liderança. Sua trajetória inspirada e suas realizações, como a fundação da AFLAG e sua atuação em instituições culturais e literárias, são uma fonte de grande admiração.
Quero relatar a jornada que me trouxe até aqui. Sinto-me emocionada. Eu sou da geração dos anos 60, minha infância foi vivida em uma zona rural. Eu não tinha brinquedos nem livros. As leituras eram realizadas nos livros didáticos que eram repassados de irmãos para irmãos. Eu lia também a revista Cruzeiro, Placar, revistas de futebol e o almanaque do meu avô.
Mas havia um fato muito bacana: todas as noites, antes de dormir, uma tia contava histórias fantásticas: de fadas, reis, rainhas, assombrações, histórias de horror, de Pedro Malasartes e piadas. Lembro-me, ainda, da forte impressão que tive ao ler Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos. Essas leituras inicialmente me influenciaram, e depois vieram tantos outros livros.
Sou natural de Bela Vista de Goiás e, após estudar em escolas públicas, formei-me em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Especializei-me em Psicopedagogia e Educação Inclusiva, dedicando grande parte da minha vida ao magistério. Ingressando por concurso público nas Secretarias de Educação Estadual de Goiás e Municipal de Educação de Goiânia, lecionei por décadas, promovendo a educação com amor e compromisso, até minha aposentadoria.
Hoje, com orgulho, assino como Zizi Mendes, pseudônimo adotado em minhas publicações. Entre minhas obras infantis publicadas, destaco Vestido Feio, mas a coroa veio e as crônicas publicadas nas redes sociais. Entre elas: Entre Tintas e Livros: Uma História de Amor, Uma Experiência Inusitada no Teatro, Desenhos de Família, Passeio ao Clube: Um Exemplo de Solidariedade e Uma Viagem Imaginária ao Japão.
Outros livros escritos que pretendo publicar: Sempre Amigos, A Pequena Cientista, Reunião dos Fantasmas, Fogo na Bota, Meu Foguete Imaginário, Relatos de Ângela, O Feitiço da Bruxa Xanuca Patacuca, Quem Roubou a Roupa do Papai Noel?, Narrativas para as Mulheres e Crônicas de uma Professora.
Quero agradecer, sinceramente, à minha família, amigos e colegas que, com paciência, incentivo e amor, me ajudaram a trilhar o caminho literário. Esse apoio foi fundamental. Toda a compreensão, estudo compartilhado e incentivo no caminho literário que recebi, especialmente nestes dois últimos anos.
Por fim, confesso que assumir a cadeira 17 é um desafio, mas também uma grande satisfação. Pretendo seguir os passos da querida Nelly Alves de Almeida com responsabilidade e entusiasmo. Estou ciente do compromisso que essa posição exige. A cada página escrita, a cada palavra compartilhada, sinto-me honrada em fazer parte desta Academia.
Com gratidão e reverência, encerro minhas palavras, agradecendo por este momento inesquecível.
Muito obrigada!
Memorial da membro correspondente Cida Borges
Entre as imagens, as palavras e o invisível
Pensei em escrever um memorial inspirador, que transitasse entre a palavra e a imagem, capaz de representar minha trajetória fluida e dispersa entre tantas facetas: mãe, professora, pesquisadora, escritora, assessora editorial, semioticista, roteirista, projetista, produtora cultural... Resolvi, então, conceber uma crônica singela para apresentar uma narrativa que traduza e expanda meu olhar — bem aristotélica, com início, meios e fim — ao deleite das pessoas ávidas por enredos surpreendentes; que seja descritiva, reflexiva, lírica, enigmática ou opinativa, talvez, ou, quem sabe, apresente todas essas características, ou nenhuma delas.
Fui em busca da origem da palavra crônica, que veio do grego khrónos, e significa “tempo”. De khrónos deriva chronikós, cujo significado quer dizer “relacionado ao tempo”. Em latim, chronica significa “narrativa cronológica”. Logo, entendi que este memorial, direta ou indiretamente, estará ligado ao tempo — gênero com o qual, sem mais delongas, e metalinguagens à parte, me apresento, pois preciso ser breve ao revelar-me e refletir sobre as miudezas que constituíram o cenário no qual me encontro inscrita, cotidiana e aleatoriamente.
Sim, o protagonista deste texto é o tempo: fundamental, relativo e complexo em seus paradigmas. E, por esse viés, início afirmando:
A vida é feita de retalhos de crônicas que tornam memoráveis nossas experiências e lembranças, costuradas numa tela suspensa no ar, chamada tempo — tão frágil! Ela pode balançar, mover-se em destinos incertos ou levar a vida para outras lonjuras, num desfecho surpreendente, o derradeiro momento de existências.
Nesse percurso, entre o sonhado, o inimaginável e o possível, alinhavei os pedaços que me mantinham inteira. Diante dos desafios, buscava socorro na imaginação para suportar os dias implacáveis. A vida parecia tão vazia de significados! O tempo rastejava ao meu redor, desenhando formas largas no chão, que, vez ou outra, me abocanhavam como numa sequência de desenho animado de mau gosto.
Nesse ínterim, o tempo passou. E tinha mesmo que passar, porque ele sempre passa. Isso é certo: atravessa os dias, os meses, os anos, os séculos. Agora, sexagenária, tento escrever simulando imagens desenhadas no porvir, atenta aos sinais plurais, desconexos e, paradoxalmente, plenos. Esta crônica parece dissimulada e imprecisa — e assim ela é. Esconde mais do que revela ou, talvez, revele mais do que esconda.
Como expressá-la e compreendê-la, inscrita nessa narrativa fluida, efêmera e atemporal – nessa forma de linguagem chamada vida?