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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

A vida e as reparações

A psicóloga, música e escritora Ana Paula de Siqueira Leão se utiliza do sublime pensamento clínico, e conceitos teóricos, de Melanie Klein, para discorrer sobre o lugar da reparação em nossas vidas.

Melanie Klein, AI generated

Todos passamos por problemas na vida, e isso resultaria em termos que lidar com nossos "defeitos". Penso que, se utilizarmos a palavra "dificuldades" seria mais apropriado, para manejarmos melhor tal temática, uma vez que: os nossos "defeitos" se reduziriam a somente tentar consertar algo pontual, que estaria errado. Todavia, se assumirmos que temos dificuldades, isso implicaria em tentativa de reparação: no sentido global.

Melanie Klein, psicanalista pós-freudiana, estudou a fundo a capacidade de reparação. Para ela, a reparação é um processo, ou função psíquica - que está ligada às relações de objetos primárias, fundamentais para o bebê, face a seu mundo externo; primordialmente tratando-se da mãe ou do cuidador.

Esses objetos são representações internas das pessoas, ou parte delas, que têm significado emocional. Como a reparação se dá? Quando nascemos, vivenciamos angústia de morte, já que não somos aptos a cuidarmos de nós mesmos, e totalmente dependentes. Klein enfatiza que, nesse processo, o bebê deverá passar, inicialmente (os primeiros meses), pela fase que ela nomeou "fase esquizo-paranóide"; ou seja, o bebê vivenciaria ansiedade persecutória, na medida em que ele divide, cinde, o seu objeto (mãe ou cuidador) em "seio bom"; o que atende às suas necessidades vitais, fisiológicas e emocionais; e em "seio mau" - que o frustra, podendo, em decorrência, ascenderem fantasias agressivas, e, até mesmo, desejos de destruir seu "objeto mau". Sendo assim, poderá advir medo da retaliação.

À medida em que a criança vai crescendo, ocorre o processo da separação; quando o bebê já consegue ver a sua mãe, ou cuidador, diferenciado dele, por inteiro. Dessa forma, a criança deverá passar para a "fase depressiva", uma vez que ela começa a perceber que tentou destruir a sua mãe ou cuidador, e, consequentemente, irá sentir culpa, e tentará reparar os danos que "causou".

Mas tudo isso somente é possível se a mãe ou o cuidador forem suficientemente bons e adultos, no sentido de tolerarem as projeções do seu bebê, sem tratá-lo com hostilidades.

Então, é nas interações pessoais iniciais que ocorre o desenvolver da personalidade da criança, e, sendo assim, isso norteará o indivíduo na sua forma de se relacionar. A reparação permite o amadurer emocional - a criança ou o adulto poderia superar a culpa, lidar com sentimentos destrutivos, como o ódio, o rancor, ciúmes, a inveja; sem ficar paralisado pela ansiedade.

Relacionar-se bem com os outros pressupõe estar-se de bem consigo. Perdoe-se e peça perdão; sinta-se, ame-se, e crie arte, quem sabe, uma canção. É preciso ser criativo para lidar melhor com as agressividades que são inerentes: onde há amor também existe ódio. Sublime as agressividades, fazendo esporte, arte, talvez psicoterapia.

Penso que assim é possível que se encontre paz interna, para que se tenha mais prazer na vida. Permita-se, conte ao mundo a respeito de você - o que você mesmo gostaria de ouvir sobre si.

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