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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Sustentei

Entre a gravata, o misto quente e a pasta de dente: um dia comum antes, durante e depois da sustentação.

Photo by Tingey Injury Law Firm / Unsplash

Ihhh, rapaz… tô atrasado. Mas, quando não estou, não é? Enfim, são tantos afazeres… por onde começo?

Um bom começo é escovando os dentes. Aprendi isso desde criança. Escova, pasta, água. Escovo, escovo. Ai! Dor. Sensibilidade? É, acho que é. Preciso comprar a pasta que tira a sensibilidade. Como chama mesmo? Esqueci. Preciso perguntar a alguns dentistas. Vi que 9 deles a cada 10 a indicam. Conheço 9 dentistas? Acho que não. Se perguntar para 6 serve, né? Mais da metade.

Termino de escovar. Água. Pia. Limpo. Refresco.

O julgamento volta às 13 horas. Ou é às 14? Não me lembro. Acho que chegando 13h30min deve dar tempo. Será que vou ganhar? Não sei. Geralmente quando se ganha, não se precisa sustentar. Vamos ver. Quem sabe?

Uma vez falei do preço do misto quente no aeroporto para fazer analogia com meu caso de concorrência desleal. O desembargador concordou comigo, mas não proveu meu recurso. Fazer o quê, né?! O preço continua alto, e eu perdi.

Uma vez reclamei do preço abusivo do misto quente em uma padaria. A moça me falou que, se tem preço assim, é porque tem gente que compra. Ela está errada? Acho que não.

A quem me lê: não sou contra o misto quente ou algo do tipo. Nada contra queijos, presuntos e pães. Gosto mesmo é de café. Que também é caro.

A vida do advogado que se conecta virtualmente ao julgamento não é fácil. É preciso ouvir o julgamento de todos os processos para saber quando será o seu. Perguntam-me: “não tem pauta?” Tem. Mas não sei qual a ordem.

Número 12 da pauta. Começou pelo 33. Vai entender. Já foram as prioridades e os colegas que foram presencialmente.

33. 6. 8. 29. 15. É uma bela ordem, mas não é lógica. Deve ter uma lógica. Mas não sei qual é. 25. 18. 11. O meu é o próximo? Não necessariamente.

Uma hora vai. Ou melhor, 16h vai. Me preparo. Papel. Caneta. Rascunho. Treino. O recurso foi feito, agora é comigo.

Chamam o número 12. Sou eu. Sei o que fazer. Cumprimento a todos. Excelentíssimos. Membro do Ministério Público. Colegas. Serventuários. O olá de sempre. Isso acalma o nervosismo. Fico nervoso? Acho que já fiquei. Lembra-se daquele julgamento de que falei do misto quente? Comecei nervoso, mas terminou bem. Terminou em pizza? Não. Terminou em misto quente, mas perdi.

Neste estou calmo. Confiante? Acho que não, pois quando se precisa sustentar... geralmente o recurso não deu certo.

Vamos lá. “Peço a reforma da sentença...” e o resto é juridiquês, não vale a pena.

Falo, falo, falo. Tenho 15 minutos. Uso tudo? Uso nada. Preciso de dois votos de três possíveis. Acabei. Ouço o relatório. Ouço o voto. Consegui? Não. Tudo bem. Outro dia farei outra sustentação.

O dia de uma sustentação oral é corrida. Fico de gravata o dia todo. Quando serei chamado? Não sei. Por isso, a gravata.

Gosto de sustentar. Saio da zona de conforto. Meu pai sempre me disse “quem não é visto, não é lembrado”. Ser visto é sempre bom. Queria ter ido presencialmente, mas dessa vez não deu. Ir ao Tribunal é melhor. Muito advocatício. Com OAB e tudo.

Saí do escritório. Vou para casa. Estou a pé. Chuva? Ainda não. Quem leu sabe. Mas não está na época de chuva. Vou para casa. Todo paramentado, todo jurídico. Camisa. Calça. Sapato. Glamour da advocacia. Mercado. Preciso da pasta de dente. Perguntei à moça do caixa qual era a marca. Ela não é dentista, mas me ajudou.

Casa. Sofá. Chega. Amanhã é outro dia.

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