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Reflexões de uma grande saudade em meio ao segundo aniversário celestial de Batista Custódio

Batista Custódio faria, hoje, 90 anos. Artigo do filho João do Sonho marca aniversário do pai com tributo comovente e inesquecível. “Batista foi um espelho raro, daqueles que mostram o que podemos ser se formos íntegros, resilientes e verdadeiros”, afirma o autor

Batista Custódio e o filho João do Sonho, autor do artigo (crédito: Arquivo Pessoal)

Sumário

Hoje, 9 de abril de 2025, marca o segundo aniversário celestial de Batista Custódio dos Santos — para muitos, o maior jornalista da história do Estado de Goiás e um dos mais brilhantes do Brasil, de seu tempo. Para mim, porém, ele sempre será algo ainda maior: o melhor pai que eu poderia ter tido em quase 22 anos de vida ao seu lado.

Não falo apenas como filho, mas como alguém que teve o privilégio raro de conviver com um ser humano épico, que, no auge de sua sabedoria, transmitiu o que de mais precioso acumulou ao longo de uma longa e rica jornada. Batista foi pai em idade de avô — e isso, longe de ser um detalhe, foi uma bênção. Recebi dele não apenas afeto, mas conselhos moldados pela experiência, pela ponderação e por uma lucidez de quem já havia vivido, enfrentado e vencido muito.

Conviver diariamente com alguém tão extraordinário nos obriga a enxergar a vida com mais profundidade. Estar ao lado de alguém que transcendeu as vendas que cegam a razão, ferida pelos espinhos dos extremismos ideológicos, sociais e econômicos, é uma escola silenciosa e contínua. Viver com um homem assim amadurece a alma. E esse amadurecimento precoce, em áreas que muitos morrem sem alcançar, é um legado silencioso de quem viveu com grandeza moral, intelectual e espiritual.

Mas é preciso humildade para aprender com esses gigantes. É necessário reconhecer que cada gesto, cada silêncio, cada palavra — vinda de alguém assim — carrega o peso de milhares de experiências, tropeços, vitórias e superações. E eu, com a humildade que ele mesmo me ensinou, procurei absorver tudo o que pude. Batista foi um espelho raro, daqueles que nos mostram o que podemos nos tornar se formos íntegros, resilientes e verdadeiros.

Batista Custódio carrega o pequeno João do Sonho em seu colo: sempre guiando os caminhos

Meu pai foi, e sempre será, o defensor da liberdade e da justiça, o grande inimigo das ditaduras, o exemplo de moral que desprezava os moralistas, o encantador das palavras e das pessoas, o conselheiro de presidentes, governadores e prefeitos — mesmo sem jamais disputar um cargo.

Foi o discípulo predileto de Alfredo Nasser, o amigo de JK e Pedro Ludovico, o admirado por Chico Xavier, e o fundador de três grandes trincheiras da liberdade de expressão em Goiás: os jornais Cinco de Março, o Diário da Manhã e também, o Liras da Liberdade. Este último, ele não viu materializar-se. Tinha em Deus, em seu forte senso de justiça, na máquina de escrever, no papel e no cigarro seus companheiros inseparáveis de criação.

Nunca buscou reconhecimento. Lutava por convicção, pela defesa do bem e pela proteção do bem maior: a liberdade. Desconfiava dos elogios e não gostava de homenagens — talvez porque sabia que as maiores honras não estão nas palavras, mas na verdade de uma vida vivida com dignidade.

Ele falava pouco, pois sabia que “os tolos falam demais e os sábios ouvem muito”. Foi um romântico inveterado, um construtor da história de Goiás, um filósofo prático, um amante da natureza, das músicas clássicas e dos faroestes. Nunca desistia. Perdoava mesmo quando era traído. E ensinou, com o próprio exemplo, que caráter não se negocia.

Tudo isso pode parecer exagero para quem não o conheceu. Mas para mim, para minha família e para todos que foram tocados por sua grandeza, essa é apenas uma tentativa de fazer justiça à sua memória.

Neste segundo aniversário de sua partida, não celebro o luto. Celebro a herança imensurável que ele nos deixou. E reafirmo: Batista Custódio dos Santos foi, é e continuará sendo a maior saudade de Fábio Nasser, o maior leitor que conheci, o filósofo silencioso, o pai que jamais será esquecido.

Foi ele quem me deu o nome de João do Sonho, e à minha irmã, o de Maria do Céu, porque acreditava que nomes carregam destinos. Deixou, assim, uma marca sua diariamente presente na minha vida, gravada em cada vez que meu nome é chamado. E o destino que ele escolheu viver e que nos inspira a seguir foi o da retidão, da coragem e da sabedoria.

Meu irmão Arthur da Paz segue seus ensinamentos e busca homenageá-lo diariamente, entre as “liras da liberdade” e na preservação de seus escritos.

Minha mãe, Marly, sua companheira de vida, mostrou ser, mesmo após sua partida, a maior representação de amor que já vi entre dois seres humanos.

Júlio Nasser, João do Sonho, Maria do Céu, Arthur da Paz, Batista Custódio e a esposa Marly

Meu outro irmão, Júlio Nasser, continua dando o seu melhor no Diário da Manhã.

Minhas irmãs Imara, Verônica, e, por carinho e laço, também Karina e Sabrina, seguem te amando como sempre.

Todos nós, mesmo em meio a tantas lutas, seguimos firmes, tentando preservar e transmitir aquilo que o senhor nos ensinou.

E eu, do fundo do meu coração, espero que hoje, neste 9 de abril, o céu esteja em festa. Porque uma lenda está comemorando, sua data natalina, cercado por todos aqueles que ele sempre amou e que, agora, estão com ele, na mesma dimensão. A dos justos.

João do Sonho Custódio é estudante de Direito

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