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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Quando procurar o psicanalista? Conheça os sinais para buscar a psicanálise

O psicanalista Edson Manzan Corsi, coordenador do Capítulo Brasil Centro-Oeste da Associação Internacional de Neuropsicanálise (NPSA), esclarece sobre as circunstâncias em que pode ser útil e salutar a procura por uma psicanálise

O famoso divã de Sigmund Freud

Sumário

No tempo em que tenho trabalhado como psicanalista, por diversas vezes, deparei-me, em diferentes contextos, com a pergunta: “quando procurar um psicanalista?”, mais em termos do senso comum; ou, em teor mais técnico (na Academia, por exemplo): “quando pode ser interessante iniciar um processo analítico?”. De início, minha resposta mais simples seria: sempre que o sujeito desejar melhorar, mudar, algo em si, ou de sua relação com os demais, e a mudança não ocorrer, ou, pelo menos, começar a acontecer, mediante uma simples decisão consciente, deliberada. Isto é: quando alguém se vê, em períodos maiores ou menores, repetindo algo ruinoso a si próprio ou aos outros, e não consegue deixar de recair, mesmo que já tenha utilizado, para tanto, considerável esforço; e percebido com clareza a nocividade da situação que se reproduz.

Em todo caso, neste breve texto, tentarei ser um pouco mais específico, por considerar que esta é uma percepção e reflexão passível de contribuir para que se apreenda quando é conveniente, e quando até pode ser bem relevante, iniciar o mencionado processo, conforme a gravidade da posição na qual o sujeito se encontra. Trata-se, então, de recorrer a um tipo de ajuda técnica, que se situa para além dos meros aconselhamentos, estes que tendem a partir da visão do aconselhador - não levando de fato em conta, desse modo, o contexto e a história de vida do “aconselhado”.

Um ponto fundamental, como proposto, é vislumbrar a ocorrência da repetição, ruinosa, seja do ponto de vista subjetivo e/ou material. Isso pode se dar, por exemplo, nas relações amorosas, quando, periodicamente, ocorre algum tipo de catástrofe afetiva; de escolha do mesmo estereótipo de parceiro, com o qual se tem o mesmo estilo de relação que culmina em algo, nesse sentido, sucessivamente prejudicial: espécie de clichê, a se reatualizar. Outro exemplo toca na vida financeira, quando a autossabotagem, no trabalho ou nos investimentos, sempre vem a precarizar, ou a não deixar sair do lugar, determinada conjuntura material-monetária. Cabe observar, ainda, o caso de algum sentimento pesado, ruim, mortificante; que não passa, como se estivesse nos tomando, e, assim, sabotando-nos. E a se deslocar, ou seja, movendo-se ao longo de diferentes contextos de nossa vida, com maior ou menor intensidade, mas sempre a prejudicar; ou a diminuir muito a quota de prazer que poderíamos ter, ao desfrutar das coisas boas e interessantes que o dia a dia venha a oferecer - ou que talvez nos fosse possível, em estado emocional diferente e menos massacrante, nele buscar.  

A psicanálise trata dessas questões, especialmente, pela via da escuta. Uma escuta cautelosa do discurso que o paciente venha, então, a apresentar no decorrer de suas sessões, e, assim, trabalhando com ele, paulatinamente, a elaboração de maneiras mais interessantes, em acordo com cada caso, de lidar com os aspectos postos em questão. Por conseguinte, a psicanálise é uma das possibilidades mais interessantes diante do sofrimento humano, porque se aproxima dele por meio do que o constitui: a experiência singular, e as formas profundas do pensar e do sentir. Experiência que se manifesta, desvela-se, em suas relações e associações com o mundo das palavras; pelas manifestações do inconsciente:  atos falhos, ditos espirituosos (jogos de linguagem, muitas vezes com efeito cômico), repetições de padrões discursivos, esquecimentos... e relatos de sonhos.

Os sonhos, segundo Sigmund Freud, o neurologista austríaco criador da psicanálise, formam a via régia de acesso ao inconsciente. O inconsciente, numa tentativa muitíssimo sucinta de definição, seria a parte da mente que traz os conteúdos que nos tomam, que não controlamos conscientemente, que não dominamos simplesmente de acordo com nossa vontade, que nos colocam, por exemplo, em autossabotagem, repetição, somatização de conteúdos emocionais...  

Assim, é importante ressaltar, ainda, que a psicanálise não é mero produto de especulação. Ela é resultado da intensa experiência clínica inicial de Freud; que também proporcionou avanços de diversos outros autores que o seguiram. Seu objetivo não é mudar totalmente uma personalidade, ou chegar a um ponto no qual não se tenha mais problemas ou questões, mas fazer com que o paciente passe a lidar melhor consigo mesmo, e saia de um sofrimento doentio diante da vida; passando a encarar de forma mais tranquila e produtiva as adversidades comuns ao dia a dia, no que diz respeito a todos nós, e nossa condição humana.         

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