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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

O elegante samba de Fernando Boi. Traduzindo para o goianês: — Um samba “Pôdichique”!

Fernando Boi, artista multifacetado e figura essencial da cena musical goiana, lança o álbum “Batuques & Amores” e fala sobre arte, esporte e resistência cultural, em entrevista feita por João Marcello

Fernando Boi: artista goiano celebra o lançamento do álbum Batuques & Amores com a elegância de sempre — um samba feito com alma, afeto e resistência.

O universo do samba em Goiás é riquíssimo. Vários dos profissionais que brilham na cena local — cantores, cantoras e instrumentistas — teriam lugar, sem nenhum exagero, em qualquer roda do Brasil.

Dos muitos excelentes nomes que atuam em Goiás, hoje esta coluna acende seus holofotes sobre Fernando Boi, um artista completo que canta, compõe, toca diferentes instrumentos musicais, produz e é dono de uma inquietação criativa digna de louvor e registro. É também um verdadeiro lord no trato com as pessoas, generoso ao extremo com os colegas, sempre abrindo espaços e promovendo parcerias que enriquecem a cultura goiana.

Muitos já me ouviram dizer que, na minha opinião, Fernando Boi e Xexéu são atualmente os principais embaixadores masculinos do gênero em terras Goyazes — sem, com isso, limitar uma arte que tem potencial para ganhar palcos e conquistar plateias Brasil e mundo afora.

Fernando já lançou 13 álbuns solo, 14 singles, um CD com seu primeiro grupo musical, Alvorada do Samba, e uma participação na coletânea Brincadeiras – Marchinhas Carnavalescas, de Nádia Pires. Alguns desses registros foram inscritos em seletivas do Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum Samba/Pagode” e integram playlists de rádios em Goiás e em outras partes do país.

Neste 2025, Fernando lança seu mais recente trabalho: Batuques & Amores, álbum com doze faixas autorais (com exceção de “Pudor”, de Hugo Timo). As canções revelam sua delicadeza vocal, harmônica e melódica — ele faz samba como quem faz uma declaração de amor.

Leonardo Ribeiro, parceiro de longa data, faz um dueto na faixa “Raiz de Boêmio”, uma das primeiras composições de Fernando. “Apesar de tocarmos juntos há mais de quinze anos, esse é nosso primeiro registro fonográfico conjunto”, destaca o artista.

Fernando Boi ao lado da gigante Cláudia Garcia. Cláudia foi uma das grandes vozes do samba em Goiás, reconhecida por seu talento, generosidade e alegria. Faleceu em fevereiro de 2021, aos 49 anos, vítima de complicações da Covid-19, após breve internação em Goiânia. Seu corpo foi cremado, conforme seu desejo, e as cinzas lançadas ao mar. Deixou um filho e uma legião de admiradores, além de um legado musical incomparável.

Com temas que vão das relações humanas à boemia, das despedidas à saudade da mãe, o álbum presta uma justa homenagem a figuras queridas e imprime a assinatura afetiva do artista. Destaque para a faixa “Poderosa”, escrita a pedido da saudosa Cláudia Garcia (foto). A canção, interpretada por Mirian Marques, emociona: “Ela gravaria a música e não deu tempo. Chamamos então a Mirian, que interpretou divinamente”, conta Fernando.

Os arranjos levam a assinatura de Anderson Umbuzeiro. A ficha técnica inclui Jader Gomes (bateria), Merê (contrabaixo), Wagner Almeida (percussão), André Martins (trombone), Wellington Santos (flugelhorn), Miqueias (clarineta), Lucas Barbosa (violão 6 cordas), Pedro Vasconcelos (cavaquinho) e Fernando Cesar (violão 7 cordas), irmão do renomado Hamilton de Holanda. A engenharia de som ficou a cargo de Higor Alves Luécio.

O projeto teve apoio do Programa Goyazes (Secult Goiás / Secretaria da Retomada / Governo de Goiás) e patrocínio da Nutra – Nutrição Avançada.

E, como o artista é inquieto, já está em fase de produção de outros quatro álbuns inéditos: Natureza, Herança, Quilombo e Migrante.

Vem muito samba por aí...

Entrevista com Fernando Boi

Liras da Liberdade – Como podemos definir o Fernando Faustino: um advogado que canta, um cantor que advoga ou um mestre de jiu-jitsu que faz música?

Fernando Boi – A definição restringe e limita muito qualquer ser humano. Esses padrões impostos pela sociedade tolhem, muitas vezes, a capacidade de realização de cada um. Todas essas atividades são essenciais e prazerosas para mim. Não me imagino longe da advocacia, do esporte, da música e da convivência com amigos músicos. Então, poderia me definir como alguém que não precisa ser definido, mas que se propõe a fazer tudo isso com prazer e dedicação.

Liras – De onde veio a alcunha “Boi”?

Boi – Ganhei esse apelido na infância. Eu era forte, praticava lutas, e um amigo disse em voz alta na academia: “Esse menino é um Boi!”. Eu reclamei — “Que Boi o quê?” — e todos caíram na risada. Como fiquei bravo, o apelido pegou. Depois, aceitei.

Liras – Você já foi campeão mundial de jiu-jitsu duas vezes. Onde se sente mais à vontade: no palco ou no tatame?

Boi – Ambos. Conquistei tudo o que me propus no tatame e hoje ensino com prazer. Mas também amo a música. Preciso dela. Sinto energia ao tocar e cantar. Então me sinto à vontade nos dois espaços: o palco e o tatame são igualmente especiais.

Liras – Como concilia suas atividades? Quantas horas tem seu dia? (risos)

Boi – São atividades diferentes, inclusive no horário. A música pode surgir em qualquer lugar — até no tatame ou no tribunal. Às vezes uma melodia vem, eu registro para não perder. Faço tudo com muito amor. E acho que o segredo está aí.

Liras – Como é ser sambista em uma terra onde o sertanejo predomina?

Boi – É um exercício de resistência. Não tenho preconceito com gênero musical nenhum. Ouço de tudo. Mas o samba é o que mais me toca. Ser sambista em uma terra sertaneja é difícil, por falta de espaços e fomento. Mas sigo firme.

Liras – Qual a conexão entre arte e esporte?

Boi – A arte marcial também é arte — está no nome. E o esporte, como um todo, amplia nossas potencialidades. Ajuda na sanidade, fortalece corpo e mente. Para mim, arte e esporte se complementam. Preciso muito dos dois.

Liras – Como você imagina o futuro do samba em Goiás?

Boi – Vejo com muito otimismo. O samba cresceu bastante. Há muita gente boa surgindo, bares e eventos abrindo espaço. A juventude se envolve, o pagode também cresce. Acredito em um futuro brilhante para o samba feito em Goiás.

OUÇA 🎵

Ouça o álbum Batuques & Amores na sua plataforma de streaming preferida

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