Sumário
Não cabe a mim nem a ninguém louvar Batista Custódio. Não estamos à sua altura. Quem o fará é a história, formada por um amalgama filtrada pelo tempo e em que não entram a mentira ou os elogios fáceis. Podemos, isso sim, agradecer-lhe, pois sua presença entre nós (chegou de Caiapônia no ano de 1952) nos enriqueceu de sapiência e humanismo. O jornalismo foi a sua trincheira, mas sua obra se estendeu por todos os segmentos da vida humana.
Economicamente falando, Batista não poderia ser um fracasso maior, por convicção própria. A começar da herança monetariamente vultosa de que abriu mão. Seu pai era um sujeito de milionárias posses. Com certeza, sabe-se hoje, se tivesse acatado o destino brando da sagrada herança dos pais Batista seria dos mais ricos de Goiás, mas não seria o Batista. Ao deixar de seguir os passos fáceis do fraterno pai uma outra estrada se lhe abriu. E esta vai dar na eternidade.
Depois de lutas ferrenhas e muitos avanços na trilha dos diamantes brutos que escolheu, tendo como pedras firmes os jornais Cinco de Março e Diário da Manhã, Batista Custódio foi reconhecido na década de 1980 entre os 3 mais importantes publishers do Brasil. Foi quando enfrentou com desvantagem o revanchismo miúdo e a perseguição da caneta preta do poder local, que o fechou. Foi o tempo do Edição Extra, que mesmo assim fazia tremer seus adversários.
Ao reabrir o Diário da Manhã, Batista não podia ser o dono, pois seu CPF ficaria maculado como falido durante 25 anos, para ser finalmente alforriado em 2017. Todavia, ele nunca foi condenado pelos artigos vibrantes, pelas ideias surpreendentes e pela coragem de expô-las. Ninguém bateu de frente com ele. Sucumbiu momentaneamente pelas “artimanhas dos poderosos”, que lhe foram muitas e todas elas rasteiras, como ele mesmo denunciava.
Seus artigos nos chegavam como taboa de Moisés, merecem estar escritos na pedra. Demonstram em um coerente pano de fundo como Goiás tem uma história de peso e pede que seus protagonistas ergam a cabeça para caminhar do contemporâneo à posteridade. Cada ponto lhe era uma chaga. E enquanto viveu lhe era exigido que continuasse.
Em 2019 ele saiu da redação do DM sem olhar para trás, agora por escolha própria, pois recebera mensagem em nome de seu filho Fábio Nasser que se preparasse para publicar o semanário Liras da Liberdade. Seria algo inédito no mundo, como fora o DM com seu singular caderno de Opinião Pública, aberto a toda a população.
A ser lançado no céu, que as “Liras” do Batista nos iluminem e que sua tão desejada “Liberdade” abra as asas sobre nós.
Px Silveira, produtor cultural, presidente do Instituto ArteCidadania e coordenador do livro A Força da Frase, de Batista Custódio