Abstenções em massa, resultados impressionantes dos partidos de extrema-direita, manipulações nas redes sociais... Já não se conta mais o número de golpes desferidos contra as democracias, esses regimes antigos cada vez mais enfraquecidos e desamparados diante de seus rivais autoritários, tidos como fortes e eficazes. Como elas podem resistir? Essa é a pergunta que inquieta a historiadora Perrine Simon-Nahum, que, em Sagesse du politique. Le devenir des démocraties (Sabedoria do político. O futuro das democracias, publicado pela editora L’Observatoire, 2023), assumiu a missão de mostrar que aquilo que tomamos como fraquezas das democracias são, na verdade, suas forças... e de fazer um apelo a certa indulgência diante desses regimes dos quais exigimos demais.

1) A senhora explica que uma das razões para o apelo ao autoritarismo é a desvalorização da democracia. O que quer dizer com isso?
Para responder, é preciso voltar ao Relatório Beveridge e à definição que este oferece, em 1942, do Estado de bem-estar social. Naquele momento, impõe-se a ideia de que as democracias devem oferecer aos cidadãos não apenas a promessa de uma liberdade política, mas também a ideia de um futuro assegurado pelo bem-estar econômico e social.