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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

Divas do Jazz: Cláudia Vieira confirma que uma voz pode ter cor

Na última sexta-feira, em um espetáculo no Sesc-GO, Cláudia Vieira & Banda homenagearam Billie, Dinah, Ella, Hunter e Nina, com emoção, técnica e alma. Um mergulho em sons, ancestralidade e aplausos merecidos

Cláudia Vieira nasceu em Goiânia. Formada em Psicologia, por três anos e meio, lecionou na Universidade Católica de Goiás - UCG. Na infância ainda, aconteceu seu primeiro contato com a música, por meio de seu pai, o Goia, que é cantor e exerceu grande influência na formação do seu gosto musical.

Sim, a voz tem cor: hoje ela foi preta!

Em uma sexta-feira 13 do mês de junho de 2025, na qual ‘pipocam’ festas juninas pela cidade, o Sesc-GO, reafirmando seu compromisso em ser um ‘Fazedor de Cultura’ e formador de público, abre espaço para o jazz em seu aconchegante teatro, localizado no Centro da Cidade.

As pessoas vão chegando mansamente ao som (ainda ambiente) de That Coffee e tomam seus lugares. Em seus rostos, refletem-se as expectativas de deleitarem-se com um espetáculo possivelmente arrebatador, apaixonante como o tema abordado pela artista suscita.

De uma senhora que adentra ao espaço, pude ouvir um “hoje promete”, frase que traduz o sentimento coletivo que paira no ar.

Aos poucos, as cadeiras vão sendo tomadas e o ambiente vai se enchendo, tanto de pessoas quanto de emoções.

As divas pretas do jazz, hoje, serão reverenciadas pela voz quente de Cláudia, acompanhada de uma banda musicalmente muito competente, começando pelo esposo da estrela, o percussionista e produtor executivo Sérgio Pato; o tecladista e arranjador Willian Cândido; o contrabaixista e diretor musical Nonato Mendes; o baterista Jader Gomes; e o jovem saxofonista Davi Barbosa.

Com uma ótima pronúncia na língua inglesa, a artista combina intimidade com o tema e reverência na medida certa para com as iluminadas e inesquecíveis Billie, Dinah, Ella, Hunter e Nina, sem perder sua identidade. Fazendo soar o som na medida certa, transporta a embevecida plateia ao clima dos jazz clubs nova-iorquinos das décadas de 30 e 40, em uma envolvente atmosfera que mistura o som — muito bem equilibrado pelo super craque Paulo Celestino, o Paulinho do Up Music (sonho de consumo de 11 em cada 10 artistas…) — com a luz envolvente de Thales, que emoldura a beleza cênica do espetáculo. Tudo isso com o luxuoso apoio de Maurinho.

Em Fly Me to the Moon, um sensível e afinado diálogo da cantora com o baixo de Nonato fala fundo à alma da plateia, da qual não se ouve nem a respiração, apenas um caloroso e justificado aplauso ao fim da canção.

A ausência de Maria Eugênia, dada a sua exaustão vocal em decorrência de sua movimentada agenda de shows, foi justificada e compensada com uma interpretação lindíssima de Mercedes Benz (eternizada por Joplin), com um solo carregado de jazz pelo teclado de Willian Cândido.

A cantora brinca com a voz (devidamente preparada e aquecida antes do show pela vocal coach Evelyn Ferreira, por videochamada) e passeia entre graves, médios e agudos, justificando cada ingresso comprado para ouvi-la.

Elegantemente vestida de preto, para combinar com o clima do show e com sua ancestralidade, a nossa diva esbanja simpatia e seduz o público com uma mistura bem temperada de repertório, arranjos, interpretação e presença de palco.

In other words: Cláudia Vieira vale cada minuto da atenção da plateia: “What a difference you make”, honey!

Viva o jazz!
Viva a cena da boa música de Goiás!
Viva Cláudia Vieira!

João Marcello é jornalista, cantor, compositor, entusiasta da boa música e colaborador do Liras da Liberdade.

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