O Brasil registrou um avanço expressivo na média de patrimônio individual em 2024, com crescimento real superior a 5%, segundo o Global Wealth Report 2025, divulgado nesta quinta-feira (20) pelo banco suíço UBS. No entanto, o país também se mantém no topo do ranking global de desigualdade de riqueza, com um preocupante Índice de Gini de 0,82, o mais alto entre os 56 mercados analisados.
O relatório, considerado uma das maiores referências internacionais sobre distribuição de riqueza, analisou dados de 56 países que, juntos, representam mais de 92% da riqueza mundial. O Brasil aparece ao lado da África do Sul e da Índia como um dos países com maior concentração de patrimônio nas mãos de poucos.
Crescimento acima da média
Em meio a um cenário de recuperação global iniciado em 2023, o Brasil mostrou desempenho melhor que boa parte dos mercados emergentes. A média de crescimento real do patrimônio por adulto no país superou os 5%, colocando o Brasil ao lado de Portugal, Taiwan e da própria China continental na faixa de crescimento entre 5% e 7%.
Esse avanço posiciona o Brasil como um dos poucos países da América Latina com crescimento real positivo na média individual. México, por exemplo, registrou retração em termos médios, com uma queda superior a 18% no patrimônio médio por adulto entre 2020 e 2024.
Um retrato da desigualdade
Apesar do avanço médio, os dados sobre a distribuição da riqueza revelam um cenário de extrema desigualdade. Segundo o relatório, o Índice de Gini do Brasil atingiu 0,82 em 2024, a maior marca entre todos os países analisados, empatado com a África do Sul.
Em comparação, países como Alemanha e França têm índice abaixo de 0,65, e a Eslováquia, o mais igualitário da amostra, possui Gini de 0,38.
A desigualdade brasileira significa que uma pequena elite detém a maior parte do patrimônio nacional, enquanto a grande maioria da população permanece com níveis muito baixos de riqueza acumulada.
Brasil entre os que mais geraram novos milionários na região
Outro destaque é o aumento no número de milionários em dólares norte-americanos. O Brasil terminou 2024 com cerca de 433 mil milionários, o maior número da América Latina, à frente de México, Chile e Argentina. Esse número representa um crescimento de aproximadamente 1,2% em relação ao ano anterior, mesmo com o cenário macroeconômico desafiador.
Comparativo Global: quem lidera a riqueza no mundo?
O relatório também traz um panorama mundial. Os Estados Unidos seguem como a maior potência de riqueza global, com mais de 23,8 milhões de milionários, o que representa quase 40% de todos os milionários do mundo.
Na China continental, o número de milionários ultrapassa os 2,8 milhões, enquanto França, Japão, Alemanha e Reino Unido aparecem na sequência do ranking global.
No que diz respeito ao patrimônio médio por adulto, os líderes globais são:
- Suíça: US$ 687 mil
- Estados Unidos: US$ 620 mil
- Hong Kong: US$ 601 mil
- Luxemburgo: US$ 566 mil
- Austrália: US$ 516 mil
Por outro lado, o Brasil segue abaixo da média global, com patrimônio médio por adulto inferior a US$ 50 mil, embora o relatório não tenha divulgado o número exato para o país.
Emergentes: crescimento, mas sem mudança estrutural
A participação dos mercados emergentes na riqueza global permanece estável em torno de 30%, índice praticamente inalterado desde 2017. O UBS projeta que esse cenário de estabilidade deve se manter pelos próximos cinco anos, refletindo o fim da fase de crescimento acelerado em muitos países emergentes.
Entre os emergentes analisados, o Brasil acompanha a tendência de crescimento, mas enfrenta limitações estruturais como baixa poupança interna, restrito acesso ao mercado financeiro e elevada concentração de renda.
Perspectivas para o Brasil
Para os próximos anos, o UBS projeta que a América do Norte e a China continuarão sendo os principais motores do crescimento global da riqueza. O Brasil, apesar de registrar melhorias pontuais, terá que enfrentar o desafio de reduzir a desigualdade se quiser transformar crescimento em desenvolvimento de base mais ampla.
Em um mundo onde, segundo o relatório, mais de cinco milhões de pessoas devem se tornar milionárias até 2029, o desafio brasileiro será garantir que mais cidadãos possam acessar oportunidades reais de acumulação de patrimônio.
📊 O que é o Índice de Gini?
O Índice de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição de renda ou riqueza de um país. O nome Gini vem do sobrenome do seu criador: o estatístico italiano Corrado Gini, que desenvolveu o índice em 1912, em seu trabalho sobre distribuição de renda e desigualdade social.
- Valor mínimo: zero → Significa igualdade total (todos têm o mesmo patrimônio ou renda).
- Valor máximo: um → Significa desigualdade total (uma única pessoa detém toda a riqueza).
👉 E o Brasil?
No quesito distribuição de riqueza, o Brasil atingiu em 2024 um Índice de Gini de 0,82, o pior nível de desigualdade entre os 56 países analisados no relatório do UBS.
📌 Para comparar:
País | Índice de Gini (2024) |
---|---|
Brasil | 0,82 |
África do Sul | 0,82 |
Índia | 0,42 |
Alemanha | 0,30 |
França | 0,34 |
Eslováquia (mais igual) | 0,38 |
💡 Por que isso importa?
Quanto mais alto o Coeficiente de Gini (nome técnico), maior a concentração de patrimônio nas mãos de poucos — e mais distante a maioria da população está das oportunidades de acumulação de riqueza.
Ranking dos 25 países com mais milionários no mundo.
- Estados Unidos: 23,831 milhões
- China continental: 6,327 milhões
- França: 2,897 milhões
- Japão: 2,732 milhões
- Alemanha: 2,675 milhões
- Reino Unido: 2,624 milhões
- Canadá: 2,098 milhões
- Austrália: 1,904 milhões
- Itália: 1,344 milhões
- Coreia do Sul: 1,301 milhões
- Países Baixos: 1,267 milhões
- Espanha: 1,202 milhões
- Suíça: 1,119 milhões
- Índia: 917 mil
- Taiwan: 759 mil
- Hong Kong (RAE): 647 mil
- Bélgica: 549 mil
- Suécia: 490 mil
- Brasil: 433 mil
- Rússia: 426 mil
- México: 399 mil
- Dinamarca: 376 mil
- Noruega: 348 mil
- Arábia Saudita: 339 mil
- Singapura: 331 mil
Fonte: Global Wealth Report 2025 – UBS Global Wealth Management.