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INFLUÊNCIA INTELIGENTE TODO DIA

A maior dimensão de um Batista Custódio multidimensional

Primeiro ano sem o gênio. Batista Custódio deixou um legado que transcende o tempo e o espaço. Suas lutas pela liberdade e pela justiça marcaram a história de Goiás. Com amor e coragem, construiu pontes entre ideais e corações. Conheça a dimensão moral e humana de um gigante que inspirou gerações

Batista Custódio, na redação do jornal Diário da Manhã, em 8 de janeiro de 2015. (Foto: Patrícia Neves)

Sumário

Completa-se um ano desde que o jornalista Batista Custódio libertou-se deste plano para ir colher, no Céu, os frutos de uma vida fantástica. Neste espírito indomável, que ele fora, encontramos uma pluralidade de virtudes. No trabalho rotineiro, nas lutas inéditas, no meio ambiente ameaçado, na vida política conturbada, no convívio social diplomático, no debruçado à máquina de escrever genialíssimo… A História tem a missão obrigatória de conseguir fazer o cosmoreferenciamento das grandezas desta figura que trouxe brilho singular a Goiás.

Podemos elencar que, aos 24 anos, ele fez circular a primeira edição do jornal Cinco de Março, que delimitou a história do jornalismo em nosso Estado em antes e depois do CM. Os políticos corruptos viviam aterrorizados, e até os cabeças da Revolução de 31 tentaram arrancar-lhe a cabeça; felizmente, só conseguiram levá-lo para o cárcere.

Mesmo assim, ele não odiou seus perseguidores.

Podemos elencar que, aos 45 anos, em 1980, ele funda o jornal Diário da Manhã. Após intensa perseguição política, vinda do líder público que foi o padrinho do seu filho Fábio Nasser, o jovem Diário da Manhã, que nasceu enorme, é declarado falido em 1984. E, ainda sob os escombros da asfixia econômica imposta, conseguiu reabrir, dois anos depois do duro golpe, o novo Diário da Manhã, para se consolidar até os dias de hoje. Uma montanha-russa econômica, um vulcão de jornalismo pleno, lutas ambientais, lutas bairristas e um tornado de batalhas políticas.

Mesmo assim, ele nunca feriu ninguém que lhe havia ferido, nem mesmo as feridas de morte. Que nunca o derrubaram.

Entretanto, caro leitor, faz um ano exato que Batista se foi. Ele criou-me desde meu primeiro ano de vida. Conduziu-me aos livros e eu consumi toda a sua cartilha e tornei-me gente, sempre amparado à sombra desta aroeira imensa e imorredoura de grandezas únicas.

Reúno, portanto, meu coração neste momento, apanhando cacos de memórias e obtusas saudades de Batista Custódio, meu pai espiritual, irmão e companheiro de batalhas. Certamente ele condenaria meu saudosismo e estimularia-me a olhar para o Mais Alto; afinal, ele ensinou: “Cabisbaixarmos? Jamais!”.

O titã histórico das letras, o gladiador das vitórias extremas, o “redemoinho da imprensa”, o vulcão das liberdades… Seja qual for o nome que a ele forem atribuídos, e foram muitos, existe uma alcunha que mais intimamente me comove, e que fui testemunha durante meus 38 anos ao seu lado: — Batista Custódio, o irmão de Cristo.

Floresci em minha vida regado pelos exemplos de amor que ele dedicara à minha mãe e aos outros que lhe apareciam, às multidões, em sua vida. Vou narrar-vos uma pequena estória, que agora vira História.

Certa feita, viajávamos Batista, minha mãe e eu, no antigo Volkswagen Voyage argentino, quatro portas, motor 1.8 aspirado. Batista utilizou-o por quase 15 anos, e depois passou a ser o meu carro. Nosso destino, então naquele dia, era a Fazenda do Encantado (hoje: APA do Encantado), no município de Baliza.

Com os vidros abertos e os ventos de Bom Jardim de Goiás já bafejando-nos a face, com as púrpuras dos jardins centrais da avenida principal, Batista freia bruscamente o carro. Eu, criancinha, achei estranho. Sentado ao banco de trás, ele e minha mãe à frente, vejo-o colocando o corpo para fora da janela do motorista e esticando o braço.

Quando ele volta, está segurando um vultuoso exemplar de uma flor de hibisco vermelho-rosado. Encantou-se por aquele cálice de perfume pendurado e o tirou da natureza para dá-lo à minha mãe. Sem ele saber, também plantou em mim um exemplo vivo de amor, entre os muitos que me deu, e que nunca irei esquecer.
Minha mãe, Batista e eu. Dia 8 de agosto de 2020, no escritório do bom jornalista, bom pai e bom esposo. (Crédito: Acervo Pessoal / Arthur da Paz)

Outra vez, quando eu tinha cerca de 12 anos, chamou-me na rede em que descansava, na casa que fica na sede do Encantado, e disse-me que o assunto era seríssimo. “Meu filho, vou te fazer uma pergunta e preciso que você pense para responder”. Meus olhos arregalados denunciaram o espanto do menino que eu era. E continuou: “Você quer que eu te treine para ser governador de Goiás? Pense bem…”.

Aquela pergunta caiu na minha alma como uma rocha que se descola do alto da montanha e, em queda livre, espatifa estrondosamente o silêncio do deserto calmo em que meus pensamentos estavam. Pensei, pensei… “Eu prefiro não”, disse eu, que nunca dizia “não” para ele. E Batista, compreendendo intimamente a gravidade da proposta, aceitou minha negativa. Graças a Deus!, eu não topei. Pois muitos dos governadores que ele conseguiu alçar ao poder feriram-lhe na distância, na traição e na indiferença ao amigo.

Essa, talvez sábia, decisão fez de mim jornalista. Lutei os últimos 20 anos de vida dele, ao seu lado. Conquistei um estilo literário semelhante ao dele, pude aprender com o leão a rugir para defender as liberdades. Fundei o jornal que ele sonhava, Liras da Liberdade, em sua homenagem. E agora, invariavelmente, tornei-me um zelador de sua memória, caríssima para nós e para a História goiana.

Tenho 8.000 laudas para digitalizar do livro Saga Sonho, que ele redigiu durante anos, mas não pôde editar, pois morreu tentando salvar o jornal Diário da Manhã de uma nova falência. Tenho centenas de psicografias, cartas endereçadas a ele, e que serão publicadas em ordem cronológica, em formato de livro. Reuni todos os artigos dele, escritos no Cinco de Março, e irei publicá-los em vários volumes, pois a obra dele é gigantesca. Poemas, crônicas, entrevistas, tudo o que se espera de um gênio escritor, erudito e profundo conhecedor da biografia humana. Isso, sem contar ainda os artigos e editoriais publicados no jornal Diário da Manhã, que ainda carecem de organização e catalogação.

Então, Batista Custódio está vivíssimo e estará para sempre. A sua defesa ao altruísmo humanista, a sua luta pela pluralidade religiosa, as suas propostas para que haja harmonia e cooperação política entre adversários e os seus gigantescos esforços em abrir os olhos da sociedade para entender que a vida não cessa no túmulo… tudo isso, e todas as lutas subsequentes destas enormes pautas que ele identificou, tudo isso ficará ainda maior com a publicação destes livros.

Lutas hercúleas pavimentaram a vida de Batista, e no seu avançar nestas avenidas de sonhos, ele plantou rosas e ideais no coração de todos os que puderam estar com ele. Como se vê, Batista Custódio é um ser multidimensional.

Contudo, perante todos os domínios de excelência que ele esbanjou no caráter retilíneo, a maior dimensão de Batista Custódio é a dimensão de sua moral. Nunca desviou um milímetro sequer do caminho que lhe fora proposto por Jesus. Lutou até o último momento para não partir com a alma maculada pelos problemas da Terra. E amou tão intensamente a vida e as pessoas da vida que perdoara os golpes graves que recebera, como se nunca eles o houvessem atingido.

Batista Custódio movimentou gente na Terra e gente no Céu. Chico Xavier e uma quasidezena de médiuns lhe procuraram durante a vida para dar-lhe os recados da Espiritualidade Superior. Um privilégio para Goiás, contar entre os seus grandes vultos a figura do jornalista Batista Custódio.

A figura do homem bom, da pessoa caridosa e do gigante energético, que fez revolução no jornalismo e no peito de todos nós, privilegiados por conviver com ele, essa figura ficará para sempre entre as legendas que a história brasileira precisará, inexoravelmente, contar, se a História quiser ser completa.

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