Augusto Moreira é um artista goiano ímpar. Sua arte é forte, inteligente e erudita. Seu traço, denso e característico, imprime personalidade e vigor. As feições dos seres mitológicos — e não mitológicos — em suas obras são marcantes e intensas. Destaco, aqui, o uso da mitologia (ainda que, por vezes, ele não a utilize diretamente) por se tratar de temática central em seu trabalho: há um envolvimento arquetípico com imagens simbólicas, especialmente clássicas, como forma de fundamentar-se profundamente em termos de conteúdo e representação.
O artista demonstra um mergulho profuso no mundo egípcio e greco-romano, mas também transita por outras temáticas, como ideias do cristianismo místico, de teor oriental ou latino. Sua figurabilidade tampouco desconsidera o aspecto sensualístico: os corpos se revelam bem apresentados nos vigores de suas belezas, nos delineamentos das musculaturas, nas afirmatividades e altivezes dos seios... Trata-se de arte viva, com rosto em movimento, assentimento de poder e erotismo.
O marcante traço de Augusto reluz ampla cultura e estabelece uma relação densa e rica com o passado essencial, pagão e telúrico da humanidade. A intensidade de seu estilo combina erudição e corporeidade — entre a Esfinge e Orfeu, entre a Fênix e Ísis... ou Hathor.
Admirar sua arte é deixar-se tomar pelas belezas dos caminhos clássicos, mas também pelos ardores de florestas bárbaras, por pinceladas de cultura cristã e, ainda, por um sopro genuinamente brasileiro.
Fala-se de um artista original e corajoso. Estudioso da arte e da vida. Um deleite aos olhos, à memória coletiva, ao bom gosto — muitíssimo bem cultivado.