A cena escolhida a dedo, publicada de forma vil nas redes sociais, tentava reduzir a grandeza de uma magistrada a um fragmento de descontração humana. A juíza de Direito Mônica Miranda, em uma audiência de custódia carregada de tensão, ousou sorrir. Ousou usar o humor – a chave que, como disse o Papa Francisco, abre o coração humano – para suavizar a violência que se arrastava para dentro da sala. E por este gesto, foi alvo de uma campanha rasteira.
O coronel Edson Raiado e a capitã Waleska Faria, ambos da Polícia Militar de Goiás (PMGO), vazaram nas redes um corte descontextualizado, na tentativa de transformar humanidade em deboche. O vídeo não mostrava os hematomas nos réus, nem os dois relatórios médicos contraditórios, nem a mãe desesperada com um bebê no colo, presenciando a invasão de sua casa por policiais armados. Não mostrou a coragem da juíza ao encaminhar o caso à Corregedoria da PM, para que fossem investigados os abusos cometidos. Não, o que circulou foi apenas a gargalhada cordial, para que, de forma rasteira, se tentasse manchar sua postura firme.
Estamos diante de uma manipulação que tem cheiro de vingança. O momento político, deste Brasil arrastado pelo que há de pior no militaresco, contaminou parte das forças policiais com um ódio cego, que desrespeita as instituições e ataca, pela retaguarda, aqueles que ousam cobrar responsabilidade. Militares íntegros, que são a maioria, restam respingados pela poça de lama das posturas mal-intentas de seus pares adoecidos pela grave patologia do sectarismo político-ideológico. Assim, em vez de prestarem contas pelas agressões e invasões registradas em vídeo, alguns policiais, que se sentiram parte da diligência direta ou indiretamente, preferiram lançar sobre a juíza uma cortina de fumaça, para escaparem, eles mesmos, pela sombra dos seus supostos erros.
O nome disso é má-fé. E o alvo é claro: a tentativa de desmoralizar a Justiça por sua coragem em tocar onde dói – na ferida da violência policial.
Mas os que conhecem Mônica Miranda sabem que não é um riso que a define. É sua firmeza. Foi ela quem homologou a prisão em flagrante, quem reconheceu a gravidade do crime, quem determinou a liberdade provisória com medidas cautelares diversas da prisão, equilibrando lei e humanidade ao acolher o parecer do Ministério Público aclareado pelo promotor de justiça Francisco José Cruz Araújo. Foi ela quem enxergou que a possibilidade de abuso de autoridade não compactua com a Justiça.
Que fique claro: não há contradição entre firmeza e humanidade. O Judiciário não se apequena quando sorri. Ao contrário, cresce. A Justiça que ignora a dor, que se veste apenas de frieza, torna-se tirânica. Já a Justiça que se lembra de que julga seres humanos, e não apenas papéis, é a que verdadeiramente cumpre sua missão.
Por tudo isso, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) deve uma medalha de honra à juíza Mônica Miranda. O que vimos não foi “risada” no sentido vulgar da palavra. Foi a coragem de ser humana em meio a barbárie. Foi a marca de quem, mesmo sob ataques misóginos – afinal de contas, “moça educada, ninguém leva a sério”, – não abandonou sua autenticidade.
Na tradição do jornalismo que aprendi com a legenda de Batista Custódio, ele sempre ensinou-me: a história não pode ser escrita pelos covardes que atacam pelas costas, mas deve ser erguida pelos heróis que, escaldados na exaustão das lidas, sustentam, de pé!, a sua dignidade.
E Mônica Miranda é uma dessas heroínas.